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Sanidade

Como proteger o seu rebanho contra a Leptospirose?

A leptospirose bovina é transmitida pelo contato com a urina de ratos e outros animais, assim como pela água, alimentos e superfícies contaminados. Saiba como proteger o seu rebanho!

Como proteger o seu rebanho contra a Leptospirose?

A leptospirose bovina é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Leptospira. Pode causar prejuízos à atividade leiteira ao reduzir a produtividade dos animais, aumentar a taxa de mortalidade e provocar abortos. Além disso, a leptospirose é uma zoonose e, por esse motivo, representa risco significativo para a saúde pública. Disseminada em escala global, é considerada endêmica no Brasil. A incidência é mais expressiva nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, onde as condições climáticas são mais favoráveis à propagação do agente patogênico. No entanto, também é observada com alta frequência nas regiões Sul e Sudeste. Um dos desafios relacionados à leptospirose bovina é a sua capacidade de se manifestar de forma subclínica, o que significa que os animais infectados não exibem sinais visíveis da doença. Nessas circunstâncias, os animais podem perpetuar a transmissão da doença, estabelecendo, assim, um ciclo vicioso.

Para entender a leptospirose
A leptospirose é uma enfermidade causada por bactérias com formato de espiroquetas móveis, pertencentes ao gênero Leptospira. Esse gênero é muito diverso, com várias espécies que podem infectar mamíferos. Dentro de cada espécie, existem grupos denominados sorovares, que são semelhantes em algumas características imunológicas. Um dos pontos mais importantes e preocupantes é que as bactérias que causam a doença não são específicas de um único hospedeiro. Cada sorovar de Leptospira pode infectar diversas espécies, inclusive humanos. Isso representa desafio significativo para a saúde pública, pois a leptospirose é uma zoonose de natureza ocupacional. As pessoas que atuam diretamente com o agente causador da doença, como aquelas que trabalham na lida com bovinos, nas plantações de arroz e cana-de-açúcar, nas indústrias de carne, entre outras atividades laborais, estão mais suscetíveis à infecção.

A LEPTOSPIROSE É UMA ENFERMIDADE CAUSADA POR BACTÉRIAS COM FORMATO DE ESPIROQUETAS MÓVEIS, PERTENCENTES AO GÊNERO LEPTOSPIRA

Apesar de não serem exclusivas para uma espécie hospedeira, certos sorovares têm afinidade por alguma, o que influencia diretamente no aspecto clínico da doença. As infecções acidentais ocorrem quando o hospedeiro não é a preferência daquele sorovar, resultando em infecções agudas e sintomas clínicos mais severos. Por outro lado, as infecções adaptadas acontecem quando o agente possui preferência por determinado tipo de hospedeiro, levando à apresentação crônica da doença, com quadros clínicos menos intensos.

 

Figura 1. Os profissionais da Medicina Veterinária constituem o grupo de maior susceptibilidade à leptospirose no âmbito ocupacional, sobretudo quando envolvidos no manejo de rebanhos bovinos leiteiros

A transmissão A transmissão da leptospirose ocorre pela penetração ativa da espiroqueta através da mucosa da pele íntegra ou lesionada, em ambientes contaminados. A contaminação ambiental é oriunda da urina de animais portadores renais, e a sobrevivência do agente depende de condições como temperatura, umidade e pH, que se tornam fatores de risco (Figura 2).

 

Diversos fatores contribuem para o risco de transmissão, como:
• O manejo sanitário da fazenda;
• A interação entre diferentes espécies em pastoreio;
• O sistema de produção;
• O nível de tecnificação;
• O clima da região;
• A presença de cães e roedores.
Especialmente se os roedores tiverem acesso à alimentação dos bovinos, eles se tornam responsáveis pela transmissão da forma acidental da doença. O contato direto com a urina também é via de transmissão.

Ainda, existem relatos na literatura sobre a transmissão da leptospirose via placentária, secreções do trato reprodutivo (como sêmen e secreção vaginal) e por meio do leite de vacas contaminadas. Em relação aos hospedeiros da doença, podem ser classificados em dois grupos:
Hospedeiros de manutenção: são reservatórios naturais da doença, como os ratos de esgoto e d’água;
Hospedeiros acidentais: são suscetíveis à infecção, mas não conseguem manter a bactéria em seu organismo, como cães, caprinos, equinos, ovinos, suínos, bovinos e seres humanos.

 

Figura 3. As leptospiras entram no organismo humano e animal pelos olhos, boca, nariz e órgãos genitais, por meio do contato com ambientes contaminados pela urina de roedores ou pelo manuseio das excreções de animais doentes.

A infecção
Uma vez que a Leptospira penetra na pele ou mucosa do animal, se multiplica entre as células, causando lesões e, como consequência, sinais clínicos, além de se disseminar pelo sangue. A partir desse ponto, se espalha pelos órgãos do bovino, como fígado, pulmões, rins e trato reprodutivo. No entanto, quando o bovino é saudável e possui boa resposta imunológica, em poucos dias desenvolve anticorpos capazes de retirar as bactérias da circulação e dos tecidos. Por isso, ao realizar a sorologia de vários sorovares, é comum encontrar muitos animais positivos nas fazendas. Contudo, ter a presença de anticorpos não significa necessariamente que o bovino tenha alterações clínicas ou esteja realmente doente. Quando o bovino está imunossuprimido e entra em contato com a bactéria, podem surgir alguns quadros clínicos.

Os bovinos e a doença
Os sintomas da leptospirose bovina variam de acordo com a soro variedade do infectante e a suscetibilidade do animal. Como resultado, os animais podem ser assintomáticos ou sintomáticos. A doença afeta ambos os sexos, sendo mais pronunciada em animais jovens, os quais podem manifestar febre, icterícia e hemoglobinúria, frequentemente associadas a alta letalidade. Em bovinos adultos, os sintomas da enfermidade relacionam-se mais à questão reprodutiva. Nas fêmeas, observam-se ocorrências de abortamento, subfertilidade ou infertilidade, morte embrionária precoce e repetição de cio. É relevante destacar que os sinais clínicos da leptospirose podem ser confundidos com outras doenças infecciosas, como rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), brucelose, tripanossomose e tricomoníase. Além disso, o estresse por calor, especialmente durante o verão em animais criados a pasto, pode também causar abortos.

O diagnóstico da leptospirose
O diagnóstico da leptospirose em bovinos baseia-se em três pilares: epidemiológico, clínico e laboratorial. O diagnóstico epidemiológico utiliza informações como baixa eficiência reprodutiva no rebanho, presença significativa de roedores, épocas do ano de maior incidência, especialmente durante períodos chuvosos, e sinais clínicos sugestivos da doença. O diagnóstico clínico inicial pode ser desafiador, pois os sintomas da leptospirose bovina são comuns a outras enfermidades já conhecidas. Por fim, o diagnóstico laboratorial é fundamental para a confirmação. Baseia-se na detecção de anticorpos, identificação do agente ou detecção do material genético da bactéria na urina ou nos tecidos do animal. Um dos testes sorológicos mais utilizados é a soro aglutinação microscópica (SAM), considerada o padrão-ouro, por possuir alta especificidade. Essa técnica envolve a reação entre os anticorpos IgM e IgG presentes no soro e os antígenos encontrados na superfície da Leptospira (suspensão de sorovares de Leptospira spp.). É crucial ressaltar que o resultado sorológico positivo não confirma automaticamente o diagnóstico de leptospirose, pois a bactéria pode estar presente no rebanho sem causar sintomas clínicos evidentes. Por essa razão, é recomendado realizar o teste em vacas poucos dias após o abortamento, em que altos níveis de titulação podem indicar a presença da doença.

Tratamento e prevenção
As medidas recomendadas para a prevenção e controle da leptospirose nos rebanhos incluem a vacinação dos animais e a desratização, sendo essas as mais eficazes. Para reduzir os efeitos da doença, o controle deve incluir antibioticoterapia, vacinação e manejo adequado, especialmente em áreas alagadiças. Os antibióticos são utilizados inicialmente para reduzir o número de animais infectados e minimizar a transmissão horizontal.
A prevenção da leptospirose envolve várias medidas, como:
Controle da população de roedores: os roedores são os principais reservatórios da Leptospira, portanto, o controle da sua população é uma das medidas mais importantes para a prevenção da doença. Pode ser realizado com o uso de produtos químicos, armadilhas ou outros métodos;
Destinação adequada do lixo: o lixo a céu aberto é fonte de alimento para roedores, portanto, é importante destinar o lixo de forma adequada, evitando que fique exposto;
Saneamento básico e educação ambiental: melhorias nas condições higiênico-sanitárias e educação ambiental também contribuem significativamente para reduzir o potencial zoonótico da leptospirose.

O controle da leptospirose em rebanhos deve incluir as seguintes medidas:
• Controle do acesso dos animais a áreas alagadiças;
• Manutenção da higiene dos bebedouros e água para consumo;
• Uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas e botas, recomendado para prevenir exposições ocupacionais;
• Manejo adequado, incluindo a vacinação e o uso de técnicas como inseminação artificial, para evitar a transmissão sexual da leptospirose;
• Identificação do sorovar predominante para a seleção da vacina apropriada e para apontar as prováveis fontes de contaminação.

AS MEDIDAS RECOMENDADAS PARA A PREVENÇÃO E CONTROLE DA LEPTOSPIROSE NOS REBANHOS INCLUEM A VACINAÇÃO DOS ANIMAIS E A DESRATIZAÇÃO, SENDO ESSAS AS MAIS EFICAZES

Por fim
A leptospirose bovina é uma doença de importância econômica e sanitária que pode causar prejuízos significativos à atividade leiteira, além de representar risco para a saúde pública, pois pode ser transmitida aos humanos. Por isso, é essencial que sejam tomadas medidas de profilaxia para seu controle. Essas medidas devem incluir ações de educação sanitária e medidas de biossegurança, adaptadas à realidade de cada propriedade. É importante avaliar quais são os sorovares prevalentes na região e direcionar as ações de todos os envolvidos no processo produtivo, de forma clara e acessível. Portanto, a adoção de medidas de controle e prevenção deve ser sempre orientada por profissionais capacitados.




GISLAINE OLIVEIRA GOUVEIA - Graduanda em Medicina Veterinária EV-UFMG
LUANA TEIXEIRA LOPES - Graduanda em Medicina Veterinária EV-UFMG
MELISSA GUEDES SILVEIRA - Graduanda em Medicina Veterinária EV-UFMG
GABRIELA ANTEVELI - Mestranda em Ciência Animal EV-UFMG
ELIAS JORGE FACURY FILHO - Prof. Clínica de Ruminantes EV-UFMG
RODRIGO MELO MENESES - Prof. Clínica de Ruminantes EV-UFMG e Coordenador GEMP (Grupo de Estudos em Medicina de Produção)


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