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Septicemia nos bezerros: como prevenir?

Quando o assunto é a resposta clínica generalizada de prognóstico desfavorável, é melhor prevenir do que remediar. Permitir o avanço da sepse, nem pensar!

Septicemia nos bezerros: como prevenir?

Inúmeras doenças são conhecidas no meio rural, mas pouco se sabe sobre a sepse, a septicemia e os prejuízos que essas acarretam à saúde dos bezerros. A septicemia nada mais é do que um processo inflamatório exacerbado, gerado para sinalizar e recrutar defesas contra algum agente infeccioso presente no organismo.  A sepse é uma forma da doença em que há resposta sistêmica generalizada. Já o choque séptico é o agravamento da sepse, no qual desenvolve-se hipotensão e reduz-se a oxigenação dos órgãos e tecidos do corpo, podendo culminar em choque cardiogênico, hipovolêmico e/ou distributivo – ou seja, a circulação sanguínea torna-se insuficiente e pode levar à morte do animal. Assim, a sepse e o choque séptico implicam em possível falência generalizada progressiva de múltiplos órgãos. 

A síndrome pode desenvolver-se sempre que o animal estiver exposto a uma infecção por fungo, bactéria, vírus ou protozoário. Porém, ocorre, em especial, quando bactérias (bacteremia) e/ou suas toxinas (endotoxemia) estão na circulação sanguínea. As principais bactérias causadoras de bacteremia e endotoxemia que culminam em sepse são as classifi cadas como gram-negativas, das quais a Escherichia coli destaca-se como responsável pela maior parte dos casos.  Em seguida, as bactérias dos gêneros Campylobacter spp, Salmonella spp e Enterobacter spp, além da Mannheimia haemolytica, são citadas na literatura mundial como possíveis causadoras de sepse e septicemia. É interessante mencionar que essas bactérias podem estar presentes no ambiente e no próprio organismo do animal, sem causar dano algum e, mesmo em quadro de infecção, não necessariamente levarão ao desenvolvimento do quadro septicêmico, uma vez que o desenvolvimento das doença é determinado não só pelos agentes infecciosos envolvidos, mas também pelo desafio enfrentado pelo hospedeiro e a sua relação  com o ambiente em que está inserido. 

Assim que o bezerro nasce, ele precisa lidar com vários desafios, como manter a temperatura corporal e respirar por conta própria. Além disso, precisa ter energia para se desenvolver e para manter o organismo ativo diante dos patógenos presentes no ambiente. De maneira geral, os bezerros são indivíduos mais vulneráveis, por nascerem com o sistema imune imaturo e desprovido de anticorpos.  Logo, dependem da excelente colostragem para se protegerem dos agentes infecciosos. A higiene dos baldes, mamadeiras, sondas e demais utensílios utilizados na colostragem também é de grande importância, pois, quando armazenados com restos de leite e colostro, fornecem substrato para o crescimento bacteriano. Nesse caso, ao ser colostrado, o animal (cujo trato gastrointestinal não possui microbiota adaptada e cuja resposta imune ainda não foi plenamente desenvolvida), receberá grande quantidade de bactérias patogênicas. Quando a colostragem é ineficiente ou quando o bezerro é desafi ado antes ou durante a colostragem, a chance de apresentar um quadro séptico se torna muito mais alta.


Uma das principais portas de entrada para os microrganismos nos recém-nascidos é o coto umbilical:  quando o coto permanece úmido ou entra em contato com superfícies sujas, as bactérias têm a oportunidade perfeita de colonizá-lo. O umbigo, então, servirá como porta de entrada para as bactérias atingirem a cavidade abdominal, podendo chegar nos órgãos do sistema urinário, na veia umbilical e/ou nas artérias umbilicais. Caso as bactérias atinjam a circulação sanguínea, é comum que causem danos, como abscessos hepáticos, peritonites, artrites sépticas, orquites e meningites, pois passam a ter acesso a todos os órgãos do corpo, podendo, inclusive, culminar em sepse. Dessa maneira, os neonatos são os indivíduos mais susceptíveis à sepse, especialmente do 2º ao 6º dia de idade. 

Outra importante fonte de contaminação pode ser o local do parto. Neonatos que nascem em locais com acúmulo de matéria orgânica ou em instalações que não possuem área apropriada para o parto estão ainda mais susceptíveis ao contato com diferentes agentes infecciosos e ao desenvolvimento de sepse, uma vez que ainda não foram colostrados ou tiveram o umbigo desinfectado. As diarreias, grandes vilãs da mortalidade em bezerros, também são causadoras de quadros septicêmicos, especialmente quando acometem animais que sofreram falha da transferência de imunidade passiva (colostragem defi ciente). Apesar das bactérias não serem sempre as causas das diarreias e apesar da desidratação ser a principal causa de morte entre bezerros diarreicos, porcentagem importante desses animais desenvolve bacteremia e sepse. Por tudo isso, o ambiente do parto, a colostragem, a cura de umbigo adequada e a prevenção das diarreias neonatais são vitais aos bezerros. A sepse e o choque séptico implicam em possível falência generalizada progressiva de múltiplos órgãos.

Os neonatos são os indivíduos mais susceptíveis à sespse, especialmente do 2° ao 6° dia de idade 

Sinais da sepse

Os sinais clínicos podem variar com o grau da sepse e podem ser inespecíficos. No geral, é possível observar diminuição na ingestão de leite; depressão; febre (temperatura retal acima de 39,5 °C) ou hipotermia (temperatura retal abaixo de 38 °C); aumento das frequências cardíaca e respiratória; mucosas arroxeadas ou avermelhadas; desidratação e extremidades frias. Em  alguns animais, é possível observar hipópio, o acúmulo de material purulento ou fibrina na câmara anterior do olho. Na maioria das vezes, a desidratação e a acidose metabólica são as sintomatologias mais importantes, por ocasionarem graves disfunções no organismo, além de contribuírem para a imunossupressão e reduzirem a capacidade do sistema imune combater o patógeno causador do quadro.  

 Foto 1. Bezerro com halo hiperêmico (regiões de cor vermelha-escura e/ou arroxeada próximas aos dentes) – sinal na mucosa associado à sepse


Foto: Gabriela Anteveli


Foto 2. Bezerro com dispneia (dificuldade respiratória) – sinal respiratório associado à sepse.

Foto: Gabriela Anteveli  

                                                                                                                      

De maneira geral, bezerros que apresentam depressão devem ser monitorados, especialmente se houver febre, pois estão em risco de sepse ou estão prestes a entrar no quadro septicêmico.

Principais manifestações clínicas de bezerros cometidos por sepse.



O segredo é prevenir 

A saúde da vaca e o ambiente do parto devem ser os primeiros pontos a serem observados: a vaca deve parir em instalação seca e limpa, sob supervisão dos colaboradores, para que a contaminação umbilical e oral do recém-nascido seja reduzida.

 Foto 3. Bezerro com hipópio – sinal oftalmológico associado à sepse.

Foto: Gabriela Anteveli   


A colostragem adequada também é item importante na profilaxia: o animal deve receber colostro em volume correspondente a, ao menos, 10% de seu peso ao nascimento, com qualidade superior a 25% de Brix, livre de contaminações e, de preferência, em até duas horas após o nascimento – com a passagem das primeiras horas de vida, o intestino do bezerro torna-se gradualmente incapaz de absorver o colostro. Em paralelo, a cura de umbigo e o tratamento eficaz contra as diarreias são essenciais. A vacinação das vacas contra Escherichia coli e Salmonella spp. é um diferencial para a produção do colostro de qualidade e, consequentemente, a proteção do bezerro contra as diarreias e sepses.

O tratamento dos animais acometidos deve ser determinado pelo Médico Veterinário e envolve antibioticoterapia, antiinflamatórios não esteroidais e hidratação (intravenosa e/ou oral). O prognóstico de bezerros em sepse é reservado a ruim e varia especialmente em decorrência da idade, da colostragem recebida e da severidade do quadro clínico. Por isso, não resta dúvida de que esforços não devem ser poupados na manutenção da higiene e no manejo que reduz a exposição do animal às bactérias do ambiente. Sepse, nem pensar – é sempre melhor prevenir do que remediar!


REFERÊNCIAS

BRUNA LARISSA CÂNDIDA SANTOS
Graduanda em Medicina Veterinária (Faculdade Arnaldo)
ISABELA BERNARDES MOREIRA
Graduanda em Medicina Veterinária (EV-UFMG)
GABRIELA ANTEVELI
Mestranda em Ciência Animal (EV-UFMG)
RODRIGO MELO MENESES
Professor de Clínica de Ruminantes (EV-UFMG)

 


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Comentários

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  • Image usuário

    21/02/2024 15:19:24 - ODERMAN OLIVEIRA LIMA:

    Que artigo bacana esse. Muito bem explicado e de grande utilidade na clínica de bovinos. Parabéns.

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