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Geral, Gestão

Como calcular e interpretar o indicador de rentabilidade?

Realizar o cálculo de um indicador específico, seja de natureza técnica ou econômica, por si só, não constitui base suficiente para fundamentar a tomada de decisão. É essencial interpretar e ir além dos números. Uma interpretação precisa deriva da análise de diversos indicadores, culminando no mais abrangente e conclusivo de qualquer empreendimento: a rentabilidade.

Como calcular e interpretar o indicador de rentabilidade?

Para facilitar a compreensão sobre a interpretação de indicadores técnicos e econômicos, a Labor Rural apresenta a dinâmica que emprega nos programas de treinamento direcionados a profissionais envolvidos em assistência técnica e gestão.

O caminho da rentabilidade 

O percurso em direção à rentabilidade funciona como um processo de encadeamento de influências, assemelhando-se a um funil, composto por uma série de indicadores. Embora a rentabilidade do negócio resulte da interação de todas as métricas relacionadas à atividade, a atenção será concentrada nos quatro principais indicadores-chave. Esses indicadores mantêm interconexões tanto em termos qualitativos quanto quantitativos que, por sua vez, se refletem na rentabilidade.

  1. Indicador “vacas em lactação/total de rebanho (%)”: considerando que todos os animais implicam em despesas diárias, enquanto somente as vacas em lactação contribuem ativamente para as receitas, a proporção de vacas em lactação em relação ao total do rebanho desempenha papel importante na manutenção do equilíbrio dos custos e na geração de margem. Calcular esse índice é tarefa simples: basta dividir o número de vacas em lactação pelo total do rebanho, resultando em uma porcentagem. Entretanto, é importante notar que esse resultado não passa de uma operação matemática, sendo insuficiente para fornecer explicações causais. Por isso, a interpretação dos indicadores correlacionados é essencial, e os principais estão ilustrados na Figura 1. Por meio dessa abordagem, fica evidente que situações como a observação inadequada do cio ou o ganho médio diário insatisfatório na fase de cria e recria podem impactar adversamente esse indicador.


2. Indicador “produção de leite por hectare (litros/ ha/ano)”: ao buscar aprimorar a eficiência global da atividade, é imperativo otimizar o uso do capital empatado em terra que, de maneira geral, figura como o componente principal do estoque de capital das propriedades leiteiras. Esse índice pode ser calculado de maneira direta, ao dividir a produção anual de leite (em litros/ano) pela área total empregada na atividade leiteira (em ha). No entanto, é imprescindível compreender a cadeia de indicadores que exerce influência sobre esse indicador-chave. Essa interconexão está ilustrada na Figura 2, juntamente com seus principais elementos. Essa análise possibilita compreender que, por exemplo, o bem-estar dos animais impacta diretamente a produtividade do rebanho e, consequentemente, afeta a eficiência do uso da terra.

Adicionalmente, é importante destacar que o indicador previamente discutido, “vacas em lactação/total de rebanho”, desempenha importante papel na eficiência do uso da terra. Isso se deve ao fato de que a área alocada para a atividade abrange todo o rebanho, mas a produção leiteira provém exclusivamente das vacas em lactação. Assim, ao combinar a interpretação desse indicador com o mencionado anteriormente, torna-se possível compreender, por exemplo, que perdas na taxa de prenhez podem impactar diretamente os resultados do indicador “produção de leite por hectare (litros/ha/ ano)”. Essa correlação pode não ser óbvia somente observando a fórmula de cálculo. Isso ilustra a razão pela qual apenas a fórmula em si não é suficiente para a interpretação de qualquer indicador. É fundamental compreender a interdependência dos fatores que moldam o resultado do indicador.


3. Indicador “estoque de capital, incluindo a terra, por litro (R$/litro/dia)”: esse indicador permite avaliar a eficiência de converter o capital empatado na atividade em produtos, nesse caso, o leite. No esquema ilustrado na Figura 3, se encontra a representação do processo que envolve esse indicador. O indicador anterior (“produção de leite por hectare”) também se encontra inserido nesse contexto. Essa inclusão é evidente, uma vez que, considerando que o indicador mede a eficiência da utilização dos recursos em sua totalidade, a eficiência na utilização do capital empatado em terra está intrinsecamente atrelado à cadeia de influência desse indicador. Assim, todos os fatores que afetam o indicador anterior também exercem impacto sobre o atual indicador. Ou seja, mesmo que não fique explícito na fórmula de cálculo, a baixa produtividade das forrageiras, por exemplo, tem o potencial de prejudicar diretamente a eficiência no uso do capital.

É fundamental ressaltar que o capital que realmente gera receitas se relaciona à parte do rebanho constituída pelas vacas em lactação. Sob essa perspectiva, o primeiro indicador apresentado anteriormente (“vacas em lactação/total de rebanho”) também está inserido na Figura 3. Isso acontece porque o capital empatado na atividade é empregado pelo rebanho como um todo, enquanto a produção de leite deriva das vacas em lactação. Com isso, torna-se claro que, por exemplo, intervalo prolongado até o primeiro parto pode influenciar diretamente esse indicador, apesar de não ficar evidente na equação matemática que o calcula.

4. Indicador “margem líquida da atividade (R$/ ano)”: esse indicador é calculado pela subtração do custo operacional total da atividade (R$/ano) da renda bruta da atividade (R$/ano). A margem líquida anual representa um componente direto da rentabilidade. Em outras palavras, a análise da rentabilidade deve ser considerada em conjunto com o resultado da margem líquida anual. Isso se deve à seguinte razão: uma rentabilidade de 10% ao ano, por exemplo, pode resultar de uma margem líquida anual de R$ 100.000,00 sobre um capital empatado de R$ 1.000.000,00, assim como o mesmo índice de rentabilidade de 10% pode ser resultado de uma margem líquida anual de R$ 1.000.000,00 sobre um capital investido de R$ 10.000.000,00.
A partir da observação da Figura 4, fica evidente que os outros indicadores discutidos previamente estão incorporados no contexto da margem líquida. Essa inclusão decorre da relevância da proporção de vacas em lactação e da eficiência na utilização dos recursos para o equilíbrio dos custos e para a geração de margem. Assim, a interpretação correlacionada continua sendo fundamental.


Por fim, a rentabilidade 

Para calcular o indicador de rentabilidade (% ao ano) é simples: basta dividir a margem líquida anual da atividade pelo montante de capital investido - incluindo a terra. No entanto, ao considerar essa fórmula de cálculo, fica evidente que a rentabilidade é, na realidade, o resultado derivado da multiplicação de outros dois indicadores (lucratividade operacional e taxa de giro do estoque de capital), que requerem análise prévia antes da interpretação isolada do resultado da rentabilidade.

É possível perceber que apenas boa lucratividade operacional, (ou seja, elevada geração de margem líquida em relação à renda bruta), ou apenas boa taxa de giro do estoque de capital caracterizada pela elevada renda bruta em relação ao capital empatado, podem não ser suficientes para alcançar boa rentabilidade.

Para tornar isso mais claro: considere uma fazenda com lucratividade operacional de 30% (resultado positivo, dado que a média recomendada é de no mínimo 20%), mas com taxa de giro do estoque de capital de 10% (resultado abaixo do esperado, uma vez que a média recomendada é de no mínimo 50%). Nesse cenário, a rentabilidade será apenas de 3% ao ano. Similarmente, uma fazenda com lucratividade operacional de 5%, mas com taxa de giro do estoque de capital de 60%, também resultará em rentabilidade de apenas 3% ao ano. Ambas as fazendas alcançam o mesmo índice de rentabilidade, contudo, os caminhos para atingir esse resultado diferem. Isso enfatiza que somente o valor numérico do indicador não é suficiente no processo de interpretação de indicadores e tomada de decisões . Para aprimorar os resultados destacados anteriormente, a adoção do funil da cadeia de influência da rentabilidade pode ser altamente benéfica na análise de áreas a melhorar e nas decisões no negócio. Essa abordagem ressalta que essa cadeia de influência da rentabilidade pode ser simplificada nos indicadores discutidos anteriormente, visto que a lucratividade operacional e a taxa de giro do estoque de capital estão englobadas por eles. Além disso, essa reflexão evidencia que todos os elementos e setores das propriedades leiteiras podem ser abrangidos por esses quatro indicadores (Figura 5).

SOMENTE O VALOR NUMÉRICO DO INDICADOR NÃO É SUFICIENTE NO PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO DE INDICADORES E TOMADA DE DECISÕES



Aplicação do funil da rentabilidade 

Ao longo desse conteúdo, foram mencionados apenas alguns fatores. No entanto, um exercício valioso consiste em expandir ainda mais esses indicadores. Essa abordagem mais detalhada contribuirá significativamente para a compreensão e interpretação de indicadores técnicos e econômicos, bem como para a aplicação prática na tomada de decisões relacionadas ao negócio.
Mais do que simplesmente memorizar fórmulas, é essencial compreender as conexões entre os indicadores. Focar unicamente no resultado final pode limitar a interpretação de qualquer indicador, visto que a análise deve ultrapassar o mero valor numérico.
Todos os indicadores, independentemente de serem indicadores-chave ou não, seguem uma função “y = x” matemática (fórmula de cálculo) e uma função “y = z” técnica (relações entre os fatores), que se assemelham a um funil. Esse funil constitui a cadeia de influência que culmina na rentabilidade do negócio.
Com essas informações em mãos, é responsabilidade do produtor implementá-las em sua propriedade. Em colaboração com consultor especializado em assistência técnica e gestão, o produtor deve identificar as áreas específicas em que precisa agir em nível “micro”, visando aprimorar os resultados em nível “macro”. Essa abordagem visa alcançar equilíbrio entre sustentabilidade e rentabilidade na atividade leiteira, tornando-a ainda mais atrativa.

MAIS DO QUE SIMPLESMENTE MEMORIZAR FÓRMULAS, É ESSENCIAL COMPREENDER AS CONEXÕES ENTRE OS INDICADORES. FOCAR UNICAMENTE NO RESULTADO FINAL PODE LIMITAR A INTERPRETAÇÃO DE QUALQUER INDICADOR, VISTO QUE A ANÁLISE DEVE ULTRAPASSAR O MERO VALOR NUMÉRICO




WILLIAM HELENO MARIANO - Zootecnista da Labor Rural


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