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Manejo

Quando intervir no parto de vacas leiteiras?

Quando intervir no parto de vacas  leiteiras?

Texto: Valentim Gheller, Luciana Faria de Oliveira, Kilder Alves Arantes

A decisão de intervir em um parto requer inúmeras avalia-ções para que o obstetra veterinário possa definir rapidamente o seu plano de ação. Com a introdução de várias biotecnologias na reprodução animal e com o crescente valor comercial dos produtos de uma gestação, as intervenções obstétricas têm rece-bido mais ênfase, e a maior exigência e ansiedade dos proprie-tários e funcionários,  pode levar a decisões precipitadas que, invariavelmente, transformam partos normais em distocias, aumentando o sofrimento fetal, reduzindo a sobrevivência dos be-zerros e colocando em risco a função reprodutiva das vacas.

O parto não é um evento abrupto, que simplesmente representa o final do perío-do de gestação. Na realidade, trata-se de um acontecimento que se desenvolve gradati-vamente, acompanhado de modificações morfológicas e funcionais da fêmea gestante, bem como do próprio feto, atingindo seu ponto culminante na fase de expulsão do pro-duto gerado, dando origem a uma nova vida.

O objetivo do manejo da vaca parturiente é garantir o nascimento de um bezerro viável e promover uma transição suave do período seco para a lactação. Para que isso ocorra, há uma série de cuidados que devem ser tomados em relação à vaca e seu meio e,  embora não sejam garantia da ausência de problemas, visam minimizar a sua ocorrência a um número aceitável e manejável de casos. Este objetivo somente será alcança-do se o médico veterinário colocar a mão-de-obra da fazenda em sintonia com as metas determinadas e direcionar os esforços para um manejo adequado.

Um exame clínico minucioso, embasado no conhecimento de anatomia, fisiologia, semiologia e patologia da gestação e do parto, é fundamental para estabelecer um diagnóstico, avaliar o prognóstico e providenciar o auxílio obstétrico adequado.  Recomenda-se o seguinte esquema: ananmese, avaliação clínica geral, e exame do aparelho genital por palpação retal nos animais que não se encontrem em trabalho de parto e exame vaginal para as parturientes.

Definir o momento ideal para auxiliar um trabalho de parto, como auxiliar e como prevenir partos distócicos serão temas abordados em uma seqüência de artigos, ob-jetivando criar melhores estratégias para uma das fases de maior importância na atividade leiteira.

 

Manejo geral do parto

Uma área limpa e seca para o parto é essencial. Dimensões adequadas reduzem a pro-babilidade da vaca empurrar o bezerro contra uma parede, e também fornecem espaço para manobras obstétricas se a assistência for necessária. Esta área deve ser, na medida do possível, bem coberta por forragem, sem lamaçais, com sombra suficiente e situada no caminho dos funcionários da fazenda. A densidade animal no pastomaternidade deve permitir alojamento economicamente viável, porém sem muita aglomeração. Este manejo reduz o estresse ambiental e contribui para a preparação adequada da vaca.

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As vacas devem ser levadas para a maternidade com base em sua data de previsão de parto e sinais de parto iminente, como distensão do úbere, relaxamento de ligamentos pélvicos, edema vulvar, gotejamento do colostro,  liquefação do tampão cervical, descarga vulvar mucóide, inapetência e busca de  isolamento.

Devido a diferenças de hierarquia, as novilhas devem ser alojadas separadas das vacas. Assim, minimiza-se o estresse social, o que contribui para a ocorrência de partos normais. O agrupamento das novilhas deve ser feito por idade, por ser o mais prático. As vacas, por outro lado, são alocadas em grupos mais flexíveis devido à natureza de sua utilização. Se a ambientação for boa e houver espaço de cocho para todos os ani-mais, é possível que não haja problemas de socialização no piquete maternidade.

O parto deve ser, sempre que possível, monitorado. No entanto, monitoração não significa assistência e intervenção, mas sim saber se o processo transcorre normalmente ou se algum tipo de intervenção obstétrica é necessária. Muitas vezes, os tratadores da fazenda são impacientes e realizam a tração do feto ao primeiro sinal de um casco proeminente. Esta atitude, realizada indiscriminadamente, contribui para a formação de um quadro de distocia e aumenta as chances de mortalidade do bezerro. Daí a importância do treinamento dos trabalhadores da propriedade para aumentar a taxa de sobrevivência dos bezerros.

Colocar a vaca em um piquete maternidade é fundamental para o sucesso da prevenção da distocia e da mortalidade perinatal. As novilhas e vacas gestantes devem ser observadas, no mínimo, quatro vezes ao dia, à procura de sinais de parto iminente. A observação pode ser feita pelos funcionários a caminho das ordenhas e dos tratos, para racionalizar a mão-de-obra.

Os sinais de parto iminente incluem: distensão do úbere, edema vulvar, relaxamento do ligamento pélvico, isolamento do grupo, anorexia, corrimento vulvar mucoso, inquietude, aumento da frequencia urinária e fecal, dentre outros sinais atípicos de comportamento que denotam estresse agudo.

Após o começo dos sinais de parto, a fêmea deve ser monitorada aproximadamente a cada 3 horas, para detectar o início do segundo estágio do parto, caracterizado por contrações abdominais e expulsão do feto. O monitoramento frequente é necessário, pois a duração do estágio de preparação do parto é altamente variável entre as fêmeas bovinas. Caso haja rompimento do alantóide e extravasamento de fluido, o esperado é que dentro de, aproximadamente duas horas, haja a expulsão do feto, com exposição inicial dos cascos, da cabeça, seguida da propulsão final do bezerro.

 

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O médico veterinário deve intervir prontamente somente nos casos em que a mãe apresente causa segura de distocia, como: comprometimento do estado geral, corrimento vaginal com odor, distocias fetais por posicionamento ou dilatação insuficiente dos te-cidos moles da via fetal.

O trabalho de parto efetivo, corresponde às fases de dilatação e expulsão do feto, sendo o processo, em si, normalmente  continuo. A fase de dilatação, começa com as contra-ções uterinas, posicionando o bezerro para o parto, e se completa quando a cérvix está dilatada e o bezerro adentra a vagina. Geralmente, essa fase dura de 6 a 12 horas, mas os sinais externos são muitas vezes sutis, especialmente em  multíparas.

A presença de partes fetais na vagina induz a contração abdominal e caracteriza  o início da fase de expulsão do bezerro. Esta fase é caracterizada pela liberação de líquido alantoideano e o início de fortes contrações abdominais associadas às contrações uterinas. Essa fase tem duração média de 4 horas, embora o feto possa sobreviver por até 10 horas.

 

Diagnósticos eprognósticos  obstétricos

 

Diagnóstico obstétrico

O diagnóstico e prognóstico obstétrico devem referir-se às condições da matriz e do produto.

Apesar de o parto constituir uma situação que exige  decisões rápidas, nenhum procedimento obstétrico é recomendável antes de se estabelecer um diagnóstico preciso da evolução da parturição. Este diagnóstico deve precisar:

1- Estado geral da paciente.

2- Condição das vias fetais

3- Condição das bolsas fetais e

lubrificação da via fetal mole

4- Características morfológicas e de vitalidade do feto.

5- Apresentação, posição e postura fetal.

 

Prognóstico obstétrico

O prognóstico obstétrico deve considerar a sobrevivência do produto concebido, a vida e função reprodutiva da matriz.

A sobrevivência do produto depende diretamente da rapidez com que a parturiente for atendida. Sempre que houver grave risco para a mãe e para o feto, o obstetra deverá decidir qual será priorizado. Geralmente preserva-se a matriz, a não ser que haja motivos zootécnicos relevantes.

O prognóstico em partos distócicos é, em geral, bom nas seguintes situações:

1- Via fetal óssea estreita.

2- Abertura insuficiente da via

fetal mole, principalmente do canal cervical.

3- Feto relativamente ou absolutamente grande.

4- Anomalias de apresentações, posições e postura.

 

O prognóstico em partos distócicos deve ser considerado reservado nos seguintes circunstâncias:

1- Partos muitos demorados.

2- Ocorrências de grandes contaminações.

3- Manuseio indevido por pessoas inabilitadas.

4- Lesões graves das vias fetais ósseas e moles.

 

Intervenção no parto

 

Dilatação

A fase de dilatação, que pode durar de 6 a 12 horas, deve ser conduzida sem maiores interferências em ambiente tranqüilo, pois qualquer alteração pode levar a atraso. Nesta fase, é comum ocorrer manipulação do feto por leigos, visando extrair logo o bezerro. A manipulação precoce da fêmea gestante, praticada por veterinários ou por leigos, pode atrapalhar o curso natural daquele parto, acarretando  lesões da via fetal mole e até mesmo a perda da função reprodutiva da fêmea. Por isso, esta fase do parto pede prudência e paciência.

Se após o período de dilatação descrito acima as contrações abdominais não começarem, deve ser realizado um exame exploratório. Este exame poderá revelar problemas como fetos gigantes,  morte fetal, mau posicionamento, gêmeos, inércia uterina,  falha da dilatação da cervix, torção uterina ou variação normal na duração da fase de dilatação em um parto normal. Se a dilatação do colo do útero já começou sem outras anormalidades detectadas, o monitoramento deve continuar periodicamente.

Em condições normais, a bolsa com líquido alantoideano (primeira bolsa) insinua-se pela vagina, podendo romper-se com uma liberação repentina de  alguns litros de fluido, ou pode aparecer na vulva ainda intacta. Nem o alantóide nem o âmnion devem ser rompidos em partos normais, pois a pressão hidrostática dos liquidos da placenta nelas contidas ajuda a dilatar o colo do útero, iniciando o reflexo miometrial que estimula contrações, além de proteger o feto durante sua passagem pelo canal do parto. Cerca de 20% dos bezerros nascem com bolsa amniotica  intacta.       

 

Expulsão

Na sequência, inicia-se a fase de expulsão, caracterizada pela observação do am-nion no canal do parto, sem a presença do produto. Em 80% dos casos, o amnion se rompe, lubrificando as vias fetais. Observa-se então a insinuação dos membros do produto pela vulva, com a vaca ainda em pé. Gradativamente, durante a expulsão, a tendência da vaca é deitar-se para completar o parto. Finalizando o parto, as vacas normalmente permanecem em decúbito esternal ou mesmo se levantam, rompendo o cordão umbilical. Esta fase pode durar de 30 minutos a 3 horas.

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Considerações finais

Antes de assumir uma ação considere o histórico do trabalho de parto, sua duração, o progresso das fases de dilatação e expulsão, se já houve alguma manipulação e como esta manipulação ocorreu.

A frequência de intervenções precoces, durante a fase de dilatação, com ruptura de bolsas dos anexos fetais e tração inadvertida, aumentam o sofrimento fetal, acarre-tando riscos à sua sobrevivência. Deve-se aguardar a dilatação e somente intervir em casos de contrações improdutivas. A tração de um bezerro só deve ser efetuada em ca-sos de inércia uterina e quando os membros torácicos e a cabeça (apresentação longitudinal anterior) ou membros pelvinos e pelve já estiverem insinuados e palpáveis no quadrante pélvico materno.

Casos de assistência tardia a um trabalho de parto, devem ser precedidos de uma boa análise dos riscos, inclusive ao profissional, que se expõe a manusear produtos em estado avançado de enfizema e putrefação.

O ideal, nem sempre possível, é assistir ao parto somente quando necessário e no momento certo. Para tanto, o profissional deve contar com seus conhecimentos e todo o material necessário para atuar resolutivamente no  trabalho de parto, quer ele requeira uma simples observação, uma manobra obstétrica, uma cesariana ou mesmo uma feto-tomia.

As distocias em bovinos são problemas universais, que podem ocorrer em todas as propriedades. No entanto, algumas fazendas possuem uma freqüência consideravelmente alta, devido a nutrição inadequada, manejo ou intervenções errôneas. Este artigo fornece algum subsídio para avaliação do melhor momento da intervenção em um trabalho de parto. Nos artigos subseqüentes serão abordados procedimentos para resolver as distocias mais comuns e como prevenir estas ocorrências.

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