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Pesquisa: Qual o custo da mão de obra no Brasil?

Pesquisa: Qual o custo da  mão de obra no Brasil?

Texto: Carlos Eduardo P. Venturini, Marcelo P. de Carvalho, Maria Beatriz T. Ortolani

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Com a participação de 166 produtores originários de 16 estados e que produzem juntos 76,3 milhões de litros por ano, o MilkPoint, mais uma vez, traz um retrato do mercado lácteo brasileiro. Desta vez, o tema abordado foram os custos e, posteriormente trataremos da produtividade da mão de obra na produção de leite, fatores que têm peso significativo na estrutura dos gastos da maioria dos empreendimentos, com importância crescente em função do aumento dos custos de mão de obra e da escassez de trabalhadores qualificados no campo. Segundo relatório da IFCN (International Farm Comparison Network), as fazendas leiteiras nos países emergentes, como o Brasil, estão se defrontando com grandes aumentos nos salários. Isto se deve ao crescimento econômico, que gera maior demanda por trabalhadores, aumentando o preço dos seus salários, e também ao desenvolvimento educacional, visto que, devido à maior qualificação, os trabalhadores aumentam o leque de atividades que podem desenvolver, reivindicando assim melhores salários.

É necessário ao produtor o conhecimento destes dados, tanto para entender os pontos críticos do negócio, no que se refere aos custos, quanto para comparar se sua atividade tem apresentado custos condizentes com o cenário nacional e internacional. Nesta primeira etapa, serão apresentados os dados referentes ao custo da mão de obra na produção de leite. Posteriormente, serão divulgados os dados relativos à produtividade da mão de obra.

 

Metodologia

A pesquisa foi realizada por meio de um questionário online elaborado pela equipe MilkPoint, de forma a gerar um panorama sobre a produtividade e os custos atrelados à mão de obra na produção de leite. No questionário, foram mensurados apenas os gastos com alimentação, ordenha e administração da atividade leiteira. Gastos com produção de alimentos e criação de bezerras não foram considerados, visto que, se os incluíssemos, a chance de gerar dados que não são comparáveis entre si é maior, uma vez que há propriedades que produzem os grãos, outras que produzem apenas os volumosos, e outras ainda que terceirizam a maior parte do alimento. Restringindo ao fornecimento do alimento (e pasto), ordenha e administração, criamos uma base para comparação dos dados.

O custo dos funcionários foi considerado de forma relativa ao tempo empregado na produção de leite. Por exemplo, se um funcionário recebe R$1.000,00 e dedica 40% do tempo à produção de leite, o custo deste funcionário, para a atividade leiteira, é de R$400,00.

A mão de obra familiar, que é em tese “grátis”, na verdade representa um custo de oportunidade ao produtor: a pessoa poderia receber determinado salário em outra atividade, no entanto deixa de realizá-la para dedicar-se à produção de leite. A este trabalhador, imputamos um custo proporcional aos estratos produtivos: para produtores de até 120 litros/dia, o custo de oportunidade considerado foi de R$622,00 mensais. Para produtores entre 120 e 150 litros/dia, este custo foi estimado em R$700,00, e entre 150 e 250 litros/dia, R$850,00. A partir dos demais estratos produtivos, o custo da mão de obra familiar estimado foi de R$1.000,00. Esses dados foram baseados na média da remuneração destes estratos informada pelos produtores que consideraram um valor para seu trabalho.

Outro tipo de custo que, em geral, o produtor não computa em seus cálculos é o próprio custo de gerenciar a fazenda. Para chegarmos neste valor, questionamos na enquete se o produtor era de fato o gerente da fazenda e, em caso positivo, se havia computado seu próprio custo. Aos que afirmaram ser os gerentes de suas propriedades e, no entanto, não consideraram seus próprios custos, estimamos valores por litro de leite para cada estrato produtivo, para que fosse considerada a remuneração do gerente. A distribuição destes valores foi a seguinte, de acordo com a produção:

- De 500 a 1.000L/dia: R$0,07/L

- De 1.000 a 2.500L/dia e de 2.500 a 5.000L/dia: R$0,05/L

- Maior que 5.000L/dia: R$0,03/L

No entanto, para produtores com escala de produção menor que 500 L/dia, o custo de gerência não foi computado, mas sim o custo de oportunidade de um trabalhador familiar, visto que para tal escala de produção, em geral, os produtores não necessitam da contratação de um gerente. Apesar destes valores terem sido arbitrariamente considerados pelo MilkPoint, os mesmos apresentam estimativas próximas à realidade, conferida junto aos agentes de mercado, o que ajudou a gerar dados de maior confiabilidade.

Devido a estas diversas variáveis, que por vezes são desconsideradas pelos produtores ao estimarem seus custos, separamos o custo da mão de obra/litro em três categorias:

- Custo da mão de obra contratada: no qual foi considerado apenas o valor dos custos com os funcionários contratados.

- Custo mão de obra contratada + custo de oportunidade: no qual os valores são referentes ao custo de mão de obra contratada e também ao custo de oportunidade da mão de obra familiar.

- Custo total da mão de obra: no qual, além dos custos com funcionários e mão de obra familiar, também foi considerada a remuneração do proprietário como gerente da propriedade, nos casos nos quais o mesmo indicou que não havia computado sua própria remuneração.

Estes três parâmetros de custos, ao serem considerados em conjunto, apresentam diversas tendências implícitas que, se comparássemos apenas aos custos com funcionários contratados, nos levariam a uma análise equivocada sobre o real custo da mão de obra nos diferentes estratos produtivos.

Entretanto, é necessário ressaltar que, devido à impossibilidade de checarmos os dados - pois tratou-se de uma enquete online – não é possível avaliar se todas as informações obtidas foram mensuradas de forma correta. Os dados estão sujeitos a diferentes interpretações por parte dos produtores, portanto não é possível afirmar que todos tenham disponibilizado informações comparáveis entre si (ex: inclusão de encargos no custo de mão de obra contratada; separação dos custos de criação de novilhas e volumosos).

Desta forma, não podemos elaborar conclusões definitivas acerca do custo de mão de obra na atividade leiteira, trata-se de um estudo de caráter exploratório, que visa levantar dados sobre a questão e estimar um panorama da atividade.

 

Resultados

Dentre os 166 participantes da pesquisa, Minas Gerais foi o estado que teve maior representatividade, com 34,3% das respostas. Goiás, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná vieram logo em seguida, com 11,4% de participação cada um. A tabela 1 apresenta estes dados.

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Outro dado relevante refere-se à participação na enquete por tipo de produção. No gráfico 1, podemos ver que a grande maioria (44,6%) dos produtores utiliza o sistema de pastejo para criação de suas vacas. O sistema de semi-confinamento, no qual parte do manejo do animal é realizado em pastejo e outra parte em confinamento, também teve grande participação, com 39,2% do total. Já o sistema de confinamento, é utilizado por 16,3% destes produtores.

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No que se refere ao tamanho da produção de leite/dia dos participantes, parte significativa (44,6%) apresenta produção menor do que 500L/dia. Destes, 63,5% utilizam o sistema de pastejo.

Conforme podemos visualizar no gráfico 3, a medida em que aumenta a escala de produção, a participação do sistema de pastejo diminui, sendo repassada para os sistemas de semi-confinamento e confinamento.

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A tabela 2 apresenta os resultados obtidos na enquete.

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O custo médio da mão de obra contratada/litro nas fazendas participantes foi de R$0,105. Ao adicionarmos os outros custos implícitos, mencionados anteriormente, como a mão de obra familiar, obtemos um valor de R$0,147. Ainda, se adicionarmos o custo do gerente, o custo total da mão de obra chega a R$0,174. Ressalta-se que, estes custos, na grande maioria dos casos, estão implícitos na atividade, não sendo pagos de fato. Observa-se que, à medida em que se aumenta a escala de produção, o impacto dos custos com a mão de obra familiar e o custo do gerente diminuem. Isto porque, quanto maior é a escala de produção, mais diluído torna-se o custo com a mão de obra. No gráfico 4 pode-se ver esta atenuação do efeito destes custos.

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Em estudo realizado na Universidade Federal de Lavras - a tese de doutorado do pesquisador da Embrapa Gado de Leite, João Cesar Resende, sob orientação do Prof. Marcos Neves Pereira - foram analisados os determinantes de lucratividade de 159 fazendas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, participantes do projeto Educampo. Foi observado que o custo da mão de obra por litro de leite era uma das principais variáveis que afetavam a lucratividade das fazendas presentes na amostra, apresentando maior correlação com a rentabilidade que a produtividade por área, item muito mais utilizado na literatura para comparação de eficiência.

No estudo, o custo médio da mão de obra contratada foi de R$0,096/litro de leite, valor próximo ao observado em nossa pesquisa, R$0,105/litro. As fazendas com mão de obra contratada, que apresentaram rentabilidade positiva, possuiam custo de mão de obra contratada de, em média, R$0,08/L, enquanto nas propriedades que demonstraram rentabilidade negativa, o custo da mão de obra contratada foi de, em média, R$0,15/L. 

Para efeito de comparação, das 166 fazendas participantes de nossa pesquisa, 42 delas (25%) tiveram custo com mão de obra contratada menor que os R$0,08/L que, no estudo apresentado, estava correlacionado com a rentabilidade positiva. Por outro lado, 50 das propriedades (30%) tiveram custo com mão de obra contratada maior que R$0,15/L, que foi o valor médio encontrado para as fazendas que apresentaram rentabilidade negativa.

Resende afirma que o custo da mão de obra contratada/litro, apresentado em sua pesquisa, R$0,096 – semelhante aos R$0,105 observados na enquete – é próximo ao encontrado nas menores fazendas de leite da Argentina, Nova Zelândia e Estados Unidos. No entanto, quando a análise se foca nas maiores fazendas destes três países, o custo da mão de obra contratada é quase duas vezes maior, o que demonstra a baixa competitividade do leite brasileiro no cenário internacional, se considerado apenas o custo com mão de obra. É necessário ressaltar que, embora tais países apresentem menores custos relativos à mão de obra, a utilização de capital físico (máquinas e equipamentos) é muito maior, fato evidenciado pela divulgação do IFCN, que afirma que o custo de produção do leite brasileiro é igual ao dos EUA

 

Conclusões

Com base nessas informações, será possível embasar análises futuras mais aprofundadas sobre a eficiência da mão de obra. Ressalta-se a importância de contabilizar os custos de oportunidade, tanto da mão de obra familiar quanto do próprio produtor, uma vez que a diferença entre o custo da mão de obra contratada e o custo total, incluindo os custos de oportunidade, pode chegar até a R$ 0,12/litro nos estratos menos produtivos. Tal valor, embora não represente um desembolso realizado pelo proprietário, no médio/longo prazo torna-se um entrave à rentabilidade e à continuação do produtor na atividade, pois embora não haja a efetuação do gasto, os familiares e o próprio produtor estão abrindo mão de outras atividades para dedicarem-se à produção de leite, o que gera estes custos implícitos. 

 

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