NUTRIÇÃO DE BEZERRAS: estratégias para aumentar a produção de leite futura

Nesse sentido, dados de pesquisas (BROWN et al., 2005; GELSINGER, HEINRICHS e JONES, 2016) que utilizaram animais da raça Holandês indicaram que taxas aceleradas de crescimento até os três primeiros meses de vida exercem influência positiva sobre o desenvolvimento da glândula mamária, resultando em produção adicional em torno de 435 kg de leite, na primeira lactação (SOBERON e VAN AMBURGH, 2013). O plano nutricional é responsável por grande parte desses resultados. 

A dieta líquida, que inclui colostro, leite de transição, leite integral ou sucedâneo e água, é a principal fonte de nutrientes para a bezerra, pelo menos até os primeiros 30 dias de vida. Isso ocorre porque, no início da vida da bezerra, o rúmen não tem capacidade de digerir alimentos sólidos e a dieta líquida é quase exclusivamente responsável pelo crescimento e desenvolvimento do animal. 

Assim, uma das estratégias utilizadas para aumentar a ingestão de nutrientes via leite é chamada step up/step down. Nesse sistema de aleitamento, os animais recebem altos volumes de leite no início do período de aleitamento, sendo reduzidas as quantidades à medida que o consumo de alimento sólido aumenta.

Dessa forma, é possível aumentar a ingestão de nutrientes no momento em que a bezerra tem capacidade diminuída de ingerir alimentos sólidos. A Figura 1 representa o esquema desse sistema de aleitamento, conforme Khan et al. (2007).

  

Uma vez que a grande maioria das fazendas fornece, em média, entre 4 e 6 litros de leite durante todo o período de aleitamento, aumentar o volume parece ser caro em uma fase que já é bastante onerosa. No entanto, estudos de Soberon e Van Amburgh (2013), bem como uma ampla revisão da literatura publicada por Gelsinger, Heinrichs e Jones (2016) (Gráfico 1), mostraram que melhorar o ganho de peso diário (GMD) na fase de cria tem correlação alta e positiva com aumentos em projeção de produção de leite na vida adulta. Ou seja, o que parece ser caro, além de melhorar o desempenho da bezerra, traz efeitos positivos na produção futura de leite. 

MELHORAR O GANHO DE PESO DIÁRIO (GMD) NA FASE DE CRIA TEM CORRELAÇÃO ALTA E POSITIVA COM AUMENTOS EM PROJEÇÃO DE PRODUÇÃO DE LEITE NA VIDA ADULTA

No Gráfico 1 é possível observar que o GMD tem um impacto mínimo na produção de leite na futura vaca quando fica abaixo de 500 g/d (quadrante alaranjado). No entanto, tem grande influência quando os ganhos chegam próximos a 900 g/d (quadrante azul). 

Os autores relatam que esses resultados são potencializados quando a ingestão de maiores volumes de leite é associada ao consumo de concentrado de alto valor proteico, uma vez que é responsável pelo desenvolvimento das papilas ruminais, as quais conferem capacidade de absorção de nutrientes no rúmen. Dessa forma, são explicados pelo fato de que as bezerras que recebem dieta líquida e concentrado inicial adequados às exigências nutricionais para esse período, têm maior proliferação de células e acúmulo de parênquima, DNA e RNA mamários, sem influência sobre o acúmulo de gordura nesse tecido. 

O aumento do GMD das bezerras está fortemente relacionado ao ganho da produção de leite prevista para a idade adulta

RECOMENDA-SE INVESTIR NO FORNECIMENTO DE MAIORES VOLUMES DE LEITE NA FASE DE CRIA, POIS A OTIMIZAÇÃO DO DESEMPENHO DAS BEZERRAS, ALÉM DE DIMINUIR A IDADE AO PRIMEIRO PARTO, TRAZ GANHOS ADITIVOS NA PRODUÇÃO DE LEITE

Sendo assim, recomenda-se investir no fornecimento de maiores volumes de leite na fase de cria, pois a otimização do desempenho das bezerras, além de diminuir a idade ao primeiro parto, traz ganhos aditivos na produção de leite dos animais de reposição nas suas primeiras lactações, sendo essa uma das grandes evoluções no conhecimento da nutrição de bezerras.

MAXIMILIANO HENRIQUE PASETTI - Consultor de Serviços Técnicos de Bovinos de Leite na Agroceres Multimix