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Clínica do Leite

Análise de ureia do tanque como indicador do status nutricional do rebanho

Análise de ureia do tanque como indicador do status nutricional do rebanho

Texto: Laerte Dagher Cassoli

Recentemente uma nova fraude do leite foi descoberta no sul do país, na qual transportadores adicionavam água e ureia ao leite para aumentar o volume de venda. Por meio da análise de ureia e também de formaldeído (composto presente na formulação da ureia) no leite UHT foi possível identificar a fraude. Neste artigo, vamos falar exatamente sobre o teor de ureia no leite, não para fins de monitoramento de fraude, mas como uma importante ferramenta de avaliação do status nutricional dos nossos rebanhos. Por meio da ureia podemos ter informações preciosas sobre como está a alimentação dos nossos animais. Desejo a todos uma excelente leitura.

Ureia, um componente natural no leite

A ureia é um composto presente naturalmente no leite. Durante o processo de degradação da proteína no rúmen do animal, é produzida amônia (NH3) que, por sua vez, é utilizada pelas bactérias ruminais para a síntese de proteína microbiana. Para que este processo ocorra de forma eficiente, é necessária a presença de carboidratos (ou simplesmente “Energia”) na dieta. A amônia, juntamente com os carboidratos formam o substrato necessário para que ocorra síntese de proteína microbiana no rúmen, uma proteína de alta qualidade, necessária para os processos biológicos do animal (produção de leite por exemplo). Porém, nem toda amônia produzida no rúmen é aproveitada e parte acaba sendo absorvida pela parede ruminal e transportada pela corrente sanguínea até o fígado para ser metabolizada e transformada em ureia. A ureia, por sua vez, também ganha a corrente sanguínea até ser excretada pelos rins via urina. Por ser uma molécula pequena, acaba sendo secretada também pela glândula mamária no processo de síntese do leite. A ureia no leite é, portanto, reflexo da ureia sanguínea que, por sua vez, é reflexo da degradação da fração proteica no rúmen.

Se, eventualmente, fornecemos uma dieta com baixa concentração de proteína, teremos uma baixa liberação de amônia e, consequentemente, uma ureia mais baixa no leite. Por outro lado, se a dieta apresentar excesso de proteína e/ou falta de carboidratos, haverá excesso de amônia liberada no rúmen e, consequentemente, um teor elevado de ureia no leite. A ureia portanto, é um bom indicador do balanço de proteína/energia da dieta que está sendo consumida pelos animais.

 

Análise de ureia

A determinação do teor de ureia no leite é feita na mesma amostra encaminhada aos laboratórios para análise de gordura, proteína e CCS. Pode ser realizada tanto nas amostras individuais dos animais, como também na amostra do tanque coletada pela indústria para realização das análises oficiais exigidas pelo Ministério da Agricultura (MAPA). A Clínica do Leite da ESALQ/USP foi o primeiro laboratório no país a realizar a análise de ureia, no ano de 2002 e, atualmente, todos os laboratórios da RBQL (Rede Brasileira de Controle da Qualidade do Leite) já possuem equipamentos capazes de realizar a análise. Temos divulgado intensamente a análise de ureia entre as indústrias e laticínios, visto que a amostra já esta sendo coletada, transportada e analisada para os demais componentes. Ou seja, o trabalho mais difícil já está sendo feito e, com um pequeno investimento adicional, o produtor/técnico pode ter uma informação valiosa sobre a alimentação dos animais.

 

Qual o teor esperado de ureia no leite do tanque?

Existem vários trabalhos que definem qual deveria ser o teor adequado de ureia no leite, contudo o padrão utilizado pela Clínica do Leite é a faixa de 10 a 14 mg/dL de leite. Com esta concentração, temos indicativos de que o balanço de proteína e energia da dieta está adequado. A análise de ureia é uma ferramenta adicional, e não única, para se avaliar a nutrição dos animais.

 

Qual a situação dos rebanhos monitorados pela Clínica do Leite?

Atualmente, a Clínica do Leite monitora mensalmente o teor de ureia em mais de 20 mil fazendas por meio da análise do leite do tanque.

O teor médio de ureia ao ano é de cerca de 11 mg/dL de leite, como podemos observar no Gráfico 1.

Captura de tela 2016-09-15 a?s 12.16.21.png (42 KB)

A média destas fazendas se encontra dentro da faixa recomendada, que é de 10 a 14 mg/dL. Porém, ao analisarmos a distribuição destas fazendas notamos uma grande variação, como podemos observar no Gráfico 2.

Captura de tela 2016-09-15 a?s 12.16.26.png (40 KB)

Na faixa recomendada, de 10 a 14, temos cerca de 55% das fazendas. Abaixo de 6 mg/dL, valor considerado muito baixo, indicando deficiência de proteína na dieta, temos cerca de 15% das fazendas. Nesta situação, os animais estão produzindo leite abaixo do seu potencial. Se uma correção na dieta for feita, certamente haverá um aumento na produção de leite por vaca nesses rebanhos.

Por outro lado, observarmos também que cerca de 20% das fazendas possuem ureia no tanque acima de 16 mg/dL. Nesta situação, temos, eventualmente, um excesso de proteína na dieta, associado ou não à baixa energia (carboidrato). Nesta situação, a fazenda pode estar tendo um gasto adicional com fornecimento de proteína que não está sendo devidamente aproveitada pelo animal. Além disso, existem vários trabalhos que indicam efeito negativo sobre a reprodução dos animais em caso de excesso de ureia no sangue/leite.

Fica evidente  que existe uma grande área de oportunidade na nutrição dos nossos rebanhos, o que pode representar redução no custo e/ou aumento de produção. Algumas indústrias já realizam o monitoramento mensal de ureia no tanque dos seus produtores com o objetivo de auxilia-los no manejo nutricional.

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