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Gestão

Medicina de Produção

Medicina de Produção

Edição #96 - Março/2017

MEDICINA DE PRODUÇÃO

“A medicina de produção integra medicina veterinária e produção animal, dentro de um sistema eficiente na produção de leite. O desenho, implementação e manejo desse sistema é multidisciplinar incluindo, medicina clínica, economia, epidemiologia, segurança alimentar, genética, gestão de recursos humanos, nutrição, medicina preventiva e reprodução. Para serem eficientes sem negligenciar bem-estar animal e segurança alimentar, estas especialidades devem trabalhar em conjunto para harmonizar a gestão.” (Risco, 2011)

O QUE É MEDICINA DE PRODUÇÃO?

Nas últimas décadas, a pecuária leiteira experimentou um enorme avanço tecnológico, resultando em maior produção por vaca, por área e também maior densidade animal. Tudo isso possibilitou o surgimento de fazendas com grande número de animais e produções de leite muito altas. Por outro lado, a intensificação da produção trouxe grandes desafios sanitários, que nos fazem repensar a formação e a atuação dos técnicos e produtores.

Neste contexto, a partir da década de 1970, surgiram discussões em relação à abordagem técnica das fazendas com uma visão mais ampla, entendendo que o atendimento exclusivo de indivíduos doentes, pelo veterinário, e seu tratamento, não eram suficientes para determinar a saúde do rebanho e a manutenção de uma cadeia de produção de proteína animal capaz de abastecer a demanda crescente da população humana. Desta forma, alguns técnicos sugeriram o termo “Medicina de Produção” para definir uma abordagem multidisciplinar do sistema de produção, envolvendo praticamente todas as áreas de conhecimento necessárias para garantir a saúde e viabilidade econômica trabalhando, dentro da fazenda, de forma integrada: clínica, epidemiologia, patologia, medicina veterinária preventiva, nutrição, reprodução, gestão de pessoas, gestão econômica, produção de gado de leite, qualidade de leite, meio ambiente, comportamento animal, etc...

Em 1985, o Prof. Blood Henderson, diante dessas novas exigências, propôs que a medicina de produção deveria seguir alguns princípios, como:

√ Reconhecer que existe alta relação entre os procedimentos no sistema de produção e as enfermidades;

√ Principal objetivo: redução do prejuízo causado por doenças que têm os erros de manejo como principal fator de risco;

√ Conceito de doença subclínica, trazendo maiores prejuízos do que a clínica;

√ Mudança do comportamento do produtor e do técnico.

Na década de 1980-1990, alguns problemas sanitários aumentaram tanto sua frequência, que parecia que se tornaria inviável, economicamente, criar animais de produção em modelos intensivos. Entre estes problemas, na pecuária leiteira, podemos destacar as infecções da glândula mamária, as afecções de casco e a diminuição da eficiência reprodutiva. Por outro lado, neste período, houve um crescimento dos conhecimentos da nutrição animal, especialmente em vacas de leite, contribuindo para aumento da produção e também, de alguma forma, da saúde dos animais. Hoje, em relação à nutrição, pode-se destacar o crescente conhecimento sobre a fisiologia digestiva, requerimentos nutricionais e balanceamento de dietas. Porém, sabemos dos problemas digestivos e metabólicos ocasionados por dietas desbalanceadas, pelos excessos e manejo incorreto da alimentação. Ou seja, o grande conhecimento tecnológico gerado nas últimas décadas, especialmente acerca da nutrição, possibilitou aumento na produção de leite, entretanto, faz-se necessária a aplicação correta destes conceitos para garantir produção com saúde animal.   

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Foto: Qualquer problema somente começa a ser resolvido a partir do seu diagnóstico e dos fatores de risco envolvidos.

Outro bom exemplo, foi o desenvolvimento tecnológico na área de reprodução. Além da inseminação artificial, houve o desenvolvimento de novas tecnologias como a transferência de embriões, a fertilização in vitro e a inseminação artificial em tempo fixo. Estas tecnologias possibilitaram a democratização da genética e, em algumas situações, a melhoria dos índices reprodutivos nas fazendas. Porém, a utilização destas tecnologias, de forma isolada, nem sempre é acompanhada por ganhos na eficiência reprodutiva ou na produção. Isto ocorre quando tentamos utilizar as biotecnologias da reprodução para corrigir deficiências no conforto animal, nos manejos de vacas no período de transição ou na criação de bezerras. Hoje, se conhece um pouco mais sobre a relação entre reprodução e metabolismo animal, e tem sido muito estudada aquela entre as doenças metabólicas, a saúde dos cascos e da glândula mamária e a eficiência reprodutiva das vacas leiteiras. Além disso, vale ressaltar que de nada adianta termos bezerras de qualidade excepcional nascendo, se serão submetidas a condições de criação com alta frequência de doenças, que podem ocasionar elevadas taxas de mortalidade ou um desempenho insatisfatório dos animais.

O desenvolvimento da biotecnologia propiciou, nas duas últimas décadas, enorme avanço no diagnóstico das doenças infecciosas, na produção de vacinas e medicamentos. Com elas, os diagnósticos de agentes infecciosos ficaram mais sensíveis e específicos, e a produção de medicamentos, especialmente hormônios, apresentou grande crescimento. Em relação às vacinas é interessante observar que, apesar do grande desenvolvimento tecnológico, ainda há vacinas contra poucas enfermidades. Para algumas doenças muito frequentes em nosso meio, como babesiose, anaplasmose, mastites contagiosas, carrapato, tripanossomose, criptosporidiose, ainda não foram desenvolvidas vacinas eficientes. Nestas situações, apesar das inúmeras pesquisas, parece que a tecnologia encontra limitações na biologia dos agentes etiológicos e na resposta do organismo animal. Apesar de muitas pesquisas na busca da solução destes problemas, ainda temos que continuar fazendo o dever de casa bem feito para manter estas doenças sob controle.

Um dos maiores desafios nos últimos tempos é o reconhecimento da necessidade de formação de mão de obra, técnica, administrativa e executiva da propriedade rural. Os manejos adotados e o controle da atividade são cada vez mais complexos e exigem pessoal mais qualificado, gerando a necessidade da formação das pessoas e da visão de integração entre estas áreas. Durante muitos anos, os produtores esperavam encontrar, no mercado de trabalho, funcionários já capacitados para a atividade com os animais, muitas vezes com formação a partir da experiência passada pelas gerações anteriores. Na verdade, a evolução tecnológica nas fazendas e o processo de urbanização acelerado das últimas décadas mudaram muito este panorama e exigem uma profissionalização da mão de obra e mudanças nas relações de trabalho.

A resposta a estes desafios foi um grande esforço na pesquisa e no ensino das áreas relacionadas com produção e saúde animal, na geração de conhecimento e na formação profissional adequada. Houve uma grande evolução em relação à compreensão dos fatores de risco relacionados a algumas enfermidades, porém ainda falta uma visão que compreenda as interações entre as enfermidades e, principalmente, a íntima relação entre as doenças e os manejos empregados na produção.

Um dos principais objetivos da abordagem de uma fazenda pela visão da medicina de produção é entender como os diversos manejos existentes, dentro do sistema, contribuem no processo saúde-doença, ou seja, realizar a leitura cuidadosa e sistemática dos fatores envolvidos na sanidade do rebanho. Esta visão deve ser multifatorial, levando em consideração que nada ocorre ao acaso, ou seja, os níveis de saúde ou de enfermidades do rebanho são consequências da integração de vários fatores agindo simultaneamente. Esta abordagem é realizada, utilizando conhecimentos de várias áreas da medicina veterinária e da produção animal, de forma integrada. Um dos desafios nessa abordagem é a separação entre os sintomas aparentes e o verdadeiro problema. 

POR QUE OS ANIMAIS ADOECEM?

Desde a antiguidade, os homens procuram explicar a origem das doenças, e várias teorias foram surgindo. Acreditava-se que as doenças eram causadas por castigo divino, como uma cobrança por comportamentos ruins da sociedade. Em seguida, surgiu uma teoria chamada “causantes humanos”, que apontava determinados grupos, dentro da sociedade, como responsáveis pela doença. É interessante observar que, até hoje, ainda escutamos algumas explicações próximas destas teorias, como, por exemplo, quando as pessoas se referem ao “mau olhado”. Depois disso, o homem começou a suspeitar que alguma coisa presente na água, na terra ou no ar poderia estar relacionada com a ocorrência das doenças, e deu a isto o nome de “miasmas”. Produtores de ovelhas na Europa observavam que alguns pastos, chamados “campos malditos”, não podiam ser usados, pois as ovelhas morriam, quando colocadas neles. Somente no século XIII, pesquisadores como Pasteur e Koch, descobriram os agentes infecciosos que causavam algumas doenças. Pasteur descobriu, por exemplo, que as ovelhas morriam devido à infecção por um tipo de Clostridium presente nos “campos malditos”. Nesta fase, ele desenvolveu as primeiras vacinas contra estes clostrídios, e conseguiu bons resultados no controle da doença nestes locais. Nascia, assim, uma nova abordagem para as doenças, chamada teoria microbiológica.

OS PROGRAMAS DE SAÚDE TÊM QUE FUNCIONAR DE FORMA INTEGRADA, DEVEM SER ESPECÍFICOS PARA AS CONDIÇÕES DE CADA PROPRIEDADE E DEVEM ESTAR SOB A SUPERVISÃO DE UM ÚNICO GESTOR, CAPAZ DE ENXERGAR O SISTEMA DE PRODUÇÃO COMO UM TODO

Hoje, sabemos que existem vários agentes infecciosos presentes no ambiente e nos animais, porém fica bem claro que a simples presença dos mesmos não determina a ocorrência das doenças. Vários fatores, ligados ao ambiente, aos animais e aos agentes infecciosos vão ser determinantes na ocorrência ou não das doenças. Assim, se uma fazenda apresenta problemas de higiene e acúmulo de esterco nas instalações, teremos um ambiente propício para a manutenção de várias bactérias, o que pode determinar, por exemplo, uma grande frequência de lesões de casco de origem infecciosa ou de mastite por patógenos ambientais. Por outro lado, as vacas podem estar mais ou menos suscetíveis às infecções, e isto pode ser resultado de vários fatores que interferem com sua imunidade como: alimentação, suplementação mineral, conforto, bem-estar, doenças concomitantes, estado fisiológico, programa de vacinação, dentre outros. Esta teoria, para explicar o processo saúde-doença, é chamada de multifatorial, e é muito útil quando queremos avaliar a sanidade de um rebanho. As perguntas a serem respondidas são: os fatores presentes neste sistema de produção favorecem a resistência dos animais? O ambiente favorece os animais, em relação ao seu bem-estar e comportamento, ou dá condições para a manutenção de altas cargas microbianas?

Uma boa forma de abordagem, para enxergarmos a sanidade no sistema de produção, é pensarmos em uma balança, onde colocamos, de um lado, tudo que representa as condições que interferem com a resistência dos animais e, do outro, os desafios, representados pelas condições ambientais, sociais, econômicas e de gestão da propriedade.

Outro ponto muito importante a ser destacado, é que as doenças não são causadas apenas por agentes infecciosos. Existem vários grupos de causas de doença e que muitas vezes interagem entre si, como: infecciosas, metabólicas, tóxicas, traumáticas e carenciais. A manifestação de uma doença infecciosa nas vacas, muitas vezes, tem como fator de risco uma doença metabólica ou carencial. Por exemplo, vacas com hipocalcemia subclínica têm 3,5 vezes mais chance de desenvolverem metrite pós-parto em relação às normocalcêmicas.

Importante lembrar aqui da classificação das doenças como clínicas e subclínicas. O termo “doença subclínica” se refere às doenças que, apesar de causarem danos físicos ou econômicos, não são diagnosticadas tradicionalmente, exigindo alguma ferramenta de maior acurácia. Estas ferramentas podem ser, simplesmente, um exame clínico cuidadoso como, por exemplo, nas lesões de casco, ou mesmo exames laboratoriais específicos, como a dosagem sanguínea de cálcio. As doenças subclínicas podem afetar uma alta proporção do rebanho e, uma vez que causam pequenas perdas de produção por animal, por longos períodos, são responsáveis por grandes prejuízos econômicos no sistema, e funcionam como fatores predisponentes a outras enfermidades. Como exemplos de enfermidades com esta característica, podemos citar: coccidiose, verminose, hipocalcemia, cetose, laminite, lesões infecciosas de casco e mastite, dentre outras. Desta forma, os programas sanitários do sistema de produção devem estar preparados para diagnosticar e controlar os problemas subclínicos, a fim de evitar seus efeitos econômicos e sanitários.

O QUE É FATOR DE RISCO?

Em todas as fazendas leiteiras, há ocorrência de doenças como mastite, diarreia de bezerras ou claudicações, porém dentro de taxas com as quais conseguimos conviver, ou seja, sempre há chance do animal ter uma destas doenças. Definimos “Fator de Risco” como aqueles que aumentam estas chances e, portanto, terminam por causar elevação dos índices destas enfermidades e prejuízos consideráveis. É importante diagnosticar quais são estes fatores dentro da propriedade e reconhecer se podem ou não ser manejados. Existem alguns fatores de risco que não podem ser mudados, por exemplo, um alto índice pluviométrico e temperaturas altas em dezembro. Temos, então, que estar preparados para controlar a temperatura ambiente nas instalações das vacas ou manejar o esterco nas pistas de alimentação. Quando trabalhamos com bezerras em casinha ou bezerreiro tropical, nesta época do ano, podemos nos preparar para aumento de alguns problemas, como infecções umbilicais e diarreia. Pode-se, então, pensar na construção de uma instalação mais seca e com boa cama, para receber bezerras recém-nascidas nesta época do ano. Cabe destacar que, nenhuma instalação vai ser boa em todos os aspectos e o tempo todo. O manejo adequado das instalações pesa tanto ou mais que seu projeto, na avaliação de sua eficiência.

Alguns passos são essenciais na resolução de problemas sanitários. O primeiro deles é o diagnóstico do problema. Para isso, vamos lançar mão de um trabalho minucioso, que compreende etapas diversas, dependendo de cada situação, mas que sempre utiliza ferramentas tais como: histórico, banco de dados da fazenda, inspeção do ambiente e dos animais, exame clínico minucioso de animais enfermos e dos considerados sadios, necropsias, exames complementares, consultas bibliográficas e a especialistas. Uma fase importante é tentar entender, com detalhe, o manejo diário da fazenda, e apelidamos isto de “passar um dia de vaca” ou “de bezerro” conforme o caso. Qualquer problema somente começa a ser resolvido a partir do seu diagnóstico e dos fatores de risco envolvidos.

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Foto: De nada adianta termos bezerras excepcionais nascendo, se serão submetidas a condições que podem ocasionar elevadas taxas de mortalidade ou um desempenho insatisfatório.

Os fatores de risco podem ser divididos naqueles relacionados ao ambiente, à nutrição, ao manejo diário dos animais, à qualidade do trabalho, e nos que estão ligados à categoria animal. Desta forma, podemos reconhecer determinadas categorias que, por condições fisiológicas, apresentam maiores riscos de adoecerem: bezerras recém-nascidas, bezerras de 1-3 semanas, bezerras na pós-desmama e vacas em período de transição. Estas categorias devem receber atenção redobrada na fazenda, com destinação dos melhores ambientes, nutrição, monitoramento e mão de obra.

IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE SAÚDE E DE MONITORAMENTO

A implantação dos programas de saúde, dentro de um sistema de produção, tem como objetivo criar mecanismos de diagnóstico, controle e monitoramento de saúde dos pontoschaves dentro do sistema, tais como: saúde da glândula mamária, reprodução, saúde dos cascos, sanidade de bezerras, saúde de vacas no período de transição, calendário sanitário, monitoramento de doenças infecciosas, biossegurança, monitoramento ambiental e controle de qualidade de água e de dejetos.

É interessante observar que, a maioria das fazendas implanta, primeiramente, os programas que trazem retorno financeiro imediato como, por exemplo, qualidade do leite e reprodução. Estes programas, quando executados isoladamente, têm um pequeno efeito, uma vez que, como dito anteriormente, a sanidade do rebanho tem caráter multifatorial. Os programas de qualidade do leite, quase sempre, se restringem ao manejo da sala de ordenha, e não levam em consideração as condições ambientais, o conforto e o bem estar das vacas. Sabemos, por exemplo, que as manqueiras interferem diretamente sobre os índices reprodutivos e a saúde da glândula mamária, mas temos visto os cascos sendo deixados em segundo plano. De que adianta usarmos tecnologias modernas de reprodução em vacas hipocalcemicas, com cetose subclínica, mancas ou com mastite? A eficiência reprodutiva pode ser usada como um indicador da sanidade do rebanho, pois ela é afetada por, praticamente, todas as variáveis do sistema de produção.

Os programas de saúde têm que funcionar de forma integrada, devem ser específicos para as condições de cada propriedade e devem estar sob a supervisão de um único gestor, capaz de enxergar o sistema de produção como um todo.

Alguns pontos-chaves devem ser levados em conta na implementação de um programa sanitário para um rebanho:

• Conhecer, com detalhes, o sistema de produção, seus objetivos gerais e específicos;

• Traçar estratégias de controle sanitário para cada unidade do sistema: utilizar o conceito do “princípio”, ou seja, devemos conhecer bem as bases teóricas para traçar estratégias a serem executadas em cada situação, as quais chamamos de “prática”;

• Formação e treinamento da equipe: a grande maioria das ações sanitárias não são rotineiramente realizadas por técnicos. A função do técnico passa a ser a de traçar as estratégias e de formar e capacitar a equipe de trabalho, que tem que conhecer e dominar muito bem a “prática”, sempre baseada nos “princípios”;

• Implementação de formas de monitoramento e avaliação das medidas propostas: as ações têm que ser revistas rotineiramente à luz dos resultados, ou seja, o processo é dinâmico e, dependendo dos resultados, tem que ser ajustado. Para isso, é essencial que todas as ações e resultados sejam anotados e que se forme um banco de dados para ser avaliado e auxiliar na tomada de decisões.

UM DOS PRINCIPAIS OBJETIVOS DA ABORDAGEM DE UMA FAZENDA PELA VISÃO DA MEDICINA DE PRODUÇÃO É ENTENDER COMO OS DIVERSOS MANEJOS EXISTENTES, DENTRO DO SISTEMA, CONTRIBUEM NO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA, OU SEJA, REALIZAR A LEITURA CUIDADOSA E SISTEMÁTICA DOS FATORES ENVOLVIDOS NA SANIDADE DO REBANHO

Simultaneamente à implantação dos programas sanitários, devem ser implementados os de monitoramento de saúde. Os esquemas de monitoramento devem ser traçados para cada categoria e atividade, e podem ter como ferramentas, desde a simples inspeção dos ambientes até a utilização de sofisticados exames complementares. Alguns monitoramentos foram implementados nas fazendas sem a solicitação do produtor, como, por exemplo, a qualidade do leite. É realizada coleta de leite periódica, e o produtor recebe os resultados, rapidamente, e sem custo adicional. Na verdade, estes exames são realizados por uma técnica muito moderna, a citometria de fluxo, e nós não nos damos conta disso. Ou seja, este monitoramento já está fazendo parte da rotina e cultura da fazenda, e o grande número de amostras analisadas dilui o custo individual das análises.

Outro ponto que deve ser monitorado, por exemplo, é a saúde das bezerras e das vacas no período de transição. Nas bezerras, o monitoramento deve abranger as condições ambientais, inspeção periódica dos animais, transmissão de imunidade passiva, necropsias, índices de desenvolvimento ponderal, morbidade, mortalidade, exame rotineiro de fezes e de eficiência dos carrapaticidas, e avaliação da ocorrência de algumas doenças específicas, como a tristeza parasitária bovina. A forma de monitoramento e a frequência variam para cada atividade, e devem ser traçadas de acordo com a propriedade.

Em relação ao período de transição, devemse monitorar aspectos do ambiente e clínicos como: escore corporal, escore de locomoção, comportamento, postura, qualidade de fezes, corrimento vaginal, temperatura corporal, consumo de alimento, enchimento de rúmen, grau de hidratação e produção de leite. Além disso, é importante monitorar indicadores de doenças metabólicas, como dosagens sanguíneas de cálcio e de corpos cetônicos.

Outro ponto-chave a ser implementado é o programa de biosseguridade, que é definido como o conjunto de medidas que tem como finalidade:

• Evitar a introdução de enfermidades na fazenda;

• Controlar as doenças já existentes na propriedade;

• Diminuir a transmissão de doenças que já existem na propriedade, entre as diversas categorias de animais;

• Determinar a existência de um ambiente de trabalho seguro e harmônico;

• Garantir a segurança alimentar dos animais;

• Garantir a produção de alimentos de boa qualidade para a população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pecuária moderna, cada vez mais intensiva, representa um grande desafio para os produtores e técnicos. A evolução dos conhecimentos tecnológicos, a consciência do desenvolvimento sustentável e das relações trabalhistas, o respeito ao comportamento e bem-estar animal e a adequação dos sistemas de produção a esta nova ordem, podem contribuir para o sucesso da atividade. A medicina de produção busca compreender e dar suporte a esta realidade, contribuindo para a saúde animal por meio da visão do sistema de produção de forma integrada. 

Prof. Elias Jorge Facury Filho
Prof. Antônio Último de Carvalho
Setor de Clínica de Ruminantes da Escola de Veterinária da UFMG

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