Este site utiliza cookies

Salvamos dados da sua visita para melhorar nossos serviços e personalizar sua experiência. Ao continuar, você concorda com nossa Política de Privacidade, incluindo a política de cookie.

Novo RLI
x
ExitBanner
Clínica do Leite, Qualidade do Leite, Sanidade

Guia completo do pré e pós dipping

Descubra o segredo da saúde do úbere com o guia completo do dipping.

Guia completo do pré e pós dipping

O leite destaca-se como alimento nutritivo, enriquecido de vitaminas e minerais essenciais para o crescimento e desenvolvimento humano. No Brasil, a produção leiteira é pilar da agropecuária, setor vital tanto para o suprimento alimentar quanto para a economia, posicionando o país como o quinto maior produtor mundial com aproximadamente 36 bilhões de litros anuais. Essa atividade, responsável pelo emprego de quase 4 milhões de pessoas, ainda possui vasto potencial de crescimento e aprimoramento, visando aumentar a eficiência e a qualidade da produção leiteira nacional.

A adoção de boas práticas de produção é fundamental para garantir leite de alta qualidade e promover a saúde dos animais. Entre essas práticas, destacam-se a higienização adequada das mãos dos ordenhadores, dos tetos dos animais, das teteiras, dos tanques de resfriamento e do ambiente como um todo. Essas medidas são importantes, considerando a exposição diária dos animais e do leite a diversas fontes de contaminação, que podem levar a infecções, como a mastite, afetando a qualidade do leite produzido.

Por que fazer o pré-dipping e o pós-dipping?

A mastite é uma das principais causas de prejuízos econômicos na pecuária leiteira global ao gerar impacto negativo na quantidade e na qualidade microbiológica do leite, além de custos adicionais com tratamentos e descarte de animais afetados. Em resposta a esse desafio, desenvolveu-se a técnica dipping, que consiste na imersão dos tetos em soluções antissépticas antes e após a ordenha. Essa prática, além de ser simples e econômica, provou ser extremamente eficaz na redução da contaminação e colonização bacteriana no canal do teto, diminuindo em cerca de 50% a incidência de infecções intramamárias.

Adicionalmente, a correta realização do pré-dipping e pós-dipping tem mostrado ser eficaz na redução da contagem de células somáticas (CCS) e da contagem padrão em placas (CPP), indicadores essenciais da qualidade do leite. Por essa razão, a técnica vem sendo crescentemente recomendada por especialistas e adotada por produtores, destacando-se como uma estratégia indispensável para a melhoria contínua da qualidade do leite e da saúde animal.

A CORRETA REALIZAÇÃO DE PRÉ-DIPPING E PÓS-DIPPING TEM MOSTRADO SER EFICAZ NA REDUÇÃO DA CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) E DA CONTAGEM PADRÃO EM PLACAS (CPP), INDICADORES ESSENCIAIS DA QUALIDADE DO LEITE


O dipping é uma técnica que contribui para preservar a qualidade do leite e para fortalecer a saúde do rebanho

Detalhamento da técnica

A técnica dipping, essencial para a manutenção da saúde dos rebanhos leiteiros, divide-se em duas etapas principais: o pré-dipping e o pós-dipping. O pré-dipping ocorre antes da ordenha, seja ela manual, mecânica ou robotizada, com o objetivo de reduzir o número de microrganismos e sujidades presentes nos tetos. Esse processo envolve a imersão dos tetos em solução antisséptica por 30 segundos. Após a imersão, os tetos são cuidadosamente secos com toalha ou papel toalha descartável, dedicados individualmente a cada quarto mamário, permitindo então o início da ordenha. A implementação do pré-dipping diminui significativamente a contaminação microbiana do leite e previne a entrada de bactérias no canal do teto, melhorando a qualidade microbiológica do leite produzido e reduzindo a incidência de mastite por meio da transmissão entre animais.

O pós-dipping é realizado imediatamente após a desacoplação das teteiras ou o término da ordenha manual, submergindo novamente os tetos em solução antisséptica por 30 segundos. Essa etapa tem como finalidade eliminar microrganismos contaminantes provenientes dos equipamentos de ordenha, além de formar uma barreira física protetora ao redor do esfíncter mamário (Figura 1).



Figura 1. Imersão dos tetos em soluções antissépticas utilizadas como dipping

a)Imersão de tetos mamários com clorexidina a 0,35% durante o pré-dipping 

b)Tetos mamários com solução de iodo a 1% utilizado como pós-dipping


Para assegurar a eficácia da técnica dipping na descontaminação e na prevenção de infecções, como a mastite, é fundamental observar as seguintes condições:

  1. Limpeza preliminar: É indispensável a retirada de matéria orgânica dos tetos, realizando lavagem prévia com água limpa, especialmente quando apresentarem sujidades visíveis (como barro ou fezes). Os tetos devem ser meticulosamente secos após a lavagem, antes de proceder com o pré-dipping, evitando-se também molhar o úbere;
  2. Concentraçãodo antisséptico: Utilizar a concentração recomendada do antisséptico é importante para eliminar os microrganismos sem causar irritações ou lesões na pele dos tetos. A aderência às concentrações sugeridas garante a segurança e a efetividade da descontaminação;
  3. Imersão completa dos tetos: Para uma descontaminação efetiva, é essencial que os tetos sejam totalmente imersos na solução desinfetante;
  4. Tempo de contato: O tempo de contato do desinfetante com os tetos deve ser de no mínimo 20 segundos, sendo ideal 30 segundos, para assegurar a descontaminação adequada desde a imersão até a secagem;
  5. Utilização do copo sem retorno: Copos de aplicação com retorno acabam levando contaminação e matéria orgânica para dentro do copo, o que diminui a eficácia da solução desinfetante;
  6. Uso individualizado de papel ou toalha: Para secar os tetos, deve-se usar papel ou toalha, preferencialmente descartável, um por teto. Isso minimiza o risco de contaminação cruzada e evita resíduos de antisséptico no leite. A não secagem correta do produto após a realização do pré-dipping é capaz de gerar resíduos de antisséptico no leite.

 

A observância dessas condições é fundamental para o sucesso da técnica dipping, refletindo diretamente na qualidade do leite produzido e na saúde do rebanho.

Seleção de antissépticos 

A escolha dos antissépticos para as práticas de pré-dipping e pós-dipping é fundamentada em critérios rigorosos, incluindo a estabilidade, segurança, ausência de irritabilidade e toxicidade tanto para a pele humana quanto animal, além de eficácia germicida comprovada. Fatores como o custo e preferências individuais dos produtores também desempenham papel importante nessa escolha.

Os produtos utilizados como pré-dipping possuem função de reduzir as bactérias ambientais presentes na pele do teto dos animais antes da ordenha e minimizar o surgimento de novas infecções causadas por essas bactérias. Para isso, os principais antissépticos utilizados são o hipoclorito de sódio, iodo, clorexidina, ácido lático, amônia quaternária e peróxido de hidrogênio.


No caso do pós-dipping, o objetivo é prevenir a transmissão de bactérias contagiosas oriundas dos equipamentos de ordenha, formando uma barreira protetora na pele dos tetos. Iodo, clorexidina e hipoclorito de sódio são, frequentemente, os antissépticos escolhidos devido à sua eficácia em criar essa barreira persistente e protetora.

O National Mastitis Council (NMC), organização internacional sem fins lucrativos dedicada à redução da mastite e à melhoria da qualidade do leite, recomenda diversas soluções antissépticas. Essas recomendações são sumarizadas na Tabela 1, que detalha os antissépticos mais eficazes, seus atributos principais e as concentrações sugeridas para uso.

A eficácia do uso de desinfetantes em procedimentos de dipping depende fortemente de sua correta manipulação. As práticas recomendadas incluem:

  1. Armazenamento adequado: Guarde o desinfetante em local fresco e arejado, longe de fontes de calor ou exposição direta à luz solar;
  2. Verificação da validade: Utilize sempre produtos dentro do seu prazo de validade para garantir a máxima eficácia;
  3. Adesão às instruções do fabricante: Siga rigorosamente as recomendações do fabricante quanto ao uso e manuseio do produto;
  4. Concentração correta: Aplique o desinfetante na concentração indicada pelo fabricante ou por normas técnicas relevantes;
  5. Qualidade da água: Em caso de necessidade de diluição do desinfetante, use água de boa qualidade para evitar a introdução de contaminantes;
  6. Recipientes apropriados: Utilize recipientes limpos e em bom estado para a aplicação do produto, evitando contaminações e perda de eficácia;
  7. Higienização de equipamentos: Realize a higienização diária dos copos de mergulho ou bicos pulverizadores com soluções de limpeza eficazes, garantindo a remoção de resíduos com precisão de, no mínimo, 10μm.

 

Considerações finais

O dipping representa uma técnica eficaz, simples e economicamente viável, que auxilia na obtenção de leite de alta qualidade e na promoção da saúde animal. Contribui significativamente para a redução da incidência de infecções intramamárias, além de diminuir a CCS e a CPP do leite produzido nas fazendas.

A escolha do antisséptico mais apropriado para a realização das imersões deve considerar os fatores mais relevantes para cada localidade, incluindo o custo, a presença de matéria orgânica nos tetos dos animais e o padrão das bactérias frequentemente encontradas nas propriedades.

A correta aplicação das técnicas de pré-dipping e pós-dipping, bem como a manipulação adequada dos produtos, são elementos-chave para a efetividade e sucesso do método. Desse modo, colabora-se para a redução dos prejuízos econômicos relacionados à produção de leite, tanto no Brasil quanto em âmbito global.


O uso de papel ou toalha individual para a secagem dos tetos após o dipping é estratégia fundamental para prevenir contaminações cruzadas

 

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas bolsas de estudo e à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), processo RED-00132-22, pelo apoio financeiro.



MARCILENE DANIEL DAMASCENO - Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras (UFLA)
ANA CLARA DE SERPA CARVALHO - Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA
ANNA PAULA PIRES MARTINS - Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA
ISADORA APARECIDA REIS BARBOSA - Graduanda do Curso de Medicina Veterinária do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA
ANDREY PEREIRA LAGE - Professor Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
ELAINE MARIA SELES DORNELES - Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia e Medicina Veterinária, UFLA


Tags

Compartilhar:


Comentários

Enviar comentário


Artigos Relacionados