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Sanidade

Uso adequado da cama afeta a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras

Uso adequado da cama afeta a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras

Texto: Aline G. Dibbern, Marcos V. dos Santos

Existem várias opções de materiais para serem utilizados em camas de vacas leiteiras. As taxas de mastite clínica e subclínica causada por microrganismos ambientais estão relacionadas com a contagem de bactérias na cama e com o tipo de material utilizado. A decisão em relação à escolha do material depende da disponibilidade do mesmo, do conforto animal, da relação custo x benefício relacionada com implantação e manutenção, e da facilidade de limpeza e manejo de resíduos.

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Introdução

O manejo e uso adequado de camas em sistema de confinamento de fazendas leiteiras contribuem para o conforto da vaca, saúde do úbere e qualidade do leite. Uma cama limpa e seca possibilita manter a limpeza das vacas, pois inibe o crescimento e a transferência de microrganismos para a pele do teto. Uma cama adequada e confortável evita lesões, aumenta o tempo que as vacas ficam deitadas e facilita perda de calor. Em muitos rebanhos leiteiros, o uso adequado da cama pode reduzir a mastite ambiental, uma das principais causas de prejuízos na atividade leiteira. As características desejáveis de uma área de descanso incluem: conforto para deitar, superfície uniforme, temperatura adequada, material não abrasivo, e proporcionar locomoção adequada sem lesões ou contusões. Para tanto, busca-se utilizar um material para cama que tenha crescimento microbiano baixo, drenagem de umidade adequada, facilidade de limpeza e manutenção de mão de obra nas baias, e baixo custo de implantação e manutenção.

 

Escolha do material

Diversos fatores devem ser considerados na seleção de materiais utilizados para cama em fazendas leiteiras, o que inclui o custo, a disponibilidade, a estrutura das instalações, o conforto das vacas, a facilidade de uso e de manutenção, o armazenamento e a facilidade de manejo de resíduos dentro da fazenda. A cama ideal deve ser seca, inerte (para reduzir o crescimento microbiano), de baixo custo e deve contribuir para o conforto e limpeza da vaca, além da facilidade de manejo.

O dimensionamento e o posicionamento das instalações também podem interferir na manutenção das camas e no material a ser escolhido. Instalações com ventilação inadequada, muitas vezes, têm um microclima que pode aumentar o nível de umidade e estimular o crescimento de bactérias na cama, ocasionando futuros casos de mastite clínica ou subclínica. A superlotação de vacas é outro fator que pode contribuir para a rápida deterioração da cama. A cama é um importante fator que influencia o conforto animal e, consequentemente, a rentabilidade e a produção da atividade leiteira.

 

Tipos de materiais

O tipo de material escolhido e o manejo da cama pode ter grande impacto sobre a saúde do úbere. Os tipos mais comuns de cama incluem a areia, a serragem, a maravalha, as palhadas, a compostagem de esterco, e os colchões construídos a partir de materiais como borracha e espuma. Os materiais da cama podem ser orgânicos e inorgânicos, os quais apresentam vantagens e desvantagens.

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Materiais orgânicos

Os materiais orgânicos mais usados são a palha, ou o feno, a serragem, a maravalha, resíduos de culturas (de milho, espigas, casca de café, e outros), resíduo de polpa de papel e de papel picado, compostagem de esterco seco, e materiais similares. Estes materiais são usados como cama devido à alta absorção de umidade, compatibilidade com sistemas de tratamento de esterco e alta disponibilidade em fazendas leiteiras. Uma das principais desvantagens destes materiais é que podem facilitar o crescimento microbiano rápido e favorecer o aumento da contaminação ambiental, o que pode aumentar os casos de mastite ambiental.

O tamanho da partícula também pode influenciar o aumento de microrganismos contaminantes na cama. O número de patógenos aumenta com a diminuição do tamanho das partículas. Materiais muito finos, tais como serragem, podem ter baixa contaminação antes da utilização, mas o tamanho pequeno da partícula facilita o crescimento rápido de bactérias e exige manutenção mais intensiva da cama. Os materiais de partículas muito finas são mais propensos a aderir à pele do teto, o que aumenta a população de bactérias nos tetos e o risco de infecção intramamária. Os resíduos de madeira, como a maravalha, que possuem maior tamanho de partícula, suportam crescimento mais lento de bactérias.

Estes materiais têm sido utilizados em algumas fazendas, onde as condições climáticas contribuem para um ambiente seco durante a maior parte do ano, sendo geralmente livres dos principais patógenos causadores de mastite ambiental quando aplicados inicialmente.  No entanto, o esterco seco é um excelente meio de crescimento microbiano, tornando-se inadequado para utilização em camas em sistema de confinamento do tipo Free Stall ou com bastante umidade. Estas condições representam um grande risco para as vacas, pois podem aumentar o número de novos casos de mastite ambiental pelo crescimento de bactérias indesejáveis, uma vez que a umidade, a partir de urina e fezes, é adicionada diariamente. Estudos revelam que em algumas regiões onde a umidade do ambiente e as temperaturas não são favoráveis para o uso eficaz da compostagem, há maior exposição aos patógenos ambientais e incidência de mastite. 

A compostagem (Compost Bedded Pack Barns) tem sido utilizada com maior frequência em algumas fazendas dos Estados Unidos, no estado de Minnesota, e mais recentemente no Brasil. Ao contrário do sistema convencional de camas, no sistema de compostagem, a cama é manejada duas vezes ao dia, durante a ordenha das vacas, para incorporar o esterco fresco aos demais resíduos secos, a fim de proporcionar uma superfície fresca e seca, com aproximadamente 25 cm de profundidade. A principal meta para a construção deste tipo de instalação é melhorar o conforto e o bem estar animal, a saúde das vacas, e aumentar a longevidade, além de facilitar o manejo.

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Este tipo de cama pode proporcionar menor benefício para a redução de patógenos ambientais em países tropicais devido à grande variação de temperaturas e condições climáticas. Estes agentes possibilitam a contaminação da extremidade do teto, o que aumenta o risco de novos casos de infecção intramamária (IIM). As principais implicações econômicas com a utilização de compostagem para cama incluem maquinários, mão de obra especializada e custos associados com o manejo da cama, como implantação e manutenção adequada.

Materiais de cama inorgânicos: Os materiais inorgânicos mais utilizados são a areia e os colchões. Muitos pesquisadores e produtores consideram a areia como o melhor material para cama, uma vez que é inerte e não permite o crescimento de bactérias. A areia deve ser de boa qualidade e armazenada adequadamente em galpões fechados, fora do alcance da chuva (umidade), e com pouca lama ou argila. O número de coliformes e estreptococos ambientais encontrados na areia é quase sempre menor do que os encontrados em materiais orgânicos, e a diminuição da contagem bacteriana está associada com taxas reduzidas de novas infecções por patógenos ambientais.

As pesquisas indicam que a areia é o melhor material de cama para a saúde do úbere, para a limpeza e o conforto das vacas. A areia possui uma baixa capacidade de retenção de água e uma textura solta que se ajusta ao tamanho e ao peso das vacas, além de evitar lesões e problemas de aprumos. No entanto, a baia requer quantidade considerável de areia e cuidados no manejo de dejetos comparados com outros materiais de cama. Os estudos indicam maior preferência da vaca por superfícies mais macias e pela areia do que pelos colchões, no entanto, em climas mais frios, a preferência pela areia diminui, e a preferência pelos colchões aumenta.

Este efeito sazonal está relacionado com a capacidade da areia de conduzir o calor da vaca e proporcionar uma superfície mais fria, o que é uma vantagem em climas mais quentes. A reciclagem da areia também pode ser utilizada nas fazendas, possibilitando a redução dos custos com reposição. A principal recomendação é que a areia apresente no máximo 3% de matéria orgânica (MO) para evitar crescimento bacteriano. As principais características desejadas na areia são o baixo teor de matéria orgânica, sem detritos ou pedras, textura e granulometria apropriada e sem umidade.

O tamanho das partículas de areia não deve ultrapassar 3 mm, e nem todos os fornecedores de areia são adequados para o materiais de camas, necessitando atenção na hora da compra, para garantir que ela esteja em conformidade para o uso em sistema de confinamento do tipo Free Stall.

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Outra alternativa no sistema Free Stall é a utilização de colchões, construídos a partir de borracha e de espuma. Comparado com a areia e outros tipos de materiais de cama orgânicos e inorgânicos, o custo inicial é maior, no entanto, o custo de mão de obra associado à manutenção é inferior, além da higienização ser mais fácil. As principais considerações ao selecionar um colchão é o conforto animal, o peso das vacas, o tipo de material do colchão, a disponibilidade do material na região, a longevidade das vacas e do material, e a relação custo x benefício. Os materiais utilizados em alguns colchões tendem a compactar e a deteriorar com o tempo devido ao peso do animal, e assim perder suas principais propriedades, diminuindo o conforto e aumentando problemas nas articulações.

Em um estudo realizado com 50 rebanhos selecionados aleatoriamente em confinamento do tipo Free Stall no estado de Minnesota (EUA), verificou-se que a prevalência de claudicação (problemas nos membros locomotores) foi maior para rebanhos com colchões (27,9%) do que rebanhos com camas de areia (17,1%), em vacas com escore de locomoção superior a 3, na escala de 1 a 5 (onde 1 = Normal e 5 = Severa). Além disso, a prevalência de lesão no jarrete foi de 71% com o uso de colchões e de 29% para camas de areia, em vacas com escore de lesão superior a 2 na escala de 1 a 3 (em que 1 = Normal, 2 = Perda de pêlo, e 3 = Inchaço).

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Conclusão

Atualmente, existem várias opções de materiais para serem utilizados em camas de vacas leiteiras. As taxas de mastite clínica e subclínica causada por microrganismos ambientais estão relacionadas com a contagem de bactérias na cama e com o tipo de material utilizado. A decisão em relação à escolha do material depende da disponibilidade do mesmo, do conforto animal, da relação custo x benefício relacionada com implantação e manutenção, e da facilidade de limpeza e manejo de resíduos. Os colchões podem reduzir as necessidades de trabalhos diários, mas os custos iniciais são maiores, além da maior incidência de lesões. A areia é uma das opções mais utilizadas pelos grandes produtores de leite, devido à menor ocorrência de lesões e ao maior conforto e bem estar das vacas.  No entanto, a areia necessita cuidado redobrado na higienização das camas, evitando resíduo acima de 3% de matéria orgânica, o que pode proporcionar crescimento bacteriano e incidência de mastites. 

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