Chácara Aurora/Johannes Franke de Jong/Carambeí/PR
Na Chácara Aurora, a genética do rebanho e os valores herdados, como a persistência e o amor à família, impulsionam o planejamento do futuro, no qual pai e filho renovam a parceria, materializada nas modernas estruturas, e buscam aprimorar suas práticas na pecuária leiteira.
A paixão pelos animais de pelagem vermelha e branca acompanha Johannes Franke de Jong, conhecido como Chico, desde a infância.
Algumas vacas de pelagem vermelha e branca embelezam o rebanho da Chácara Aurora, localizada em Carambeí/PR, e pertencente a Johannes Franke de Jong, apelidado carinhosamente como Chico. A princípio, poderia parecer um detalhe sem relevância, pois muitas fazendas leiteiras têm a mesma composição de cores nas suas vacas. No entanto, nesse caso específico, as poucas vacas vermelhas que se destacam da maioria, geralmente preta e branca, possuem lugar especial no coração de Chico. Ele conta que, quando era criança, seu pai vendeu a única vaca vermelha que existia no rebanho e pela qual tinha grande estima. Alguns anos após a venda, a comunidade que adquiriu o animal eternizou sua memória em uma pequena escultura de bronze, que ainda hoje decora as paredes da fazenda, com palavras de agradecimento pela qualidade genética e produtiva do animal. Por esse motivo, a pelagem dessas vacas alcança significados profundos no coração de Chico e parece se traduzir como a continuidade do legado do pai, marcado pela excelência genética e compromisso com a produção leiteira.
Entre continentes
A mudança de continente foi decidida pela família de Jong na década de 1960, inspirada pela narrativa de oportunidades e futuro promissor, feitas por um primo distante que já estava radicado no interior do Paraná. A experiência na pecuária leiteira vinha da pequena propriedade que o pai de Chico dividia com os tios no interior da Holanda, fundamental para o recomeço da vida em outra realidade.
A qualidade do rebanho iniciada pelo pai ainda se faz presente na Chácara Aurora, assim como os valores herdados, como a persistência e o amor à família. Chico conta que começou a produção própria na fazenda na década de 1990, com pouca estrutura e movido pela paixão pela pecuária leiteira. “Montamos um barracão e fizemos um poço artesiano para garantir água. Meu pai me cedeu 25 vacas para começar a produção. Os primeiros 10 anos foram extremamente difíceis, pois não tínhamos estrutura, máquinas ou qualquer recurso. Mas graças a Deus, fomos seguindo em frente”, conta ele. Construiu, em parceria com sua esposa Regina de Jong, além da família com os três filhos, Ketrin Loraine, Fabio Henrique e Kaylaine Manuelle de Jong, a fazenda que atualmente cria animais confinados, se preocupa com a sustentabilidade ambiental e dos negócios e tem suas práticas balizadas pelo bem-estar animal. “Em 2019, começamos a construção das novas estruturas, incluindo galpões de Compost Barn e Free Stall, ordenha e outras novas instalações. Esse investimento representou um degrau bastante alto para nós. O custo foi significativo e para iniciar essa nova fase a cooperativa nos orientou na parte financeira e deu apoio para dar o pontapé inicial na nova estrutura,” relembra Chico. Em especial, Chico contou com o conhecimento e o olhar do filho Fábio, que como Zootecnista participa ativamente da tomada de decisões da fazenda e, juntos, começaram a pensar o futuro da Chácara Aurora.
A nova fase
“Comecei a me envolver mais ativamente na propriedade pouco antes de darmos início à construção da nova estrutura. Na época em que o rebanho estava em sistema de semiconfinamento, começamos a planejar os galpões, visitando outras propriedades para aprender e definir como seriam os nossos”, conta Fábio de Jong. Ele relata que com a transição para o confinamento do rebanho e a adoção da terceira ordenha, os resultados positivos vieram rapidamente. A produção anterior de 3 mil L/dia, resultante de duas ordenhas, logo se tornou coisa do passado. A produção atual alcança 7 mil L/dia e é fruto dos investimentos realizados. Os 180 animais em lactação acomodados no Free Stall, com produtividade média de 38,9 litros por dia, são motivo de grande orgulho tanto para pai quanto para filho. A fazenda também possui outra estrutura importante, um galpão de Compost Barn, destinado ao alojamento das vacas no pré e pós-parto, onde recebem ventilação controlada, aspersão na linha de cocho e dieta cuidadosamente balanceada. Essas medidas têm como objetivo proporcionar conforto e nutrição adequada para as vacas durante essas fases cruciais, garantindo bem-estar e maximizando a saúde e produtividade do rebanho.
A sustentabilidade é o conceito que permeia toda a estrutura da fazenda e engloba três dimensões fundamentais: econômica, uma vez que busca ser produtiva, rentável e eficiente; ambiental, ao utilizar de forma adequada os recursos naturais, como o reuso da água da chuva e a energia solar; e social, presente na promoção do bem-estar dos colaboradores envolvidos na atividade leiteira.
Chico ressalta que essa renovação trouxe um ar de recomeço, “sinto como se estivéssemos iniciando a propriedade do zero”. Atualmente, Fábio e Chico planejam o confinamento das vacas secas e a construção do novo bezerreiro, visando proporcionar maior conforto e sanidade para as bezerras em aleitamento. “Além disso, temos como objetivo confinar a recria, visando oferecer melhores condições e cuidados especiais às novilhas em crescimento”. Como consequência de tantos investimentos, a nova sala de ordenha, uma linha central com nove conjuntos, equipada com extração automática, não para de trabalhar.
A eliminação da necessidade de percorrer longas distâncias até a ordenha, o ambiente controlado, a presença de baias de descanso e o acesso livre à alimentação são fatores que desempenham papel fundamental para garantir o bem-estar dos animais confinados no sistema Free Stall.
Cuidado desde cedo
Fábio não hesita em responder que suas duas áreas de maior dedicação na Chácara Aurora são a genética e o bezerreiro. “A genética é algo que acompanho desde o início, junto com meu pai, e o bezerreiro foi a responsabilidade que ele me delegou.”
As 23 bezerras alojadas em baias individuais foram alimentadas com pelo menos 10% do peso vivo em volume de colostro, nas primeiras duas horas após o nascimento, quando é feita, também, a cura do umbigo. “Quanto ao aleitamento, utilizamos o sistema step-up/ step-down, começando com três litros de sucedâneo e aumentando gradualmente até chegar a quatro litros por dia, quando reduzimos até o desaleitamento”, explica Fábio.
As bezerras recebem ração especial até aproximadamente 40 dias de vida. Após esse período, passam a receber outro tipo de ração e são transferidas para a baia coletiva, onde serão desaleitadas por volta dos 75 dias de vida, alcançando peso médio de 120 kg. “As bezerras representam nossas vacas do futuro, por isso recebem cuidado especial para que possam se desenvolver bem e se tornarem boas produtoras”.
“A Chácara Aurora sempre prezou pelos cuidados com os animais jovens, incluindo a atenção dedicada à criação dos machos. Há anos adotam o sucedâneo como dieta líquida, com resultados evidentes na qualidade dos animais. Atualmente, utilizam o sucedâneo com colostro em pó em sua formulação, o que se traduziu em melhorias significativas na saúde e desempenho dos animais”, afirma Marília Ribeiro, Dra Sprayfo da Trouw Nutrition e Consultora Técnica da criação dos bezerros na propriedade.
AS BEZERRAS REPRESENTAM NOSSAS VACAS DO FUTURO, POR ISSO RECEBEM CUIDADO ESPECIAL PARA QUE POSSAM SE DESENVOLVER BEM E SE TORNAREM BOAS PRODUTORAS
O sistema step-up/step-down, consiste em ajustar os volumes fornecidos de sucedâneo, de acordo com a idade do animal. Seu principal objetivo é incentivar o consumo de concentrado durante o período que antecede o desaleitamento.
Uma questão importante na pecuária leiteira está relacionada ao destino dado aos bezerros machos. Frequentemente, esses animais são descartados ou doados, uma vez que a engorda não é considerada economicamente viável, sem retorno direto na própria atividade. No entanto, na Chácara Aurora, os bezerros são criados com o propósito de produzir carne, o que se mostrou uma forma eficiente de gerar renda. Essa iniciativa foi estimulada pelos resultados positivos alcançados por um grupo de cooperados da Frísia. Monique Niens, Assistente Técnica de Pecuária da cooperativa, explica que “a ideia de utilizar esses animais para a produção de carne surgiu a partir de pedidos dos próprios cooperados. Assim, iniciou-se um projeto para engordar 90 animais e avaliar os resultados”. O projeto foi bem-sucedido, mostrando que é viável tanto tecnicamente quanto financeiramente. Atualmente, 18 cooperados estão envolvidos no projeto, engordando os animais e enviando cerca de três cargas por mês para o frigorífico. A Frísia atua como intermediária nesse processo, fornecendo assistência técnica desde o nascimento dos animais até o momento do abate. “Os bezerros são enviados ao frigorífico Astra, que é habilitado para exportar para a China. Essa parceria se mostrou vantajosa, uma vez que os bovinos enviados não precisam ter acabamento tão grande em gordura, o que favorece a criação de animais jovens com bom peso”, explica Monique. A opção de enviar os bezerros para a China soluciona um problema que incomodava a todos. “Agora, a fazenda pode caminhar em direção a um futuro promissor nesse empreendimento, ao garantir destino adequado para os bezerros machos e contribuir para o setor de corte com animais de qualidade”, completa Fábio.
Monique Niens, Assistente Técnica de Pecuária da Frísia, trabalha em parceria com os produtores para garantir que a destinação adequada dos bezerros machos de raças leiteiras não apenas maximize os benefícios para o produtor, mas também melhore o bem-estar dos animais
Agradecer faz crescer
A relação entre pai e fi lho projeta o futuro de progresso na Chácara Aurora. O sentimento de gratidão vem passando pelas gerações e traz maturidade às relações e aos processos. A começar por Chico: “quando olho para trás, consigo perceber o crescimento contínuo e a evolução constante da propriedade ao longo dos anos. No presente, investimos para dar continuidade ao trabalho. O futuro é incerto, mas trabalhamos para melhorar a genética e o conforto dos animais, aumentando a produtividade por vaca. O momento presente é o que nos conta a história e, hoje, estamos satisfeitos em ver o progresso que alcançamos”. Mais do que projetar o futuro, que envolve a análise da viabilidade da ordenha robotizada, a ampliação do confinamento para as novilhas e a renovação do bezerreiro, Fábio sente-se realizado e agradecido pela parceria com o pai na atividade leiteira.
Com orientação da cooperativa, Chico e seu filho Fábio uniram conhecimentos para transformar a infraestrutura da Chácara Aurora.
“Sou grato ao meu pai por toda a vivência e ensinamentos que acumulei ao longo desses anos. Trabalhar junto com propósito é algo gratificante. Essa parceria nos traz muita satisfação e realização. É uma honra poder dar continuidade ao trabalho do meu pai e ver a fazenda prosperar ao longo dos anos.” Assim como a incorporação da genética vermelha e branca no rebanho representa a realização de um desejo antigo de Chico, presenciar a nova geração assumindo espaços na Chácara Aurora parece acrescentar ainda mais cores aos sonhos.
É UMA HONRA PODER DAR CONTINUIDADE AO TRABALHO DO MEU PAI E VER A FAZENDA PROSPERAR AO LONGO DOS ANOS
ADRIANA VIEIRA FERREIRA – Equipe Revista Leite Integral
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