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Manejo

Benefícios do aumento da frequência de ordenha no início da lactação

Benefícios do aumento da frequência de ordenha no início da lactação

Juliana Aparecida Mello Lima - Doutoranda na Escola de Veterinária da UFMG

Sandra Gesteira Coelho - Profa. da Escola de Veterinária da UFMG

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A produção e a composição do leite podem ser alteradas pelo aumento ou diminuição do número diário de ordenhas. Tradicionalmente, o aumento da frequência de ordenhas tem sido empregado nas propriedades leiteiras ao longo de toda a lactação, tanto em animais da raça Holandesa, quanto em mestiços com variada composição genética.

 

Maior produção de leite

Uma análise completa de diversos trabalhos de pesquisa sobre o assunto, utilizando vacas da raça Holandesa com alta produção de leite, demonstrou ampla variação dos resultados. Em geral, a resposta para a mudança, de duas para três ordenhas diárias, é estimada em 3,5 kg de leite/vaca/dia, enquanto que, de duas para quatro ordenhas, a resposta média é de 4,9 kg/vaca/dia. Por outro lado, a redução na frequência de ordenhas, de duas para uma, diminuiu a produção de leite em 6,2 kg de leite/vaca/dia. Nestes estudos, os percentuais de gordura e proteína tenderam à redução, enquanto que as quantidades totais (kg) dos mesmos aumentaram com o maior número de ordenhas, em função do maior volume de leite produzido. Assim como em vacas da raça Holandesa, também foi observado aumento na produção total de leite, da ordem de 24,5% (700 kg), em vacas mestiças F1 Holandês X Zebu submetidas a duas ordenhas diárias em relação àquelas submetidas a uma única ordenha.

 

Quando aumentar a freqüência e por quanto tempo?

O aumento da freqüência de ordenhas apresenta claros efeitos positivos sobre a produção de leite. No entanto, alguns pesquisadores constataram que o período da lactação em que se executa esse procedimento pode influenciar a resposta. Durante o meio e final da lactação, orde-nhas mais frequentes aumentam a produção de leite, no entanto, a interrupção dessa prática resulta em imediata diminuição na produção, com retorno aos valores pré-procedimento. Por outro lado, estudos recentes de-monstraram que a maior frequência de ordenha no início da lactação, com subsequente redução após 21, 28, ou 42 dias, resultou em aumento na produção de leite e na persistência de produção (Tabela 1).  Nesses casos, o manejo consiste em separar os animais em início de lactação, de forma que sejam os primeiros a serem ordenhados, retornando em seguida para a sala de espera, e voltando a serem ordenhados ao final do procedimento.

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Em um estudo realizado nos EUA, os animais foram distribuídos em três grupos:

1- vacas ordenhadas quatro vezes ao dia a partir do primeiro dia após o parto (AFO1)

2- vacas ordenhadas quatro vezes ao dia a partir do quarto dia após o parto (AFO4)

3- duas ordenhas diárias a partir do primeiro dia da lactação.

As vacas do grupo 1 e 2 voltaram à rotina normal de duas ordenhas diárias aos  22 dias de lactação. As quatro ordenhas foram realizadas sem eqüidistância de horários, sendo os animais de quatro ordenhas os primeiros a serem ordenhados, seguidos dos de duas e, novamente, dos de quatro ordenhas. Observou-se que os animais ordenhados quatro vezes ao dia produziram em média 3 kg de leite/dia a mais que o grupo 3, durante as 44 semanas de avaliação (P<0,05) (Figura 1). Também foi observado que o aumento da frequência de ordenha é igualmente eficaz quando iniciado a partir do primeiro ou do quarto dia da lactação.

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Efeitos semelhantes foram observados em rebanhos que realizavam três ordenhas diárias e passaram a fazer seis ordenhas nos primeiros 21 dias de lactação. É importante ressaltar que esse ganho de produção não se deve apenas ao período em que as vacas foram ordenhadas mais frequentemente, mas ao efeito residual dessa prática ao longo de toda a lactação. Os resultados desse trabalho indicaram que o período necessário para que o aumento de freqüência produza respostas persistentes durante toda lactação, poderia ser de 21 dias. 

 

Resultados produtivos e econômicos

Um estudo financiado pela FAPEMIG e realizado pela Escola de Veterinária da UFMG em parceria com EPAMIG (Felixlândia) avaliou, pela primeira vez em vacas F1 Holandês X Zebu, o efeito de quatro ordenhas diárias nos primeiros 21 dias de lactação, seguido de duas ordenhas diárias, com ou sem a sucção de leite pelo bezerro em um dos tetos. Os parâmetros estudados foram: produção e composição do leite, peso das vacas e dos bezerros, ganhos de peso dos bezerros, e características reprodutivas, além da relação custo/benefício da implantação desse protocolo de ordenha. Cinquenta e três vacas F1 Holandês X Zebu multíparas foram distribuídas em quatro grupos:

2BA - vacas ordenhadas duas vezes ao dia com os bezerros apresentados para o apojo;

2BM - vacas ordenhadas duas vezes ao dia com a sucção de leite pelos bezerros em apenas um teto durante a ordenha;

4BA - vacas ordenhadas quatro vezes ao dia, do 1° ao 21° dia da lactação, com os bezerros apresentados para o apojo;

4BM - vacas ordenhadas quatro vezes ao dia, do 1° ao 21° dia da lactação, com a sucção de leite pelos bezerros em apenas um teto durante a ordenha.

A mamada do bezerro durante a ordenha não influenciou a produção e composição do leite (P>0,05). O aumento da frequência de ordenha nos primeiros 21 dias da lactação promoveu incremento de 2,04 kg de leite/vaca/dia ao logo de toda lactação (P<0,01) e de 17,3% na margem bruta estimada com a venda de leite (Figura 2). O aumento da frequência de ordenhas no início da lactação não afetou os pesos das vacas e dos bezerros, nem o período de serviço e o número de coberturas.

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Apesar dos resultados positivos observados nas pesquisas citadas acima, outros autores fa-lharam ao tentarem reproduzir esses efeitos. Em um rebanho comercial, ordenhado seis vezes ao dia durante sete, 14, ou 21 dias pós-parto, com retorno a três ordenhas diárias após esse período, não foi observado aumento na produção de leite (P>0,05). As porcentagens de proteína e gordura também não diferiram entre os tratamentos. As razões pelas quais os resultados obtidos nesse experimento são diferentes dos obtidos por outros autores podem estar relacionadas ao excessivo tempo gasto fora das instalações durante as ordenhas (em média 6,5 horas por dia), resultando em menor tempo no cocho, pelo grupo de animais ordenhados seis vezes ao dia, em relação a 3,5 h/d gastos pelo grupo ordenhado três vezes. Esse fato pode ter resultado em redução no consumo de alimentos e comprometido a resposta ao aumento da freqüência de ordenhas.

 

Que mecanismos explicam esse efeito?

Diferentes mecanismos têm sido propostos para explicar o efeito residual do aumento da frequência de ordenha no início da lactação sobre a produção de leite. Para alguns autores, a maior produção de leite observada com o aumento da frequência de ordenhas no início da lactação, bem como sua manutenção, está relacionada ao aumento no número de células epiteliais produtoras de leite, resul-tante do balanço positivo entre a proliferação e a taxa de morte celular (apoptose), sendo estes parâmetros provavelmente regulados por mecanismos locais sensíveis ao aumento da frequência de ordenhas. O efeito do aumento na atividade metabólica das células epiteliais produtoras de leite também não pode ser descartado, já que pesquisas têm demonstrado maior atividade de enzimas chaves no processo da síntese do leite como a acetil CoA carboxilase (13,8%), ácido graxo sintase (11,1%), galatosiltransferase (17,1%) e glicose 6 fostato dehidrogenase (31,8%), em animais ordenhados quatro vezes ao dia.

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Como ficam os parâmetros metabólicos?

Poucos estudos têm se concentrado nos efeitos do aumento da frequência de ordenha, no início da lactação, sobre a eficiência reprodutiva das vacas. Por outro lado, os efeitos deste manejo sobre os indicadores do metabolismo energético, como as concentrações plasmáticas de ácidos graxos não esterificados (AGNE) e β-hidroxibutirato (BHBO), bem como escore de condição corporal (ECC) e peso corpóreo, vêm sendo relatados.

Vacas ordenhadas três vezes ao dia, durante as primeiras oito semanas pós-parto, apresentaram as concentrações plasmáticas de BHBO 19% maiores que aquelas ordenhadas duas vezes. Já as concentrações plasmáticas de AGNE não diferiram entre as frequências de ordenhas. Resultados semelhantes foram observados em vacas ordenhadas duas vezes ao dia quando comparadas com outras ordenhadas quatro vezes nos primeiros 21 dias da lactação, e com retorno subseqüente a duas ordenhas. Estes autores observaram que vacas ordenhadas quatro vezes ao dia tenderam a apresentar maiores níveis circulantes de BHBO, mas sem alteração na concentração plasmática de AGNE e na proporção de ocorrência de cetose subclínica.

Estudos relataram que o aumento da frequência de ordenha, de duas para quatro, no início da lactação, não resultou em diferenças de ECC e peso das vacas. Entretanto,  outro estudo mostrou que a prática de seis orde-nhas diárias diminuiu o ECC das vacas em comparação a três ordenhas diárias.

 

Outros benefícios

Além da possibilidade do ganho com aumento de produção, o aumento da frequência de ordenhas, apenas no início da lactação, pode trazer outros benefícios. Há trabalhos que associam essa prática com melhor saúde do úbere, representada por menores CCS (contagem de células somáticas) no leite, porém os resultados ainda são controversos.

Outros possíveis benefícios dessa prática, mais difíceis de serem mensurados e percebidos, incluem a mais rápida adaptação das vacas primíparas à rotina de ordenha. As visitas mais frequentes à sala de ordenha também permitem que as vacas sejam observadas mais vezes ao dia, o que pode facilitar a identificação de problemas sanitários, que podem assim ser resolvidos com mais rapidez.

 

Relação de custo/benefício

Antes da adoção de qualquer nova tecnologia, o produtor deve considerar o custo adicional de sua implementação, bem como a estimativa de retorno financeiro e/ou econômico. No caso do aumento de frequência de ordenhas, mesmo que apenas por algumas semanas, a produção de leite adicional é acompanhada por aumento no custo alimentar e operacional com hora/orde-nha, nos gastos com materiais de ordenha, energia elétrica, manutenção de máquinas, dentre outros. Outros fatores, como o tamanho e a saúde do rebanho e, principalmente, o preço pago pelo leite, também devem ser analisados antes da implementação dessa prática. 

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