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Sanidade

Diarréias por E.coli em bezerras: Como reduzir a ocorrência

Diarréias por E.coli em bezerras: Como reduzir a ocorrência

Texto: Flávia Fontes

Infográfico: Rodrigo Freitas

Fotos: Paulo Zanotto

As diarréias causadas pela bactéria Escherichia coli (E.coli) são doenças infecciosas que acometem as bezerras nos primeiros dias de vida. Essas bactérias possuem atributos especiais que permitem a colonização do intestino delgado e a produção de toxinas que promovem a hipersecreção de fluidos para o lúmen intestinal, por isso, são denominadas enterotoxigênicas.

Em geral, as bezerras são infectadas logo após o nascimento, pelo contato com o ambiente contaminado ou a glândula mamária de suas mães, o que faz com que a proteção conferida pelo colostro, algumas horas mais tarde, não seja suficiente para impedir a ocorrência das diarréias. Assim, medidas de manejo devem ser implementadas para reduzir a exposição dos bezerros recém-nascidos e, consequentemente, a ocorrência de diarréias nos primeiros dias de vida.

 

Introdução

A E.coli causa dois tipos de infecção nas bezerras recém-nascidas: (1) a colibacilose entérica, na qual as bactérias colonizam o lúmen e a mucosa do intestino delgado, causando diarréia, e (2) a coli-septicemia, na qual as bactérias invadem e se multiplicam na circulação sanguínea, causando infecções em vários órgãos e tecidos do organismo.  Nesse artigo, o enfoque será a colibacilose entérica.

As bezerras se infectam com a E. coli durante ou imediatamente após o nascimento, geralmente por via oro-fecal. Em circunstâncias normais, essas são as primeiras espécies de bactéria que chegam ao trato gastrointestinal, colonizando os intestinos até o final do primeiro dia de vida.

Após a infecção, as bactérias se aderem às células epiteliais e colonizam o intestino delgado, especialmente sua metade posterior. Uma vez estabelecidas, iniciam a produção de enterotoxinas que causam diarréia líquida aguda e profusa, culminando em desidratação, acidose metabólica, e morte nos casos mais severos.

O rápido estabelecimento da E.coli é favorecido por várias condições presentes nas bezerras recém-nascidas  como o pH abomasal relativamente alto, a baixa motilidade intestinal, e a ausência de outras bactérias competidoras.

 

Transmissão

Estudos indicam que essas bactérias são relativamente resistentes aos fatores ambientais e podem sobreviver por longos períodos (6 meses) sob condições ideais de temperatura e umidade.

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Estudos epidemiológicos indicam que mais de 80% dos casos clínicos de diarréia por E.coli ocorrem nos primeiros 4 dias de vida das bezerras. Esses estudos indicam ainda, que os animais infectados no primeiro dia de vida, em quase 100% dos casos, apresentam diarréia. Por outro lado, aqueles infectados após o primeiro dia de vida apresentam maior resistência. Ao contrário do que se pode imaginar, estudos mostram que essa resistência não está relacionada ao consumo de colostro, sendo observada também em animais sem imunidade passiva.  Ao que parece, as células epiteliais do intestino delgado desenvolvem resistência à colonização pelas bactérias com o avançar da idade, à partir do primeiro dia de vida.  Quando a E.coli é isolada de bezerras mais velhas, está geralmente associada a outros enteropatógenos como o rotavírus. Isso sugere que os vírus alteram o epitélio intestinal, prolongando o período normal de susceptibilidade à E. coli. Acredita-se também que as bactérias contribuam para aumentar a severidade das diarréias virais.

 

Produção e ação dasenterotoxinas

Quando um grande número de bactérias coloniza o intestino delgado, uma grande quantidade de enterotoxinas é produzida, causando diarréia. Acredita-se que as enterotoxinas se difundam através da superfície intestinal (borda em escova) onde se ligam a receptores específicos na membrana. As enterotoxinas alteram o movimento normal de íons e água através da mucosa intestinal, estimulando a secreção e reduzindo a absorção, resultando em uma diarréia hipersecretória. Bezerras infectadas por E.coli podem perder entre 1 e 2,7 litros de fluido diarréico em 24 horas.

Estratégias de manejo para reduzir a ocorrência de diarréias por E. coli

 

Colostro

O colostro contém uma variedade de fatores específicos e não-específicos que potencialmente podem prevenir infecções por E.coli. Entretanto, nos sistemas modernos de criação de bezerras, são muito comuns as falhas na proteção conferida pela imunidade passiva.

A relação entre os momentos de fornecimento do colostro e da ocorrência da infecção são de extrema importância nos quadros de diarréia por E. coli. O colostro deve ser ingerido antes da infecção para que se estabeleça uma barreira de proteção imunológica no intestino delgado. Entretanto, estudos mostram que essa proteção, conferida pelo consumo precoce de colostro, pode ser insuficiente quando as bezerras estão expostas a altas cargas bacterianas no ambiente do nascimento. Assim, o fornecimento tardio ou inadequado (baixa qualidade) de colostro ou a exposição a ambientes muito contaminados são os principais fatores responsáveis pela ocorrência de diarréias por E.coli.

A vacinação das vacas pode aumentar a transferência de anticorpos via colostro, aumentando a proteção imunológica dos bezerros frente a bactérias entéricas específicas como a E.coli.

 

Ambiente

Quando as diarréias têm início nos primeiros 5 dias de vida das bezerras, a fonte de infecção, em geral, está na área de parição ou nos locais onde os animais são colocados até serem levados para suas instalações definitivas.

Grande parte da transmissão dos patógenos entéricos se dá entre a vaca e a bezerra, por via oro-fecal, e pela contaminação do colostro ou do ambiente de parição. Mesmo vacas saudáveis apresentam um grande aumento na contagem de coliformes fecais durante o peri-parto, colocando as bezerras em alto risco de desenvolvimento de infecções entéricas. Assim, a separação da vaca logo após o parto e remoção imediata da bezerra do ambiente de parição para o bezerreiro é uma estratégia que pode reduzir a ocorrência de diarréias causadas por E. coli, como mostram os trabalhos da Dra. Sheila McGuirk, da University of Wisconsin, uma das maiores referências mundiais no assunto.

 

Alimentação

Sucedâneos do leite e leite pasteurizado apresentam baixo risco de contaminação bacteriana, especialmente por coliformes, quando apropriadamente armazenados e fornecidos em utensílios corretamente higienizados.

O leite de descarte não-pasteu-rizado, o colostro, ou o leite de boa qualidade fornecidos de forma inadequada (longo tempo após a ordenha, sem refrigeração) são fontes potenciais de infecção por coliformes.

Os dados apresentados na Tabela 1, resultados de um experimento da Dra. Sheila McGuirk (McGuirk, 2006, dados não publicados), foram obtidos de amostras de leite não pasteurizado e sucedâneos do leite, imediatamente antes do fornecimento aos bezerros. Observa-se uma alta e variável contagem bacteriana, representando um alto risco de infecção para os bezerros.

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Conclusão

Os quadros de diarréias que se iniciam nos primeiros 5 dias de vida das bezerras são altamente sugestivos de infecção por E.coli, sendo que a contaminação dos animais, em geral, ocorre no ambiente de parição.

O fornecimento de colostro de alta qualidade, o mais rápido possível após o nascimento, e a remoção imediata da bezerra do local de parição para um ambiente limpo, seco e confortável são as principais medidas de manejo para reduzir a incidência de diarréia por E.coli.

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Comentários

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  • Image usuário

    10/09/2022 05:59:14 - Isete Bueno de Lemes:

    Num refratrometo de 1 a 30 de que número e indicado a fornecer colostro para uma bezeira?

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