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Manejo, Nutrição, Sanidade

Espécies vegetais tóxicas de interesse para a bovinocultura leiteira

As famigeradas “plantas tóxicas” são todos e quaisquer vegetais que, quando ingeridos em condições naturais, têm potencial para gerar danos à saúde dos animais. Os sinais reconhecidos pelos produtores são popularmente retratados como “intoxicação”.

Espécies vegetais tóxicas de interesse para a bovinocultura leiteira

Afaste as espécies vegetais de caráter tóxico e proteja a saúde do seu rebanho!


As famigeradas “plantas tóxicas” são todos e quaisquer vegetais que, quando ingeridos em condições naturais, têm potencial para gerar danos à saúde dos animais. Os sinais reconhecidos pelos produtores são popularmente retratados como “intoxicação”.

AS PLANTAS SÃO, DE FATO, TÓXICAS?

Sim, algumas são, mas é necessário que o animal ingira quantidade sufi ciente para intoxicar. A produção de substâncias tóxicas é um mecanismo de defesa que algumas plantas lançam para não serem consumidas. Outra possibilidade de intoxicação é por meio da ocorrência de fungos que crescem na planta e produzem toxinas que podem ser ingeridas pelos animais.

POR QUE E QUANDO OS ANIMAIS BUSCAM PLANTAS TÓXICAS?

Palatabilidade 

A palatabilidade de algumas espécies de plantas tóxicas, ou seja, o quanto são “saborosas” ao paladar do animal, permite sua seleção/predileção, de forma a estimular o consumo de alta concentração de compostos tóxicos. Caso os animais tenham acesso a essas espécies palatáveis, a possibilidade de intoxicação é muito maior. Os manejos de poda e de aspersão de agrotóxicos também merecem atenção, uma vez que podem contribuir para que a planta murche e concentre não só o “veneno”, mas também o sabor que as torna mais atrativas aos animais. De forma semelhante, a brotação pode ter o papel de concentrar toxinas e elevar a palatabilidade. Portanto, é importante verificar a presença de brotos após a poda ou após as primeiras chuvas que sucedem o período seco.

Fome

Há quem diga que a fome é o melhor tempero. No caso das plantas tóxicas, a fome é mais um ponto crítico para a ingestão exagerada. A privação de alimento por situações adversas, como períodos de seca, invernos rigorosos, disputa por cocho e transporte por longas distâncias, podem diminuir a seletividade do animal e favorecer o consumo de plantas tóxicas, mesmo aquelas que possuem baixa palatabilidade aos animais. Além disso, é preciso dedicar atenção ao chamado “mecanismo de facilitação social”, quando o animal descobre a possibilidade de ingerir determinada planta tóxica e, por dominância, estimula o consumo por outros animais do rebanho. Todos os pontos mencionados configuram os fatores de risco para a intoxicação por plantas. Limitar os fatores de risco é a melhor estratégia para reduzir a incidência de enfermidades nos rebanhos, porém cada propriedade possui limitações e possibilidades diferentes e, para ampliar a assertividade das medidas de controle, é necessário estabelecer um diagnóstico, ou seja, determinar o grupo de plantas responsável pelos transtornos apresentados pelos animais. Para isso, é necessário reconhecer as plantas com potencial para intoxicação e os sinais clínicos envolvidos nos indivíduos acometidos. 

Todos os pontos mencionados configuram os fatores de risco para a intoxicação por plantas. Limitar os fatores de risco é a melhor estratégia para reduzir a incidência de enfermidades nos rebanhos, porém cada propriedade possui limitações e possibilidades diferentes e, para ampliar a assertividade das medidas de controle, é necessário estabelecer um diagnóstico, ou seja, determinar o grupo de plantas responsável pelos transtornos apresentados pelos animais. Para isso, é necessário reconhecer as plantas com potencial para intoxicação e os sinais clínicos envolvidos nos indivíduos acometidos.

PLANTAS TÓXICAS DE INTERESSE PECUÁRIO 

Samambaia (Pteridium aquilinum) 

A samambaia é uma das plantas mais conhecidas e relevantes, devido à sua distribuição mundial. No Brasil, ocorre principalmente em regiões úmidas e com declives, sendo considerada invasora das pastagens. Em casos de bovinos que ingerem grande quantidade em curto período, é possível haver diátese hemorrágica, quadro que envolve hemorragia generalizada. Nos casos de ingestão moderada por longos períodos (média de seis anos), pode haver a formação de neoplasias, encontradas, principalmente, no esôfago e na bexiga do animal. As neoplasias podem acarretar graves hemorragias e, como consequência, os sinais clínicos: emagrecimento progressivo; mucosas esbranquiçadas; aumento das frequências cardíaca e respiratória; presença de sangue na urina, nos casos de neoplasias na bexiga; dificuldade para deglutir, nas ocorrências de neoplasias que obstruem o esôfago; quadros de timpanismos recorrentes.
 

Foto 1. Samambaia (P. aquilinum), planta tóxica aos bovinos e de ocorrência comum em regiões úmidas e com declives.


RECONHECER AS ESPÉCIES VEGETAIS COM POTENCIAL TÓXICO E OS SINAIS CLÍNICOS PRESENTES NOS INDIVÍDUOS ACOMETIDOS CONFIGURAM AS MELHORES ESTRATÉGIAS PARA LIMITAR A INTOXICAÇÃO DE BOVINOS POR PLANTAS

 Plantas cardiotóxicas 

No grupo das plantas cardiotóxicas, estão as famílias Malpighiceae, Bignoniacea e Rubiaceae. Essa última é particularmente importante, pois engloba as plantas popularmente conhecidas por “cafezinho”, presentes em boa parte do Brasil e responsáveis por sintomas de caráter superagudo e silencioso que determinam a morte rápida dos animais. A intoxicação é decorrente da presença do ácido monofluoracético, o qual interfere diretamente no funcionamento das células cardíacas do bovino. Uma vez que a dose letal é ingerida, o animal pode morrer de forma súbita e sem causa aparente. Comumente, produtores e colaboradores relatam que minutos ou segundos após estimular o animal a se mover, ele se posiciona em decúbito e morre. A intoxicação por plantas desse gênero é mais comum em rebanhos criados a pasto e os sinais clínicos associados ao quadro são desequilíbrio, queda repentina ao chão, tremores musculares e movimentos de pedalagem.

  Foto 2A e 2B. Palicourea spp. (“cafezinho”), da família Rubiaceae, são espécies cardiotóxicas que podem causar morte subida nos bovinos.

O POTENCIAL PARA INTOXICAÇÃO DO “CAFEZINHO” É DECORRENTE DO ÁCIDO MONOFLUORACÉTICO, QUE INTERFERE DIRETAMENTE NO FUNCIONAMENTO DAS CÉLULAS CARDÍACAS DOS BOVINOS 

Mandioca (Manihot spp.) 

Do gênero Manihot spp., a Manihot esculenta, popularmente chamada de mandioca, é a espécie de maior importância, pois é associada à intoxicação dos bovinos que ingerem os tubérculos expostos após a colheita ou durante a fabricação de farinha e outros produtos. Após o consumo, a liberação do princípio tóxico (HCN) na corrente sanguínea gera danos na função respiratória das células. Como consequência, os animais manifestam dificuldade respiratória, tremores musculares, incoordenação, salivação, mucosas cianóticas, dilatação das pupilas, nistagmo, opistótono, movimentos de pedalagem, convulsões e, até mesmo, podem chegar ao óbito. 

Plantas hepatotóxicas 

Plantas que causam lesões hepáticas agudas em herbívoros domésticos constituem um grupo de grande relevância para a pecuária. A insuficiência hepática por elas induzida segue um curso com sinais clínicos, achados de necropsia e achados histopatológicos muito semelhantes. Dessa forma, o conhecimento da distribuição geográfica das espécies e a busca intensiva nos pastos da propriedade podem ajudar a identificar a planta responsável pelo surto e o estabelecimento do diagnóstico.

  As principais plantas tóxicas que causam lesões hepáticas agudas e crônicas em animais de produção no Brasil são: Cestrum parqui (Coerana), Cestrum corymbosum, Cestrum intermedium, Cestrum laevigatum, Xanthium cavanillesii, Vernonia molissima, V. rubricaulis, Sessea brasiliensis, Dodonea viscosa, Trema micranta e Enterolobium contortisiliquum. As taxas de morbidade e mortalidade são variáveis, porém, caso o animal inicie os sinais clínicos, a letalidade é próxima a 100%. Em geral, os surtos são associados à escassez de forragem de boa qualidade. Os sinais clínicos mais comuns associados à hepatotoxidade causada por plantas são anorexia, apatia, desidratação, aumento das frequências cardíaca e respiratória e redução ou parada dos movimentos ruminais. Nos estágios terminais, a evolução clínica é manifestada por convulsões, ranger dos dentes, cegueira e movimentos de pedalagem – sinais neurológicos associados à encefalopatia hepática, a qual ocorre por alterações no ciclo da ureia decorrente da insuficiência hepática.

  Foto 3A e 3B. Cestrum spp, espécies de plantas associadas a lesões hepáticas agudas e crônicas em animais de produção. 


Plantas fotossensibilizantes

As plantas fotossensibilizantes têm grande importância na pecuária brasileira, com destaque para as pastagens formadas por Brachiaria Decumbens, amplamente difundidas pelo país. As forragens desse grupo possuem saponinas estereodais litogênicas, que podem formar cristas no sistema biliar dos animais, prejudicando a conjugação e eliminação da filoeritrina, um produto da metabolização da clorofila das plantas. Em excesso no organismo, a filoeritrina se acumula nos vasos periféricos e, ao entrar em contato com a luz solar, causa dermatite, além de insuficiência hepática nos animais. Edema de barbela, icterícia, inapetência, prurido, extensas lesões na pele (principalmente em regiões de maior contato com a luz solar), acompanhadas de infecções secundárias ou não, são os principais sinais clínicos encontrados nos animais acometidos.

Como superar a relação tóxica? 

A intoxicação dos rebanhos por plantas tóxicas é um desafio histórico e ainda muito frequente. Infelizmente, não há produtos comerciais ou antídotos para o tratamento e a prevenção dos animais acometidos. Visto isso, o controle efetivo das intoxicações nos rebanhos passa por duas etapas cruciais: diagnosticar quais plantas são fatores de risco na propriedade e, a partir disso, traçar estratégias para eliminá-las. Além da busca pelas plantas tóxicas, o reconhecimento dos principais sinais clínicos das intoxicações auxilia no controle do problema. A eliminação das plantas tóxicas não é tarefa fácil. Por esse motivo, disponibilizar alimentos e água de boa qualidade e em quantidades suficientes, principalmente nos períodos secos, é excelente medida para evitar que os bovinos estabeleçam relação e busquem saciar suas necessidades com as espécies vegetais de caráter tóxico.  



GABRIEL VIEIRA SOARES GRADUANDO EM MEDICINA VETERINÁRIA (EV-UFMG) 

GUSTAVO ADOLFO ALMENDARES PALACIOS Graduando em Medicina Veterinária (EV-UFMG) 

GABRIELA ANTEVELI Mestranda em Ciência Animal (EV-UFMG) 

TIAGO FACURY MOREIRA Professor de Clínica de Ruminantes (EV-UFMG)













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