Este site utiliza cookies

Salvamos dados da sua visita para melhorar nossos serviços e personalizar sua experiência. Ao continuar, você concorda com nossa Política de Privacidade, incluindo a política de cookie.

Novo RLI
x
ExitBanner
Animais Jovens, Gestão

Criar ou comprar novilhas leiteiras: o que é mais viável?

Com os custos operacionais efetivos das fases de cria e recria em mãos, o produtor torna-se capaz de comparar a viabilidade financeira entre criar ou adquirir suas novilhas no mercado.

Criar ou comprar novilhas leiteiras: o que é mais viável?

Na atividade leiteira, no que se refere aos custos de produção, a criação de novilhas ocupa o segundo lugar no ranking dos maiores gastos, atrás apenas das despesas com a alimentação das vacas em lactação. Isso ocorre porque a recria é uma fase que, em curto prazo, representa apenas despesas ao produtor, sem gerar tipo algum de receita – o que torna desafiadora a criação das novilhas para reposição. Discussões sobre os temas “idade ao primeiro parto ideal; grau de sangue ou raça ideal; custo de reposição; comprar ou recriar” estão frequentemente presentes nas rodas de conversas ou grupos de WhatsApp de produtores de leite. Pensando em contribuir com a resolução dos desafiadores tópicos que pairam sobre a recria de novilhas, foi realizado um estudo com base nos dados obtidos de 30 fazendas assistidas pelo Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL), localizadas na Zona da Mata Mineira.


Os dados coletados sobre os animais foram categorizados em Aleitamento, Transição, Recria 1, Recria 2, Novilhas em fase reprodutiva e Novilhas prenhes. Em todos as categorias foram avaliados os custos com concentrado, volumoso, mão de obra e sanidade (vacinas, medicamentos, suplementos e vitaminas); no Aleitamento foi incluído o custo com o leite. O tempo de permanência dos animais em cada categoria também foi obtido por meio dos registros das fazendas, bem como a quantidade fornecida de cada insumo. Para o cálculo do custo da mão de obra por animal, o tempo dos colaboradores na cria e na recria foi segregado e depois dividido pelo número de animais.
Após processamento dos dados, os resultados médios do conjunto foram: Idade ao Primeiro Parto (IPP) de 26 meses e custo de R$ 9.197,20, considerando-se apenas os custos variáveis. Se somarmos os custos fixos, o valor chega a R$ 10.576,78. Dentro do mesmo grupo, a IPP oscilou de 22 à 37 meses e, quanto ao custo, a variação foi entre R$ 7.358,63 e R$ 12.498,99 (quase 70%).

Mas, o que explica essa oscilação? Como ser eficiente na reposição das novilhas?


Quanto vale a cria?


Em todas as 30 fazendas, o maior custo na fase de cria foi com o leite, com média de 61% do período total de aleitamento (Gráfico 1). O segundo item que mais onera a fase é a mão de obra, visto que o colaborador responsável precisa fornecer o leite à bezerra e depois higienizar corretamente os equipamentos utilizados no manejo. Já o gasto com concentrado não foi alto (9,08%) devida à baixa quantidade ingerida pelos animais (Gráfico 1). A sanidade foi responsável por 1% do custo operacional efetivo (COE), mesmo sendo dos itens de extrema importância ao desenvolvimento das bezerras. Visto isso, fica claro que os principais pontos de controle são as despesas com mão de obra e leite. No entanto, não devemos cair na “armadilha” de  buscar o custo mínimo e diminuir o volume de leite ofertado, por exemplo, pois isso implicaria em queda de desempenho dos animais. No mesmo estudo, a correlação do COE do aleitamento com a produção de leite corrigida na primeira lactação foi negativa (r = – 0,42), ou seja, se o investimento nessa etapa for reduzido, haverá queda da produtividade animal. Para controlar esses custos, as seguintes alternativas podem ser consideradas: uso de sucedâneo, estabelecimento de procedimento operacional padrão nos manejos, adoção de mecanização, aumento da eficiência (número de animais/ colaborador), entre outras.

 NAS FAZENDAS AVALIADAS, OS MAIORES CUSTOS DA FASE DE CRIA CORRESPONDERAM AO LEITE E À MÃO DE OBRA 




Quanto vale a recria?


Quanto à recria, que compreende o período pós-desaleitamento até o parto, foi observado que as 20 fazendas com maiores IPP (acima de 26 meses) possuíam COE médio diário menor, de R$ 9,96, quando comparado ao das 10 fazendas com menores IPP (menor ou igual a 26 meses; COE de R$ 12,30/ dia). O item mais oneroso na criação das novilhas, a fase pós-aleitamento ao parto, foi a alimentação, com média de 60% (Gráfico 2). Desses, 41,5% foi representado pelo concentrado, devido ao alto valor dos ingredientes comumente utilizados na dieta da categoria (milho e soja), além do elevado número de dias em que os animais permanecem na fase. Na intenção de reduzir as despesas, as seguintes estratégias podem ser adotadas na fase: substituição de alimentos nobres, como milho e farelo de soja, por subprodutos; realização de compras estratégicas dos insumos; aumento da inclusão de forragem, desde que não comprometa o desempenho das novilhas, entre outros. Os volumosos ofertados nas 30 fazendas (silagem de milho, capim in natura, cana-de-açúcar e pasto) representaram o custo médio de 18,5% (Gráfico 2). As fazendas mais eficientes nesse item foram aquelas que usaram fontes de volumosos alternativas à silagem de milho e que produziram o volumoso na própria fazenda.



O segundo item de maior custo na fase de recria foi a mão de obra, com 32,62% do COE (Gráfico 2), justificado pela alta demanda de tempo para ofertar o volumoso nos lotes da categoria. O valor da mão de obra foi estipulado com base no tempo que o funcionário gasta para cortar a forrageira ou retirar o material do silo, seguido do arraçoamento no cocho. Logo, as fazendas que obtiveram menor gasto com mão de obra foram aquelas mais eficientes nessas operações, ou seja, nas quais o colaborador foi capaz de ser responsável por mais animais. No que diz respeito à sanidade dos animais na recria, a média no COE foi de 2%. Sobre isso, é importante destacar que o calendário sanitário deve ser seguido rigorosamente, para que os animais saudáveis expressem todo o seu potencial de desempenho.

O ITEM MAIS ONEROSO NA CRIAÇÃO DAS NOVILHAS, DO PÓSALEITAMENTO AO PARTO, FOI A ALIMENTAÇÃO, COM MÉDIA DE 60%  



O valor da IPP


Na comparação do COE por classe de IPP (Tabela 1), as novilhas com IPP menor que 26 meses (média 23,7 meses) apresentaram custo de R$ 9.536,26, enquanto as novilhas com IPP acima de 26 meses (média de 30 meses) apresentaram custo de R$ 8.224,30. Em posse desses dados sobre os custos e com a avaliação da qualidade dos animais, o produtor torna-se apto a decidir criar ou comprar suas novilhas no mercado.

Ao avaliarmos o COE, notamos a diferença de R$ 1311,96 do nascimento ao parto do animal, no intervalo de aproximadamente seis meses. Se o componente custo for avaliado de forma separada, o produtor pode tomar a decisão errada de almejar um valor de IPP mais alto, porém, quando avalia-se a produção de leite em 305 dias, as fazendas que tiveram IPP abaixo de 26 meses produziram 1301,95 litros de leite a mais na primeira lactação que as outras (Tabela 1 e Gráfico 3). A análise do Gráfico 3 revela que o investimento nas novilhas é compensador por melhorar a resposta animal (maior ganho de peso ponderal, maior produtividade).
 Na sequência da análise da viabilidade de investimento em novilhas mais precoces, é possível inferir: considerando o valor de R$ 2.815/ L de leite, o grupo das fazendas com IPP menor que 26 meses investiu R$ 1.311,96 a mais, porém obteve a renda de R$ 3.664,98, o que lhes conferiu R$ 2.353,02 a mais na primeira lactação, sem contar o tempo a mais de vida produtiva desse animal. Outros benefícios não abordados nesse estudo, mas evidenciados em publicações anteriores, são a melhoria na estrutura do rebanho, a maior produtividade por área e o maior retorno financeiro. Concluímos, portanto, que o principal componente do custo de produção das novilhas é a alimentação e que, para ser eficiente, é preciso reduzir a IPP, pois embora o custo unitário seja maior, o lucro é maximizado nesse ponto.


MARCUS VINICIUS CASTRO MOREIRA - Médico Veterinário e Coordenador Técnico do PDPL 

AMANDA TEIXEIRA FERNANDES - Estudante de Zootecnia (UFV) e estagiária no PDPL  


Tags

Compartilhar:


Comentários

Enviar comentário


Artigos Relacionados