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Construindo barreiras na fazenda leiteira

Construindo barreiras na fazenda leiteira

 Texto: Paul R. Biagiotti, D.V.M.

Reforçar as defesas dentro da fazenda é uma forma de proteger seu rebanho contra ameaças externas

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No deserto de Idaho, EUA, normalmente não chove entre os meses de Junho e Setembro. Você deve imaginar, portanto, que nós saudamos as trovoadas, quando surgem. Mas as tempestades trazem uma mistura de bênçãos. Além da umidade, muito necessária, elas também vêm com raios. Consequentemente, os incêndios no verão são um fato da vida. Em anos secos, o material inflamável produzido na estação de plantio anterior pode gerar grande ansiedade, considerando a iminência de um ano ruim, com fumaça, fogo e destruição das pastagens e da propriedade.

Quando um incêndio acontece, muitas vezes a única maneira de conter a rápida disseminação das chamas pelo vento é construir barreiras contra o fogo. Escavadeiras são usadas para cavar e arar, fazendo largas valas de terra desprovidas de material inflamável, na esperança de que o fogo não salte a estrada ou espaços abertos.

 

Prevenindo a tempestade

Os incêndios não são restritos ao deserto ou floresta. Muitos de nós colocamos muita fé nos chamados firewalls virtuais dos nossos computadores, que nos protegem contra softwares maliciosos e ataques cibernéticos. Se nos falta um escudo ou proteção, um vírus pode se instalar em nossos equipamentos eletrônicos e se espalhar como um incêndio digital através de nossos programas.

E em biologia, é claro, nós temos vírus reais, que causam “tempestades” de abortamentos e doenças, como a diarreia de inverno, que pode se espalhar no rebanho, causando perdas significativas se não for controlada. Podemos instalar firewalls de biossegurança (chamaremos de “barreiras protetoras”) nas fazendas leiteiras, que podem ajudar a evitar que viroses, infecções bacterianas e outras ameaças se espalhem como o fogo nas pastagens.

Uma barreira fundamental e de grande importância é a implantação de programas de vacinação. Imunizar o rebanho protege as vacas contra doenças que podem estar no ambiente, como as infecções por clostrídios, entre elas o carbúnculo e o tétano, e também infecções que passam de vaca para vaca e representam uma ameaça tanto individual como para o rebanho, como a IBR e BVD.

Não existe um programa vacinal padrão ou universal. As ameaças de doenças variam de acordo com muitos fatores. Elas podem, em alguns casos, depender da localização geográfica. A raiva, por exemplo, é crescente nos animais selvagens na região em que nasci, ameaçando as populações de bovinos; no entanto, é incomum no alto deserto de Idaho, sendo raramente necessária a vacinação de vacas.

As ameaças também podem ser sazonais; na minha experiência com a Síndrome do Intestino Hemorrágico (HBS, sigla em inglês) - a qual acredita-se ser, pelo menos em parte, causada pelo Clostridium perfringens tipo A – a doença pode se espalhar quando vacas são introduzidas na pastagem na primavera. Portanto, pode ser útil vaciná-las contra C. perfringens tipo A antes de soltá-las.

Seja qual for o espectro de patógenos que ameaça seu rebanho, ele merece um calendário de vacinação único e sob medida, feito com a consultoria de um médico veterinário. As ameaças serão cuidadosamente consideradas de acordo com o histórico de doenças e sua prevalência no rebanho em particular, além de muitas outras variáveis. O calendário que será formulado deverá ser eficiente e efetivo na prevenção ou mitigação de doenças “incêndios”.

 

Crie alguma separação

Uma regra de ouro da biossegurança que funciona como uma “barreira ao fogo”, muito comentada mas raramente praticada, é ter baias para vacas recém-paridas separadas das baias de hospital. É de conhecimento comum, e um fato biológico, que vacas recém-paridas são estressadas e imunossuprimidas. É um estado normal. Ainda, muitos produtores arriscam deixar estas vacas promissoras e frágeis, e toda sua lactação, lado a lado de animais doentes, que podem ser fonte de agentes patogênicos contagiosos.

Usando um hospital humano como analogia, seria como colocar a unidade de terapia neonatal ou de câncer próxima à unidade de doenças infecciosas. Isso seria ridículo, é claro, mas essa é a regra - e não a exceção - em muitos rebanhos leiteiros.

Outra barreira sanitária óbvia nas fazendas leiteiras é isolar e observar animais adquiridos de outros rebanhos, durante algumas semanas a um mês, antes deles serem misturados ao rebanho da fazenda. Este é um outro protocolo de biossegurança muito recomendado, mas pouco praticado. Pra começar, a maioria das fazendas tem limitação de espaço para seu próprio rebanho. Atualmente, deixar um galpão ou curral excluso para o isolamento e quarentena de animais recém-adquiridos é, infelizmente, um luxo.

Você é um sortudo se tiver um galpão, curral ou até mesmo outra fazenda que possa ser usada para isolar e observar novos animais, antes de introduzi-los ao rebanho. Em todo caso, consulte seu médico veterinário e elaborem um protocolo para ter sucesso nesta prática. O processo de isolamento pode envolver também vacinações e testes para doenças potencialmente infecciosas como BVD ou Salmonela Dublin.

A maioria das fazendas possui bezerreiros com casinhas ou baias enfileiradas, geralmente agrupadas por idade. É um fato biológico que bezerras mais velhas, apesar de parecerem perfeitamente saudáveis, estão na verdade espalhando e multiplicando patógenos. Isso faz sentido: elas são mais velhas e tiveram chance de adquirir e incubar várias doenças infecciosas, como coccidiose e salmonelose. A simples prática de alimentar bezerras mais jovens primeiro ajudará a prevenir a disseminação de doenças provenientes das bezerras mais velhas.

Outra prática comum é deixar os bezerros doentes nas suas próprias casinhas. Os responsáveis pelos tratamentos vão de casinha em casinha, tratando as bezerras. Mas a menos que tenham um extremo cuidado, eles acabam carregando vetores de contaminação, como esterco, saliva ou sangue, e também fômites, passando pelas bezerras sadias e, potencialmente, espalhando doenças. Apesar de ser uma tarefa a mais, mover as bezerras doentes para uma área de hospital isolada é o ideal. Lá as bezerras poderão ser tratadas mais eficientemente e, o melhor de tudo, tratadas por último, depois que as bezerras sadias já tiverem sido atendidas.

 

O fator humano

Consultar referências profissionais sobre novas contratações é uma espécie de “barreira protetora” administrativa. “Por que deixaram o último emprego?” é uma questão importante e que muitas vezes é ignorada ou não verificada. Se você não tem tempo ou disposição para fazer isso, peça a um funcionário de confiança para checar as referências de candidatos à contratação.

Outra “barreira protetora” com relação a funcionários é realizar um período de experiência ou estágio, antes da contratação em período integral. Treine novos funcionários e, em seguida, observe-os em suas novas funções para ver se eles têm o “cow sense”, ou seja, se eles entendem as vacas e também se estão se dando bem com os colegas de trabalho.

Reuniões com a equipe de assessoria, os técnicos, fornece ainda outras barreiras de proteção. A revisão regular de métricas importantes, reavaliação das metas e implementação e análise de medidas de controle de qualidade ajudam a detectar pontos críticos. Faça uso da experiência dos profissionais de saúde, gestão e nutrição que visitam sua fazenda regularmente.

Prevenir todos os incêndios é um objetivo louvável, porém impossível. Alguns incêndios florestais começam inesperadamente e de forma muito rápida saem do nosso controle. O serviço florestal tem suas brigadas de incêndio de prontidão para todos os eventos. Da mesma forma, nas fazendas leiteiras, você pode tentar prevenir muitos “incêndios” evitáveis, mas em algum momento algum irá ocorrer. Tente minimizar os danos, colocando algumas “barreiras protetoras” na sua fazenda.

 

* Republicação autorizada da edição de Dezembro 2015 da Hoard’s Dairyman. Copyright by the W.D. Hoard and Sons Company, Fort Atkinson, Wisconsin, USA. 

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