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Sanidade

SEM RAIVA

No Brasil, a Raiva é classificada como uma zoonose relevante, que causa alta mortalidade em rebanhos leiteiros, demandando medidas de controle epidemiológico rigorosas.

SEM RAIVA

A Raiva é uma doença que figura entre as principais causas de morte do rebanho leiteiro no Brasil e, além disso, é considerada uma zoonose de grande importância. Isso significa que pode ser transmitida entre animais e seres humanos, o que torna necessário um controle epidemiológico rigoroso.
Embora a Raiva seja uma doença que ocorre de forma cíclica nos rebanhos, muitas vezes a prevenção é negligenciada. É fundamental que se esteja atento à sua ocorrência e que sejam adotadas medidas preventivas adequadas.
Vale ressaltar que tais medidas preventivas apresentam impacto relativamente baixo no sistema produtivo, se comparadas aos riscos e prejuízos causados pela doença.

 Características da doença 

A Raiva é uma doença aguda e infectocontagiosa que se manifesta por meio de sintomas nervosos. O agente causador da doença é o Rabdovírus, um vírus capaz de penetrar na mucosa intacta, como os olhos e a boca, ou através de ferimentos.
No ambiente rural, o principal reservatório da Raiva é o morcego hematófago Desmodus rotundus, embora outras espécies de morcegos e mamíferos também possam transmitir a doença. É importante ressaltar que a Raiva pode acometer todos os mamíferos e apresenta uma letalidade de 100%.
A cadeia epidemiológica de transmissão da raiva apresenta quatro ciclos (Figura 1), nos quais o ser humano pode atuar como hospedeiro fi nal. São eles: (1) ciclo urbano, que envolve principalmente cães e gatos; (2) ciclo rural, que envolve morcegos hematófagos e animais de produção; (3) ciclo silvestre terrestre, que envolve animais silvestres; e (4) ciclo aéreo, que ocorre entre morcegos hematófagos e não-hematófagos.
O ciclo rural é particularmente relevante, uma vez que está associado a prejuízos econômicos significativos para os pecuaristas e apresenta riscos para a saúde pública. Esse ciclo envolve a transmissão do vírus da Raiva entre morcegos hematófagos e animais de produção, como bovinos e equinos.

A transmissão do vírus rábico normalmente ocorre por meio da saliva de um animal infectado para outro saudável, por meio de mordeduras, arranhões ou lambidas. Outras vias de transmissão também são relatadas, como a entrada do vírus através das membranas mucosas, incluindo os olhos (por meio de transplante de córnea), nariz (por aerossóis) e boca.
No caso do rebanho, a principal forma de transmissão é por meio da saliva de morcegos hematófagos infectados. Normalmente, os morcegos vivem em grutas no meio das florestas, o que significa que é necessário prestar mais atenção à ocorrência da doença em regiões próximas a matas que possuem muitas grutas. No entanto, com a expansão das propriedades e das cidades, os morcegos passaram a viver nas proximidades das fazendas, em casas abandonadas, bueiros ou galpões, o que cria um ambiente próximo aos animais e aos seres humanos. Isso facilita e amplifica o número de casos de raiva em animais herbívoros.
Uma forma provável de transmissão da Raiva dos bovinos para os seres humanos é através do contato da saliva ou tecido nervoso do animal infectado com membranas mucosas ou áreas de pele com ferimentos abertos.

Saber identificar bovinos com sinais clínicos compatíveis com quadros de Raiva é importante, embora nem sempre seja fácil chegar a essa conclusão, por isso todo cuidado é pouco. Os sinais apresentados pelos animais no início do quadro são inespecíficos, como o isolamento, perda de apetite e apatia, porém a evolução do quadro é rápida, progredindo para sinais neurológicos. Por essa razão, é extremamente importante manusear os animais que apresentam sinais neurológicos com extrema precaução na fazenda, pois pode ser um indicador da doença. É importante utilizar equipamentos de proteção individual, principalmente luvas, ao manipular os animais sintomáticos.  

OS SINAIS APRESENTADOS PELOS ANIMAIS NO INÍCIO DO QUADRO SÃO INESPECÍFICOS, COMO O ISOLAMENTO, PERDA DE APETITE E APATIA, PORÉM A EVOLUÇÃO DO QUADRO É RÁPIDA, PROGREDINDO PARA SINAIS NEUROLÓGICOS


Em animais que desenvolvem a doença podem ser observados um ou mais dos seguintes sinais clínicos: excitação exagerada, tremores musculares, salivação intensa (podendo ser espumosa), dificuldade de deglutição, andar cambaleante e descoordenado, movimentos de pedalagem, cabeça e pescoço arqueados em direção ao dorso, ranger dos dentes, diminuição dos reflexos, timpanismo, paralisia que normalmente começa nos membros posteriores, decúbito, depressão, perda de apetite, andar em círculos, inclinação da cabeça e automutilação. Em 100% dos casos, o animal evolui para a morte, o que pode ocorrer, em média, entre 5 a 10 dias após o início dos sinais.

 Bovino em decúbito lateral, apresentando inclinação da cabeça


Diagnóstico e vacinação

O diagnóstico definitivo é feito com o auxílio de técnicas laboratoriais, realizadas pelos órgãos de defesa animal dos estados. Para isso, deve ser feita a coleta de fragmentos de tecido do sistema nervoso central de animais com suspeita clínica de raiva após sua morte. A coleta de amostras em bovinos, feita por Médicos Veterinários, inclui fragmentos do cérebro com hipocampo, cerebelo, medula espinhal e tronco encefálico com óbex (a distribuição do vírus rábico não é homogênea no sistema nervoso central e, por essa razão, a porção de eleição para encaminhamento ao laboratório de diagnóstico varia de espécie para espécie).  

As amostras devem ser mantidas sob refrigeração ou congeladas, dependendo do tempo de previsão do envio e encaminhadas a um laboratório que realiza o diagnóstico de Raiva. Por meio de teste de imunofl uorescência direta, reação em cadeia da polimerase em tempo real (PCR) e isolamento viral em cultivo celular ou inoculação em camundongos (esse último, desaconselhado). O resultado positivo para qualquer uma das três provas já confirma a doença. Dessa forma, um novo caso provável dentro de um foco já confirmado pode ser considerado caso confirmado por critério clínico-epidemiológico, independentemente do resultado laboratorial.
Entre bovinos, as amostras negativas para Raiva, em especial o tronco encefálico, são encaminhadas para os laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para o diagnóstico diferencial de Encefalopatia Espongiforme Bovina.
Assim como a Febre Aftosa, a Tuberculose e a Brucelose, a Raiva também está entre as doenças de notificação obrigatória. Dessa forma, os criadores de animais, em casos de suspeita ou confirmação da doença, devem fazer a notif cação imediata ao Serviço Veterinário Oficial (composto pelas unidades do MAPA e pelos Órgãos Estaduais de Sanidade Agropecuária), podendo ser realizada presencialmente ou por diferentes vias de comunicação como, por exemplo, telefone ou e-mail. Após a notificação, técnicos serão encaminhados para realizar a investigação e tomar providências necessárias, conforme previsto em legislação oficial específica.
Uma vez que a doença se manifesta, nada pode ser feito pelo animal, porém o poder público utiliza os dados notificados para a aplicação de medidas de controle na região do surto, tais como intensificação da vacinação em animais e controle da população de morcegos, de forma a impedir a sua disseminação e permitir a diminuição ou erradicação dos casos, conforme as normas zoossanitárias oficiais.

A vacinação é a forma mais efetiva de controle da doença. Apesar de não ser obrigatória fora de regiões endêmicas, ou seja, com um grande e constante número de casos, a vacinação contra a Raiva é de grande importância para a proteção dos rebanhos em todo Brasil, pois a doença está difundida em todo o território. A vacina precisa ser aplicada antes do contato com o vírus, pois demora cerca de 21 dias para ter resposta imunológica e produção de anticorpos de forma efetiva. Com o passar do tempo, a taxa de anticorpos começa a decair, o que torna necessária a revacinação anual do rebanho.
Nos centros urbanos, a incidência de Raiva em animais e seres humanos tem diminuído desde a implementação do Plano Nacional de Profilaxia da Raiva em 1973 e devido a uma maior conscientização da comunidade sobre os riscos de manter animais não vacinados. No entanto, quando se trata de Raiva em herbívoros na zona rural, os casos continuam a ocorrer. Isso pode ser atribuído à falta de políticas públicas para o combate da doença no campo, bem como à falta de consciência dos produtores em relação à vacinação e ao desequilíbrio ecológico causado pela destruição das florestas que abrigam os morcegos, levando a sua aproximação às fazendas.
No Brasil, segundo dados do MAPA, são notificados entre 40 e 50 mil animais perdidos por ano para a doença, mas estima-se que esses números sejam ainda maiores, uma vez que existe subnotificação. O custo da prevenção é mínimo se comparado ao custo pela perda dos animais e o risco de contaminação com o vírus da raiva.
No caso de contato com animais suspeitos ou positivos para a Raiva, as orientações são: lavar imediatamente o local da ferida com água e sabão, procurar urgentemente o Serviço de Saúde mais próximo, além de informar o ocorrido à Unidade Veterinária Municipal ligada ao Serviço Veterinário Oficial. Não é recomendado sacrificar o animal, ele deve ser mantido em observação por 10 dias para que se possa realizar um exame mais confiável no encéfalo. O animal deve receber água e alimentação normalmente em local seguro para evitar fuga ou ataque a outras pessoas ou animais. Caso o animal apresente sintomas de doença, morte, desaparecimento ou mudança de comportamento, é importante retornar imediatamente ao serviço de saúde.

A VACINAÇÃO É CRUCIAL PARA GARANTIR A SEGURANÇA DA POPULAÇÃO E O CONTROLE EPIDEMIOLÓGICO DA DOENÇA, ALÉM DE PREVENIR PREJUÍZOS ECONÔMICOS SIGNIFICATIVOS

Recomendações
É importante ressaltar que a recomendação é de que os produtores rurais vacinem seus rebanhos, que podem incluir bovinos, búfalos, cavalos, caprinos, ovinos, cães e outros animais presentes no ambiente de produção. A vacinação é crucial para garantir a segurança da população e o controle epidemiológico da doença, além de prevenir prejuízos econômicos significativos. É importante que todos tomem as devidas precauções.




MELISSA GUEDES SILVEIRA - Graduanda em Medicina Veterinária (EV-UFMG)
BÁRBARA DE ANDRADE ALVES - Doutoranda em Ciência Animal (EV-UFMG)
RAYSSA EMANUELLE DOS REIS CARVALHO - Graduanda em Medicina Veterinária (EV-UFMG) GABRIELA ANTEVELI - Mestranda em Ciência Animal (EV-UFMG)
TIAGO FACURY MOREIRA - Professor de Clínica de Ruminantes (EV-UFMG)




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