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Gestão, Manejo, Qualidade do Leite, Sanidade

Controle do manejo para redução da mastite

Diferentes processos e inúmeras variáveis compõem o painel que precisamos controlar para superarmos a mastite.

Controle do manejo para redução da mastite

A mastite é responsável por grande impacto na eficiência e rentabilidade das fazendas. Entre outros fatores, o impacto é atribuído à queda no volume do leite produzido pelas vacas acometidas pelas formas clínica e subclínica da doença, e essa queda pode persistir durante toda a lactação. 

As perdas produtivas podem representar 80% dos custos relacionados à mastite (HUIJPS et al., 2008) e os quartos mamários infectados por agentes contagiosos podem apresentar produção reduzida em 700 mL de leite/ordenha (GONÇALVES et al., 2018). A literatura apresenta cálculos que podem ser aplicados para estimarmos as perdas associadas à mastite nas fazendas. Para isso, são necessários dados, como: controle leiteiro e CCS individual mensais.

De acordo com análise de 191 mil dados extraídos da Consultoria Rehagro, entre os anos de 2020 e 2021, as vacas sadias apresentaram, em média, produção de leite de 32,9 litros/dia, enquanto as vacas com mastite subclínica (CCS superior a 200 mil células/ mL) apresentaram produção média de 26,1 litros/dia, ou seja, 7 litros de leite/dia de diferença (Figura 1). 


Figura 1. Valor médio da produção de leite de vacas sadias e vacas com mastite subclínica, classificadas de acordo com a CCS individual.

Fonte: Consultoria Rehagro 

Para que seja possível reduzir as perdas em produção e aumentar, consequentemente, o faturamento da atividade, é fundamental entender os pontos que demandam interferência na propriedade, considerando a dinâmica da CCS do rebanho. O controle da mastite dependerá da redução da exposição das vacas aos agentes causadores (na tentativa de diminuir os casos de novas infecções) e das tomadas de decisão para reduzir o número de vacas doentes no rebanho (tratamentos efetivos, terapia da vaca seca e descarte, por exemplo). A redução dos casos de mastite, portanto, é consequência da adoção permanente das boas práticas na rotina, as quais incluem o manejo do ambiente e da ordenha. 


CONTROLE DO AMBIENTE 

O manejo do ambiente é fundamental para a redução da exposição dos tetos aos agentes causadores de mastite e para assegurar que as vacas cheguem limpas na sala de ordenha. A manutenção do ambiente seco, limpo e confortável pode ser desafiadora, especialmente no período chuvoso. Por esse motivo, a atuação preventiva, à começar pela investigação dos problemas e o diagnóstico de situação, é a melhor alternativa: quais os desafios da propriedade? Quais medidas podem ser antecipadas para reduzir os desafios inerentes ao período das águas?

Quando as vacas são alojadas em sistema de confinamento, seja Free Stall ou Compost Barn, a manutenção das camas limpas e secas inclui medidas estruturais e de manejo. No caso do Free Stall, as estruturas devem ser dimensionadas de acordo com o porte médio do rebanho, para reduzir a defecação sobre as camas e outros problemas, como as lesões de pernas e cascos. Ainda sobre as camas, é preciso estabelecer rotina diária de limpeza e planejar a reposição do material, de acordo com a avaliação visual. O grau de sujidade das vacas também pode ser avaliado, para auxiliar a determinação da frequência de limpeza das camas, considerando, também, a realidade da propriedade.

No caso do Compost Barn, o sucesso no manejo das camas está na aeração, por meio do revolvimento diário e da manutenção da umidade entre 40 e 60%, os quais reduzem a formação de torrões e a multiplicação das bactérias causadoras das mastites, além de garantirem adequada temperatura para o processo de compostagem, que deve variar entre 54ºC e 65ºC (BLACK et. al., 2013). Essas condições podem ser garantidas por meio da avaliação visual – da presença de torrões na cama e da limpeza do úbere, das pernas e dos pés das vacas no momento da ordenha – e da aferição semanal da temperatura da cama, na profundidade de 25 cm a 30 cm.   

As estratégias para manter a estrutura de repouso em condições adequadas também incluem a redução da lotação e o fornecimento de fluxo de ar e ventilação, que auxiliarão na redução do estresse térmico dos animais e na secagem do material das camas.

Pesquisadores compararam diferentes tipos de cama de confinamentos e identificaram que o material escolhido expõe as vacas a diferentes patógenos causadores de mastite e podem alterar a proporção dos agentes envolvidos nos casos de mastite clínica, porém, a incidência de mastite clínica não difere de acordo com o tipo de cama (ROWBOTHAM et. al., 2016). Somada a isso, a inclusão de aditivos nas camas, como a cal hidratada, não é capaz de promover redução da carga microbiana por mais de 48 horas após a aplicação.  

Nos sistemas de pastejo e semi-confinamento, a limpeza dos corredores e do caminho até a ordenha, somada à cobertura vegetal para drenar as águas, são fundamentais. É necessário, ainda, disponibilizar área de sombra natural ou artificial sufi ciente (média de 5 m²/vaca), disposta na direção norte-sul, para que a sombra se movimente ao longo do dia. Para as sombras artificiais (sombrites), o dimensionamento deve considerar que a largura deve ser até 1,5 vezes maior que a altura. Dessa forma, além de reduzir o estresse térmico, será fornecido acesso às áreas de sombra, com menor umidade e, consequentemente, menor risco à mastite.


CONTROLE DA ORDENHA 

A qualidade em todos os aspectos da ordenha ainda não é amplamente adotada nas fazendas. Para realizar a ordenha gentil e completa, com tetos limpos e desinfetados, é preciso estar ciente aos pontos:  

• Conduzir as vacas de forma tranquila facilita a ação da ocitocina (e a descida do leite), bem como a manipulação e limpeza dos tetos; 

• Utilizar luvas limpas durante toda a ordenha reduz os riscos de transmissão de patógenos; 

• Realizar o teste da caneca em todas as vacas e em todas as ordenhas, desprezando os três primeiros jatos de cada teto, contribui para a descida do leite e a identificação das vacas com mastite clínica; 

• Aplicar a solução pré-dipping em todo o teto, por 30 segundos, melhora a desinfecção dos tetos e reduz os casos de mastite, especialmente os causados por agentes ambientais;

• Realizar a secagem da lateral e ponta dos tetos garante tetos limpos e secos antes da colocação do conjunto de teteiras; 

• Colocar o conjunto de teteiras de forma alinhada, entre 60 e 90 segundos após o início da preparação da vaca, permite que a extração do leite seja iniciada no momento do pico de ação da ocitocina e a ordenha seja harmônica e regular; 

• Retirar o conjunto de teteiras quando o fluxo de leite estiver reduzido evita a sobreordenha e o risco de lesão na ponta dos tetos, o qual configura porta de entrada para agentes causadores de mastite; 

• Aplicar a solução pós-dipping em todo o teto reduz o risco de mastite, especialmente a causada por agentes contagiosos.


Além da atuação preventiva, estratégias corretivas (ajustes dos manejos e intensificação da disciplina na ordenha) podem ser elaboradas, por exemplo: 

• Remover o excesso de sujidade dos tetos com papel toalha, antes da aplicação da solução pré-dipping, potencializa sua ação desinfetante; 

• Aplicar dois pré-dippings (na sequência: pré-dipping, teste da caneca, outro pré-dipping) aumenta a limpeza e desinfeção dos tetos.


DESINFETANTES

Os desinfetantes de tetos devem possuir recomendação para essa finalidade, para que haja a correta antissepsia e manutenção da integridade da pele dos tetos. 

O iodo possui amplo espectro, sendo efetivo contra bactérias, fungos e vírus. Por ser capaz de remover a proteção natural da pele, os produtos dessa base possuem emolientes, para preservar a integridade do teto (NICKERSON, 2001). 

O hipoclorito de sódio, assim como o iodo, possui amplo espectro, mas pode ter menor preço. Porém, é facilmente inativado na presença de matéria orgânica. Por esse motivo, a água utilizada para a diluição deve ser de excelente qualidade. As soluções possuem limitação de diluição (máximo 4%, para não promoverem irritação na pele dos tetos e do ordenhador) e devem ser preparadas até 24 horas antes da utilização, devido à baixa estabilidade e à alta volatilidade (NICKERSON, 2001). 

A clorexidina possui alta ação e amplo espectro. Porém, não é recomendada para rebanhos com alta contaminação pelos agentes Serratia spp. e Pseudomonas spp., os quais permanecem vivos e tornam-se fonte de transmissão para outros animais (NICKERSON, 2001).  

A escolha do produto desinfetante deve considerar o custo-benefício, as limitações de uso, os desafios ambientais e os patógenos prevalentes na propriedade. Ainda mais importante que a escolha do princípio ativo é a efetividade na aplicação do produto e na cobertura dos tetos (ENGER et. al., 2016).


LINHA DE ORDENHA 

A ordenação das vacas com mastite clínica, para que sejam as últimas da ordenha, reduz a transmissão de patógenos durante o processo e minimiza os riscos de resíduo de antibiótico no leite. A linha de ordenha é estratégia fundamental no controle da mastite, principalmente quando consideramos as características de transmissão e manifestação dos casos causados por agentes ambientais e contagiosos.

Os agentes ambientais possuem pouca adaptação à glândula mamária, causando, em sua maioria, casos clínicos de mastite. Sua transmissão ocorre entre as ordenhas, em função da exposição dos tetos aos agentes presentes nos ambientes de permanência e circulação das vacas.  

Por isso, o controle está diretamente relacionado ao manejo do ambiente, à desinfecção dos tetos antes da colocação das teteiras (pré-dipping) e à segregação de vacas com mastite clínica. 

Ao contrário dos ambientais, os agentes contagiosos possuem maior adaptação à glândula mamária, de forma que causam, em grande parte, casos subclínicos de mastite. Sua transmissão ocorre durante a ordenha, de vacas contaminadas para vacas sadias, por meio de teteiras e mãos do ordenhador contamidados, à exemplo dos casos de Streptococcus agalactiae e Staphylococcus aureus. Sendo assim, o controle dos agentes está diretamente relacionado aos cuidados na rotina da operação, como a utilização de luvas e a desinfecção dos tetos após a ordenha (pós-dipping).

Além desses, a realização da CCS individual ou do CMT, para a identificação das vacas com mastite subclínica (CCS superior a 200 mil células/mL), e da cultura microbiológica, para a identificação do agente responsável pelos casos clínicos, são estratégias que funcionam para segregar as vacas acometidas para o final da ordenha e reduzir os riscos de transmissão. Assim, a linha de ordenha comtempla, primeiramente, as vacas sadias e de menor CCS e, por fi m, as vacas contaminadas e em tratamento.  


CONTROLE DOS EQUIPAMENTOS 

O equipamento de ordenha limpo e tecnicamente funcional é essencial para a ordenha regular, completa e segura aos animais e operadores. Em contrapartida, o equipamento com funcionamento ou limpeza deficiente, além de aumentar o risco de transmissão de patógenos, contribui para o aumento da CPP (contagem padrão em placas) do leite do tanque.

Todas as etapas e componentes da limpeza do equipamento devem ser guiados conforme as recomendações do fabricante, incluindo volumes e temperaturas da água e das soluções desinfetantes específicas. O rigor no processo controlará a formação de biofilme no equipamento, que é fonte de contaminação do leite do tanque e de transmissão de agentes causadores de mastite (WEBER et. al., 2019).

A sequência de limpeza do equipamento é iniciada pelo enxague com água morna (40º C), logo após o fim da ordenha, para remover o excesso de leite presente nas tubulações. Em seguida, a limpeza com detergente alcalino clorado (ciclo de cerca de 10 minutos), com temperatura inicial da água de 70ºC e final acima de 40ºC, remove os resíduos de gordura e proteína do leite (a temperatura superior a 40ºC impede a solidificação da gordura). Na sequência, a limpeza com detergente ácido, em água fria e com duração de cerca de 5 minutos, remove os resíduos inorgânicos do leite. Antes de iniciar a próxima ordenha, o equipamento deve ser sanitizado. 

Além de garantir o cumprimento das etapas de limpeza do equipamento, é válida a checagem da condição de higienização dos conjuntos de teteiras, antes do início de cada ordenha, bem como a conferência semanal das tubulações (linha do vácuo, linha do leite e linha de limpeza). Igualmente importantes, são as manutenções preventivas e corretivas do equipamento, o que inclui a troca programada das mangueiras e teteiras, de acordo com o material de que são feitas e o tempo/frequência de uso.   

Para assegurar o correto funcionamento do equipamento, juntamente à revenda prestadora de serviço, a cada seis meses deve ser feita a aferição das máquinas. Mas, na rotina, o monitoramento dos animais e do sistema podem indicar sinais de mau funcionamento do equipamento: a aparência dos tetos das vacas ordenhadas (tetos avermelhados, arroxeados, com formação de anel na base) podem indicar vácuo elevado ou pulsador desregulado; o comportamento das vacas no momento de colocação do conjunto de teteiras, mostrando dor, pode indicar problema de regulagem, ou o deslizamento de teteiras pode indicar vácuo baixo no equipamento. 


CONTROLE DOS OPERADORES 

É fundamental ressaltar a relação entre o controle da mastite e o treinamento dos colaboradores da fazenda. É fato que, além do conhecimento técnico, proprietários, gerentes e colaboradores devem entender os prejuízos causados pela mastite e como cada tarefa da rotina impacta nos resultados. Ou seja, para ser efetivo no controle da mastite, é necessário desenvolver estratégias de comunicação (JANSEN. et. al., 2012). 

Nesse ponto, realizar treinamentos e reuniões frequentes com os colaboradores e discutir os resultados obtidos mensalmente, por exemplo, além de aproximar, promove maior engajamento da equipe, que se sente parte do trabalho e dos resultados alcançados. Ainda, o produtor deve se preocupar em garantir os meios – luvas, produtos utilizados na ordenha, ferramentas para manutenção de equipamentos e benfeitorias, entre outros materiais – para que os colaboradores executem as tarefas definidas (ALVAREZ, 2014). 

Ambiente, processos, máquinas e homens. As variáveis inerentes a cada um e o resultado da interação entre os elementos compõem o cenário que precisamos dominar para controlar a doença mais desafiadora do sistema de produção. O painel de controle da mastite é complexo, mas, juntos, somos especialistas em operá-lo.


Referências: 

ALVAREZ, JUAN CAMILO ESGUERRA. O homem como fator de risco da mastite. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal e Pastagens) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba. 2014. 

BLACK R.A, TARABA JL, DAY GB, DAMASCENO FA, BEWLEY JM. Compost bedded pack dairy barn management, performance, and producer satisfaction. Journal of Dairy Science 96:8060–8074. 2013. 

ENGER, B.D., WHITE R.R., NICKERSON, S.C., FOX, L.K. Identifi cation of factors infl uencing teat dip effi cacy trial results by meta-analysis. Journal of Dairy Science 99:9900–9911. 2016. 

GONÇALVES, J. et al. Bovine subclinical mastitis reduces milk yield and economic return. Livestock Science 20:25–32. 2018. HUIJPS, K. et al. Costs of mastitis: facts and perception. Journal of Dairy Research 75, n.1:113–120. 2008. JANSEN, J. et al. The Role of Communication in Improving Udder Health. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 28:363–79. 2012. 

NICKERSON, C.S. Choosing the best teat dip for mastitis control and milk quality. NMC-PDPW Milk Quality Conference Proceedings. 2001. 

ROWBOTHAM, R.F., RUEGG, P.L. Bacterial counts on teat skin and in new sand, recycled sand, and recycled manure solids used as bedding in freestalls. Journal of Dairy Science 99, Issue 8: 6594–6608. 2016. 

WEBER, M, LIEDTKE J, PLATTES S, LIPSKI A. Bacterial community composition of biofi lms in milking machines of two dairy farms assessed by a combination of culture-dependent and -independent methods. PLoS One. 2019.  


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