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Gestão

Os novos indicadores de referência

A Labor Rural aprimorou a análise dos indicadores técnicos e econômicos de referência da atividade leiteira ao produzir valores estratificados com base no sistema de produção e no valor da terra nua.

Os novos indicadores de referência

Gerenciar qualquer atividade empresarial, tendo como referência os indicadores de excelência das principais empresas de sucesso em cada área de atuação, é uma das boas estratégias para os empresários que querem aprimorar os resultados técnicos e econômicos. Essa abordagem tem sido aplicada há bastante tempo na atividade leiteira e continua sendo eficaz.

Indicadores de referência

 É preciso lembrar que os benchmarks médios podem não fornecer informações precisas, sendo necessário analisá-los de acordo com estratos que facilitem a visualização e adoção de estratégias pelos gestores. Com isso em mente, a Labor Rural, empresa que fornece inteligência para o agronegócio, por meio do seu Departamento de Inteligência de Dados, conduziu uma análise de centenas de propriedades leiteiras em diferentes regiões do Brasil.  Essas propriedades utilizam vários modelos de negócios ou sistemas de produção, todos com assistência técnica e gerencial fornecida por consultores altamente qualificados que as visitam mensalmente. Destaca-se o programa Educampo do Sebrae Minas, que revolucionou o modelo de assistência técnica no Brasil.
Nos últimos cinco anos, foram acompanhadas mudanças no comportamento dos indicadores de referência técnicos e econômicos na pecuária leiteira. Como resultado, as análises melhoraram, gerando os valores de referência estratificados por sistema de produção e valor da terra nua.
Para a análise, foi utilizado o período de janeiro a dezembro de 2022, deflacionado para dezembro do mesmo ano. Em seguida, foram selecionadas as 25% propriedades que obtiveram as maiores taxas de retorno do capital, incluindo terra, já descontando a inflação do período, ou seja, o ganho real.
Na análise de cada amostra, foram separados os grupos de propriedades com maior sucesso, considerando o valor da terra nua praticado na região em que se encontram. Assim, as propriedades foram divididas em três grupos: Grupo 1, terra nua no valor até R$15.000 por hectare, Grupo 2, de R$15.000 a R$35.000 por hectare, e o Grupo 3, acima de R$35.000 por hectare. É importante destacar que todas as propriedades analisadas têm a renda proveniente do leite como sua principal fonte (acima de 90%). Além disso, não há propriedades com predominância de áreas arrendadas e todas produzem majoritariamente grande parte dos volumosos utilizados nas suas próprias terras. Será que os indicadores de referência, após essas pré-condições para análise, foram modificados?
 

Indicadores técnicos

 Foram analisados os indicadores técnicos que mais influenciaram os resultados da atividade leiteira (Tabela 1). O indicador que relaciona vacas em lactação com a mão de obra total permanente na propriedade, não alterou em relação ao resultado preconizado, pois independentemente do sistema de produção e do valor da terra nua, oscilou de 20 a 25 vacas em lactação por trabalhador/dia nas propriedades de maior sucesso econômico. Essa performance ainda baixa pode ser explicada pelo baixo custo de oportunidade da mão de obra rural no Brasil, além de outro indicador técnico que estagnou ou até mesmo regrediu em algumas situações: a relação entre vacas em lactação e o rebanho total. Esse indicador é uma medida do equilíbrio da estrutura do rebanho e também indica a capacidade de liquidez do empreendimento. Isso ocorre porque propriedades que têm como principal fonte de renda a venda de leite, dependem do giro do capital gerado pelas vacas em lactação presentes no curral. Se essa estrutura estiver desequilibrada, o caixa da fazenda sofre. A falta de capital de giro é um dos principais problemas enfrentados pela pecuária de leite no Brasil. Como resultado, o percentual de vacas em lactação em relação ao total do rebanho é de cerca de 45%, abaixo do ideal de 55% para um rebanho estabilizado. 

 

Devido à idade média das fêmeas leiteiras no momento do primeiro parto ter aumentado de 26 para 31 meses nos rebanhos analisados, a estrutura dos rebanhos encontra-se desequilibrada. Como resultado, há maior necessidade de mão de obra para o manejo do rebanho total, o que leva a uma queda na produtividade por vacas em lactação/dia homem. Consequentemente, esses fatores levam a uma redução ou estagnação na produtividade da mão de obra, representada pelo indicador litros de leite/dia homem.
Além da recria atrasada, foi observada uma piora nos indicadores reprodutivos, com aumento do número de vacas secas nos rebanhos. Essa situação contribuiu para reduzir o rendimento da mão de obra, quando comparado com o volume de leite produzido. Uma das explicações para a estagnação ou até queda na performance da recria e da reprodução do rebanho pode ser o alto custo de alimentação concentrada nos últimos anos, fato que incentiva o produtor a priorizar o fornecimento para as vacas em lactação, sacrificando a alimentação da recria e das vacas secas. Assim sendo, o indicador das vacas leiteiras pelo indicador de total do rebanho variou de 34% a 44%, ou seja, baixo e preocupante.

Da análise do indicador vaca em lactação por área destinada à atividade leiteira, incluindo as áreas de reserva (áreas de proteção permanente (APPs) e reserva legal (RL)), pode ser observada a evolução que variou entre as amostras estratificadas. No sistema semiconfinado, do menor valor de terra para o maior, observou-se que a variação do número de cabeças por hectare foi de 0,7, 0,9 e 1,1. Da mesma forma, no confinado sem estrutura, a variação foi de 1,2; 1,4 e 1,8 cabeça por hectare. No confinado com estrutura 0,9; 1,5 e 2,5 cabeças por hectare. Como a produção de leite sustentável é uma forte tendência (irreversível), é importante incluir na análise a área de reserva obrigatória por lei. No entanto, é importante ressaltar que o principal pilar da sustentabilidade é o econômico, pois não é possível “cuidar do verde estando no vermelho”.

No quesito produtividade das vacas em lactação, houve poucas variações entre os estratos, de acordo com o valor da terra nua e sistema de produção semiconfinado e confinado sem estrutura. No sistema semiconfinado, as fazendas mais bem sucedidas apresentaram uma produção média de 16 a 18 litros por vaca em lactação por dia. No sistema confinado sem estrutura, essa produção variou de 19 a 20 litros por vaca em lactação por dia. Já no sistema confinado com estrutura, “a régua subiu” mais um pouco devido ao maior capital empatado na atividade, exigindo maior performance dos animais, variando, respectivamente, do menor valor de terra ao maior valor, de 26, 30 e 31 litros por vaca em lactação por dia.  

Com as altas produtividades das vacas em lactação e o aumento do indicador de vacas em lactação por hectare, a produtividade leiteira por hectare, considerando também as reservas, tornou-se mais desafiadora. Do menor para o maior valor de terra, nos três sistemas de produção, o comportamento foi o seguinte: no semiconfinado, 4.556, 5.269 e 7.253 litros por hectare/ano. No confinado sem estrutura, 8.498, 10.102 e 13.301 litros por hectare/ano. Já no confinado com estrutura, 8.141, 16.824 e 27.893 litros por hectare/ ano. É possível concluir facilmente que à medida que o valor da terra nua aumenta, a exigência por maior produtividade também aumenta. Isso ocorre porque a terra é o principal fator de produção com o maior investimento na atividade leiteira. Portanto, para obter um resultado econômico favorável é fundamental aumentar a produtividade da terra. Essa é uma dica importante para os produtores de leite.

PARA OBTER UM RESULTADO ECONÔMICO FAVORÁVEL É FUNDAMENTAL AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DA TERRA  

Indicadores econômicos


O comprometimento do preço do leite com o custo operacional efetivo variou de 60% a 67% no sistema semiconfinado (Tabela 2). No sistema confinado sem estrutura, o custo operacional total comprometeu de 65% a 71% do preço do leite. Já no sistema confinado com estrutura, esse comprometimento foi de 69% a 73%. Esses resultados demonstram claramente uma tendência de maior rentabilidade para os modelos mais confinados e tecnológicos e que fazem uso intensivo da terra. No entanto, a terra tem se valorizado nos últimos tempos, fato que aumenta o custo de oportunidade em relação às opções de culturas de grãos, como o milho e a soja.

 

Em todos os modelos de produção, independentemente do valor da terra nua, os gastos com concentrados e minerais na atividade leiteira em relação à renda da atividade leiteira aumentaram de 30% a 37% para 34% a 37%. Esse aumento pode ser explicado pela alta dos preços dos grãos e minerais, o que impacta diretamente no custo dos concentrados. Os produtores que obtêm sucesso técnico e econômico na atividade leiteira investem em concentrados e minerais de qualidade, na quantidade correta, com foco no potencial das vacas, mas sem esquecer do custo e do preço do leite. Isso significa equilíbrio entre benefício e custo, maximizando a rentabilidade da atividade.
Os gastos com volumosos na atividade leiteira em relação à renda da atividade não apresentaram alterações em relação ao que era preconizado anteriormente. Os produtores de maior sucesso comprometem no máximo 12% da renda da atividade para pagar todo o volumoso utilizado na atividade leiteira.
Na análise dos gastos com mão de obra, foi encontrado o mesmo comportamento esperado: os produtores com maior sucesso econômico comprometem até 8% da renda bruta da atividade para pagar os gastos com mão de obra familiar e contratada. O baixo custo da mão de obra utilizada na atividade, como já mencionado anteriormente, pode explicar a menor produtividade e baixo impacto no comprometimento das receitas da atividade leiteira. Muitas vezes, os produtores compensam a falta de tecnificação ou até mesmo a menor qualidade da mão de obra com um maior número de pessoas contratadas, o que pode levar a uma baixa performance da produtividade da mão de obra.

OS PRODUTORES QUE OBTÊM SUCESSO TÉCNICO E ECONÔMICO NA ATIVIDADE LEITEIRA INVESTEM EM CONCENTRADOS E MINERAIS DE QUALIDADE, NA QUANTIDADE CORRETA, COM FOCO NO POTENCIAL DAS VACAS, MAS SEM ESQUECER DO CUSTO E DO PREÇO DO LEITE

Resultados econômicos e financeiros 

A margem bruta da atividade leiteira para toda a área destinada à atividade, incluindo reservas, apresentou um comportamento lógico e coerente com os diferentes sistemas de produção e valores da terra nua (Tabela 3). Os valores da margem bruta da atividade leiteira, de acordo com o sistema de produção e o valor da terra, variaram da seguinte forma: no sistema semiconfinado, de R$ 4.000 a R$ 7.000 por hectare/ano; no sistema confinado sem estrutura, de R$ 7.000 a R$ 16.000 por hectare/ano; e no sistema confinado com estrutura, de R$ 8.000 a R$ 29.000 por hectare/ano.
Esses resultados comprovam que a atividade leiteira bem gerenciada é competitiva como qualquer atividade da agropecuária brasileira, respeitando e comparando corretamente os níveis de intensificação. A margem bruta por vaca em lactação por ano apresentou o mesmo comportamento da margem bruta total variando da seguinte forma: no sistema semiconfi nado, de R$5.700 a R$6.500; no sistema confinado sem estrutura, de R$6.000 a R$9.000; e no sistema confinado com estrutura, de R$9.000 a R$12.000. Os resultados das margens comprovam a tendência de maiores rentabilidades para atividades confinadas e intensificadas, como mencionado anteriormente. Não é por acaso a identificação da forte tendência em direção aos modelos de negócio como o Compost Barn.

  

O estoque de capital em animais em relação ao estoque de capital total com terras, em percentual, variou de 30% a 33%. Um fator para o sucesso é aumentar o percentual de capital empatado em animais em relação ao capital empatado em terras, assim, aumenta a liquidez da atividade, condição para melhorar a performance financeira e diminuir o risco da atividade.
Para que o produtor tenha sucesso econômico na atividade leiteira não é recomendado que o capital empatado em terra supere 50% do total do capital investido. Portanto, é fundamental manter um equilíbrio nos investimentos. Esse equilíbrio pode ser medido pelo indicador estoque de capital total, incluindo terra, por litro de leite produzido por dia, que demonstra a capacidade de transformar capital imobilizado em litros de leite. Quanto menor o valor desse indicador, melhor. Em geral, as fazendas de maior sucesso técnico e econômico na atividade leiteira empatam no máximo R$1.500 por litro de leite produzido por dia, enquanto anteriormente a recomendação era de até R$1.200 por litro de leite.
Devido à tendência de valorização das terras e à adoção de modelos de produção mais confinados e intensivos, que possibilitam maiores produções de leite, o valor de referência para as fazendas obterem sucesso econômico, em relação à taxa de giro sobre estoque de capital, tem se mantido no mínimo de 50%. Porém, as propriedades de maior sucesso e rentabilidade operam com uma taxa de giro de 75%, ou seja, ainda mais desafiador para a boa gestão. No mesmo sentido, à medida que a intensificação aumenta, os resultados tendem a melhorar, assim como os riscos também tendem a aumentar.
As propriedades de sucesso, independentemente do sistema de produção e do valor de terra nua, devem operar com uma lucratividade operacional média variando de 25% a 30% para correr menos riscos com a atividade leiteira. A combinação equilibrada entre o valor da terra nua e a produtividade de leite por hectare ao ano é fundamental para a rentabilidade da atividade leiteira.

PARA QUE O PRODUTOR TENHA SUCESSO ECONÔMICO NA ATIVIDADE LEITEIRA NÃO É RECOMENDADO QUE O CAPITAL EMPATADO EM TERRA SUPERE 50% DO TOTAL DO CAPITAL INVESTIDO

Quando se analisa a relação entre esses indicadores, observa-se que o valor de referência mínimo para a taxa de remuneração do capital com terra passou de 10% ao ano para 15%, podendo chegar a 25% ao ano acima da inflação, dependendo do nível de intensificação dos modelos de negócio adotados. Essa mudança de patamar também pode ser atribuída à evolução das taxas de juros. A alta taxa Selic exige rentabilidade significativa na atividade leiteira. Dentre as amostras analisadas, houve variação de 15 centavos por litro, do menor preço de R$2,81 ao maior de R$2,96. No entanto, essa diferença não é sufi ciente para determinar quem obteve mais ou menos sucesso.

O equilíbrio continua definindo o sucesso

 Aprimorar os indicadores técnicos, alcançar uma maior escala de produção e aumentar a produtividade da terra, juntamente com um equilíbrio nos custos de produção, foram e continuarão a ser por um longo período de tempo, os elementos cruciais para o êxito da atividade leiteira em qualquer área do Brasil, independentemente do método de produção empregado.
A obtenção de equilíbrio na estrutura do rebanho e o aprimoramento da produtividade da mão de obra empregada na atividade leiteira, resultando em ganhos em escala, são fatores que apresentam uma grande oportunidade para ampliar ainda mais a competitividade dessa atividade no país.

Contudo, é necessário refletir: por quanto tempo foi incentivada a melhoria desses indicadores e, ainda assim, eles não evoluíram como esperado? Qual é a qualidade dos técnicos e consultores  envolvidos? Como pode ser garantida a segurança nas relações comerciais entre produtores vendedores e agroindústrias compradoras, a fim de que possam investir e intensificar os modelos de negócio? Quais medidas têm sido tomadas para melhorar o ambiente de negócios para a atividade leiteira no Brasil, como incentivos para investimentos com custos financeiros compatíveis com a atividade? Essas são algumas das muitas questões que demandam reflexão de todos os setores que compõem a cadeia produtiva leite no Brasil, tanto do setor público quanto do privado.
É importante que produtores e técnicos avaliem os resultados da produção em relação ao sistema adotado e ao valor da terra nua nas regiões onde estão inseridos. É fundamental comparar esses resultados com os valores de referência recomendados, a fim de identifi car identifi car pontos fortes e áreas que precisam de melhorias. Dessa forma, a atividade leiteira passará a ser mais competitiva, técnica e economicamente rentável.





CHRISTIANO NASCIF - Diretor da Labor Rural  


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