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Sanidade

Doenças reprodutivas: Por que e quando vacinar?

Doenças reprodutivas: Por que e quando vacinar?

Texto: Carlos A. C. Fernandes, Ana Cristina S. Figueiredo

As causas de doenças reprodutivas em bovinos são variadas, incluindo as de etiologia infecciosa específica. Para evitar os prejuízos causados pela infertilidade e perdas de gestação, a imunização dos animais é sempre uma ótima alternativa. Vale ressaltar, porém, que as vacinas atuam induzindo imunidade específica contra determinados agentes, evitando sua disseminação dentro dos rebanhos, mas não representam a cura de nenhuma doença, e não substituem outras práticas de manejo preventivo.

Introdução

Assim como qualquer outra prática de manejo, a adoção de um programa de vacinações contra doenças reprodutivas merece boa avaliação da sua relação custo-benefício. Os custos são mais simples de se calcular, pois estão relacionados principalmente ao valor dos produtos e da mão-de-obra para manejo e aplicação.

A determinação dos benefícios é bem mais complexa. Ela deve considerar o valor dos animais, das gestações, do sêmen, os potenciais ganhos a médio e longo prazo, além do valor e tamanho do risco de se manter uma população sensível a agentes que podem causar prejuízos à reprodução e, consequentemente, financeiros. Assim sendo, os benefícios não serão sempre os mesmos em diferentes propriedades, pois dependem de características únicas de cada uma delas.

Outro aspecto importante está na expectativa de resultados a serem obtidos após a vacinação. Basta que se relembre a forma de ação das vacinas para verificar que não é correta a afirmação de que a imunização sempre trará melhorias reprodutivas imediatas. Ganhos imediatos podem e vão ocorrer, quando é feita a imunização contra um agente que está realmente provocando algum problema, em um período que este está se disseminando na população. Quando esses ganhos imediatos não ocorrem, também não se pode imaginar que a imunização não promoveu qualquer tipo de benefício. Imunização correta nunca está relacionada a perdas, pois antes dela, havia uma população desprotegida, o que não mais existe após esse procedimento. Esta segurança proporcionada tem grande valor a médio ou longo prazo.

 

Sanidade e eficiência reprodutiva

A interação entre os aspectos sanitários e a eficiência reprodutiva em bovinos é de grande importância. Os diferentes agentes infecciosos podem afetar a reprodução das fêmeas e dos machos de diferentes formas:

• Alterando a qualidade e quantidade dos gametas,

• Dificultando ou impedindo a fecundação,

• Alterando o ambiente ideal para desenvolvimento do embrião,

• Provocando morte embrionária ou fetal, dependendo da fase da gestação.

Estes efeitos se traduzem, principalmente, em algumas situações ou sinais clínicos, como falha de fertilidade, evidenciada por maior número de serviços por concepção, ou seja, aumento na repetição de serviços; perdas de gestação em diferentes períodos; e problemas ao parto ou após o mesmo. Para que se suspeite da ação de algum agente infeccioso relacionado à reprodução, um ou mais desses problemas acima deve ser diagnosticado na propriedade.

Em rebanhos leiteiros, onde o efetivo é menor e o valor de cada indivíduo é superior, o valor das gestações é, consequentemente, maior, e a imunização contra todos os possíveis agentes infecciosos causadores de problemas reprodutivos é uma prática de boa relação custo x benefício. Adicionalmente, reforçando a necessidade de um programa completo de imunizações nesse tipo de exploração, existe a maior facilidade de disseminação dos agentes pelo confinamento, e a possibilidade dos indivíduos estarem, na maior parte do tempo, com o sistema imunológico ligeiramente deprimido, em função do estresse térmico. Dessa forma, mesmo não havendo sinais da existência de perdas relacionadas aos agentes infecciosos, os rebanhos leiteiros devem ter programas completos de imunização, para evitar a entrada e disseminação dos agentes, visto que os riscos e perdas são maiores.

Quando não há possibilidade de relacionar a presença do agente ao problema reprodutivo, talvez não se consiga ganhos de desempenho imediatos com a vacinação. Isso não significa que a vacinação não seja recomendada nesses casos, pois mesmo que não haja ganho no curto prazo, os animais ficarão protegidos. O ganho, nesse caso, será advindo da redução da possibilidade de entrada e disseminação dos agentes.

 

Perdas de gestação

Pode-se classificar os agentes causadores de danos à reprodução dos bovinos de diferentes formas. Uma delas, distribui os microrganismos em causadores de doenças infecto-contagiosas específicas e inespecíficas. Quando a produção de gametas e a qualidade dos mesmos não são afetadas, o principal efeito deletério desses agentes é a perda de viabilidade embrionária ou fetal, e morte do concepto.

A mortalidade embrionária em bovinos é um problema relativamente comum para todos os sistemas de criação. É também o que mais preocupa, pelo impacto que causa no desempenho reprodutivo das fêmeas afetadas. Mesmo onde não acontece em grandes proporções, é condição que carece de monitoramento constante, tamanha a possibilidade de perdas financeiras decorrentes de elevação na sua ocorrência.

A morte embrionária é geralmente referida como morte ou perda do produto da concepção, principalmente nas fases iniciais do seu desenvolvimento. Nas fases mais avançadas, essa perda é chamada de aborto. A terminologia “morte embrionária”, embora extensamente utilizada, talvez não seja a mais adequada para as perdas em todos os estágios da gestação, visto que o concepto não é denominado embrião em todos esses períodos. Pelo vasto emprego dessa terminologia, as perdas iniciais do produto da concepção em bovinos, serão aqui também referidas como morte embrionária.

Vale ressaltar, que os agentes infecciosos não são os únicos ou sempre os principais causadores de perdas de gestação, ou mesmo falha reprodutiva em bovinos. Na avaliação das possíveis causas desses problemas, deve-se também considerar fatores climáticos, nutricionais, de manejo, genéticos e, inclusive, aqueles de ordem endocrinológica.

Para que ocorra morte embrionária é necessário, obviamente, que aconteça a fecundação e formação do zigoto, dito aqui embrião. Nos casos de monta natural ou inseminação artificial, quando a perda embrionária ocorre antes de 17 – 18 dias após a cobertura ou monta, não é possível diferenciar entre uma falha de concepção e morte embrionária precoce, pois em ambos os casos a fêmea pode retornar ao estro em período considerado normal, ou seja, de 18 a 23 dias após o anterior. A não ser pela pesquisa de substâncias específicas produzidas pelo zigoto nas fases iniciais do seu desenvolvimento (EPF – early pregnancy factors), testes pouco utilizados na rotina das propriedades, não é possível indicar se houve ou não a concepção. Ou seja, quando uma fêmea retorna ao estro em um prazo normal após cobertura ou inseminação artificial, sempre restará a dúvida: houve ou não a fecundação? Pesquisas demonstram que, na maioria dos casos, a fecundação ocorre (70% ou mais), porém o desenvolvimento a termo do concepto não alcança tais valores.

Quando o zigoto é formado e permanece viável e com desenvolvimento compatível, por um período que vai além dos 20 dias, geralmente, a sintomatologia de perda embrionária é diferente daquela de uma simples falha na concepção. Nesses casos, ele produz substâncias que impedem a luteólise e o retorno da fêmea ao estro que, no caso de falha de concepção, ocorreria entre 18 e 23 dias após a cobertura ou inseminação. Fêmeas que retornam ao estro em período não regulares, além de 23 dias após a última cobertura ou inseminação, ou após 15 dias da ultima transferência de embrião, podem ter apresentado casos de morte embrionária em um período acima de 20 dias. Deve-se ter cuidado ao interpretar os casos de animais que retornam ao estro em um número de dias múltiplos de 18 a 22 pois, nesse caso, pode não ter havido concepção, ou houve morte precoce (antes de 18 dias), ou a fêmea manifestou estro anteriormente que não foi observado. Ou seja, o estro que está sendo detectado pode não ter sido o primeiro.

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As perdas de gestação são os eventos que, normalmente, mais são relacionados à presença de agentes infecciosos, embora nem sempre sejam os responsáveis. Em vacas de leite, entre 30 e 60 dias de gestação, considera-se aceitável entre 6-8% de perda. Em períodos mais quentes, e em rebanhos com genética européia, esses valores podem ultrapassar 15%. 

Quando ocorre morte embrionária nas fases iniciais da gestação costuma-se referir ao processo que se segue como “reabsorção embrionária”. Esse termo é sempre utilizado quando a fêmea retorna ao estro e não se detectou qualquer sinal de perda, como corrimentos irregulares, ou observou-se a presença do concepto expelido. O termo não é correto quando a perda ocorre após 30-35 dias de gestação, pois o útero não tem condições de absorver todos os tecidos fetais após essa fase, o que pode ocorrer em fases mais precoces. Geralmente, o conteúdo (concepto mais anexos) expelido é tão pequeno que passa despercebido.

O monitoramento das perdas embrionárias pode ser realizado quando se executa o diagnóstico precoce da gestação (25-35 dias). Esse procedimento pode ser realizado facilmente com o auxílio de um equipamento de ultrassonografia (Figura 2). Além de determinar precocemente quais as fêmeas não estão gestantes, e preconizar o tratamento adequado para que as mesmas possam conceber rapidamente, a diferença entre o diagnóstico nessa fase e outro definitivo, a partir de 55 – 60 dias, vai indicar a magnitude das perdas embrionárias nesse período.

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Quando a perda embrionária ocorre até o final do primeiro trimestre da gestação (+90 dias) observa-se um rápido retorno da fêmea anteriormente gestante à atividade reprodutiva. Isso acontece porque, até este período, ainda existem ondas de desenvolvimento folicular nos ovários. O primeiro folículo dominante, formado após a queda de progesterona que segue à perda embrionária, pode ovular.

Quando a morte do concepto ocorre após o período que cessou a atividade de crescimento folicular nos ovários, o retorno à atividade ovariana, geralmente, não é tão precoce. Isso ocorre pela ausência de desenvolvimento folicular nas fases mais adiantadas da gestação em bovinos. Nesses casos, antes de voltar a manifestar comportamento reprodutivo característico após a perda, a fêmea precisa estabelecer o padrão normal de desenvolvimento folicular que, geralmente, leva algumas semanas.

 

Causas das mortes embrionária e fetal

As doenças que causam morte embrionária ou fetal em bovinos podem ser divididas em problemas clínicos e doenças infecto-contagiosas. Entre os problemas clínicos, qualquer doença sistêmica pode potencialmente provocar a perda da gestação. Isso pode ocorrer por ação direta do agente no útero ou, indiretamente, pela hipertermia materna ou pela produção de toxinas que possam atingir o embrião ou feto. Outra forma de efeito indireto das infecções na manutenção da gestação ocorre quanto há produção de grande quantidade de prostaglandinas. Essas substâncias, principalmente a PGF2α, que é um mediador químico de qualquer processo inflamatório pode, em determinadas situações, provocar regressão do corpo lúteo e queda na concentração circulante de progesterona, hormônio que mantêm a gestação.

As infecções uterinas também são causas de morte embrionária que, nesse caso ocorre, geralmente, no início do desenvolvimento do embrião, quando esse chega ao útero. Em bovinos, o produto da concepção já está no útero quatro a seis dias após a fecundação. Caso a infecção uterina não tenha impedido o transporte e a capacitação espermática e, com isso, a  fecundação, ela pode interferir na sobrevivência uterina do embrião. Isso pode ocorrer pela ação direta das bactérias no embrião ou pela alteração do ambiente uterino adequado ao desenvolvimento do mesmo.

As infecções uterinas crônicas podem provocar perdas embrionárias por provocarem alterações no endométrio, que é a mucosa de revestimento interno do útero, responsável pela secreção de substâncias utilizadas pelo embrião nos estágios iniciais de seu desenvolvimento

As principais causas de perda embrionária em bovinos de origem infecciosa estão relacionadas a microorganismos específicos. Os agentes infecciosos causadores destas doenças têm certa predileção pelos órgãos genitais, principalmente o útero. As principais causas infecciosas específicas de morte embrionária, com maior ocorrência em fases precoces da gestação, são a Rinotraquíte Infecciosa Bovina (IBR), a Diarréia Viral Bovina (BVD), a Tricomoníase e a Campilobacteriose. Outras infecções, como Leptospirose, Brucelose, Neosporose e infecções fúngicas estão geralmente relacionadas a perdas em estágios mais tardios da gestação.

Brucelose

É uma doença que apresenta prevalência muito superior à diagnosticada. Acredita-se que menos de 20% das vacas e touros do rebanho nacional de corte sejam examinados com a técnica adequada e com a rotina indicada.

A principal forma de transmissão é a oral, pela ingestão das bactérias. As fontes de contaminação são líquidos de origem uterina e restos placentários, originados de fêmeas contaminadas, expelidos após parto ou aborto. A transmissão via cópula não corresponde a 5% dos casos de transmissão da doença.

A Brucelose provoca morte fetal, geralmente no terço final da gestação. A morte ocorre por lesões causadas nos placentomas (Figura 3), que são as estruturas onde ocorrem trocas de substâncias entre mãe e feto. As alterações provocadas pela Brucela limitam essas trocas e determinam, desde um menor desenvolvimento fetal, até sua morte. A probabilidade de a fêmea abortar em decorrência da brucelose reduz-se com o passar das gestações após a contaminação, ou seja, é mais provável ocorrer um aborto na primeira gestação após a contaminação do que nas gestações subseqüentes. Embora a taxa de aborto tenda a se reduzir com o tempo, em rebanhos com alta prevalência de brucelose, os prejuízos não acompanham essa tendência. As fêmeas jovens manterão a taxa de abortamento elevada, e as mais velhas, contaminadas a mais tempo, geralmente apresentam problemas de parto, traduzidos principalmente por retenção de placenta, e produzem bezerros fracos, com baixa viabilidade.

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A principal forma de controle é a vacinação, que ocorre com aplicação única em fêmeas de 3 a 8 meses, associada à eliminação dos adultos soropositivos. A utilização da vacina em animais mais velhos pode levar a uma maior persistência do título de anticorpos e fornecer resultados falso-positivo nos testes sorológicos mais comuns. A aplicação da vacina deverá ser indicada e realizada pelo Médico Veterinários ou técnicos credenciados, e é compulsória em vários estados. A necessidade de pessoal qualificado vem da possibilidade de acidentes com a vacina (B19), que pode contaminar e causar a doença em humanos.

 

Leptospirose

Após a contaminação do animal e um período de circulação sanguínea, a leptospira atinge o útero. Caso a fêmea esteja gestante, pode ocorrer morte embrionária ou fetal em períodos que variam de 8 a 20 dias. Problemas reprodutivos como abortos, natimortos e nascimento de bezerros fracos constituem os principais indicativos da doença.

Alguns trabalhos indicam que a Leptospira hardjo pode provocar infecção genital, inclusive das tubas uterinas, provocando sinais de infertilidade, como maior número de coberturas ou inseminações por gestação.

Embora seja uma bactéria que exista em todo o território nacional, a disseminação é mais freqüente em locais ou períodos de maior umidade. Trata-se de um agente que sobrevive por períodos relativamente longos em ambientes com umidade, mas que tem baixa tolerância a locais secos. O rato pode ter papel epidemiológico importante somente para trazer a doença para o plantel. A partir daí, os bovinos infectados são os disseminadores. A transmissão ocorre por via oral ou penetração da leptospira pela pele.

A indicação da vacinação deve seguir à pesquisa sorológica e/ou identificação do agente. Deve-se verificar qual sorotipo ou sorogrupo de leptospira está causando o problema e proceder à vacinação dirigida para os mesmos. Quando se opta pela vacinação, todos os animais a partir de 4 meses devem ser imunizados.

O intervalo entre as vacinações não deve ser padronizado. Em casos de maior pressão de infecção, vacinar em intervalos menores.

 

IBR (Rinotraquíte infecciosa bovina)

A IBR é causada por um vírus (herpesvírus) que, além de problemas reprodutivos, pode provocar lesões em outros locais do organismo, principalmente em animais jovens. A contaminação em animais adultos ocorre principalmente via cópula.

Além de repetição de estro, a doença pode provocar morte embrionária e aborto em diferentes fases da gestação, além do nascimento de bezerros fracos.

Nos machos, a IBR causa a Balanopostite Infecciosa Bovina (IPB), e nas fêmeas a Vulvovaginite pustular infecciosa (IPV), em vacas e novilhas. Esse vírus pode permanecer em alguns locais do organismo, principalmente gânglios nervosos, por longos períodos, em estado de latência. Em decorrência de alguma situação estressante (alimentação deficiente, outras doenças, partos etc.) podem chegar novamente ao sangue e atingir outros locais como o útero e, por via transplacentária, chegar ao concepto e causar sua morte. A única forma de se prevenir os danos causados por essa doença é a vacinação.

 

BVD (Diarréia bovina a vírus)

A BVD é provocada por um vírus da família Pestivírus, semelhante àquele que acomete suínos, causando a Peste Suína Clássica. Em animais cronicamente infectados, pode causar um quadro chamado de Doença das Mucosas.

A infecção pode ser transmitida por inalação, ingestão e via transplacentária (mãe-feto). Os danos à reprodução dependem da fase da gestação na qual a fêmea foi infectada. Até 100 dias de gestação, pode ocorrer retorno ao cio, reabsorções embrionárias e pequenos abortos que, geralmente, passam despercebidos. Se o feto for contaminado entre 50 a 120 dias de idade e não morrer, pode se tornar permanentemente infectado. Após o nascimento, esses animais serão os principais disseminadores do vírus no rebanho, além de não serem detectados pela sorologia convencional. Se a fêmea gestante for infectada entre 100 e 150 dias de gestação poderão ocorrer abortos, má-formação, mumificação ou maceração fetal (Figura 4).

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Existe a possibilidade da BVD provocar falhas reprodutivas, inclusive em vacas não gestantes. Nessas, o vírus pode provocar uma lesão dita Endometrite Necrosante que, além de alterar o ambiente uterino, pode levar a problemas de implantação, sendo responsável, nesse caso, de forma indireta, por morte embrionária em fases iniciais da gestação.

Vacinam-se animais contra IBR e BVD a partir de quatro meses. Os primovacinados devem receber reforço quatro a cinco semanas após a vacinação inicial. Caso não exista problema em animais jovens, de acordo com o manejo da propriedade, pode-se optar por vacinar apenas antes da idade reprodutiva.

 

Campilobacteriose e Tricomoniase

Trata-se de uma bactéria e um protozoário, respectivamente, que causam problemas, tanto em machos como em fêmeas, sendo mais prevalentes em rebanhos que utilizam monta natural. Em machos, os problemas são menores, se limitando geralmente a infecções nos órgãos copulatórios. O touro é o principal reservatório e transmissor dessas doenças no rebanho, sendo que a transmissão ocorre pela cópula. Os agentes já foram isolados viáveis em sêmen congelado de bovinos.

A Campilobacteriose, antigamente chamada de Vibriose, provoca principalmente danos nas fases iniciais da gestação. Os principais efeitos estão relacionados a alteração do ambiente uterino, alterações no desenvolvimento embrionário, dificuldade de implantação, morte e reabsorção embrionária. Esses problemas ocasionarão principalmente falhas de fertilidade. Após a contaminação, as bactérias se multiplicam inicialmente na vagina e dentro de duas semanas atingem útero e tubas. A produção de anticorpos pela fêmea pode eliminar os agentes em cerca de 6 a 8 semanas. Em casos mais raros podem ocorrer abortos em fases mais tardias da gestação.

Nas fêmeas, a Tricomoníase pode provocar inflamações na vagina, cérvix e útero. O aborto, quando ocorre, é observado nas fases iniciais da gestação, ou somente é descrita uma redução temporária de fertilidade (repetição de cios). Quando invade o útero gestante, a morte pode ocorrer por ação direta no embrião ou por alterações inflamatórias no endométrio. Quando a fêmea se contamina, abortando ou não, elimina o agente por um período de cerca de 8 semanas no muco cervical, período no qual raramente ficará gestante. Após esse período, os mecanismos de defesa uterina tendem a eliminar o agente.

O touro praticamente não apresenta lesões decorrentes da Tricomoníase, figurando como um portador e disseminador assintomático do agente, sem condições para eliminação espontânea da patologia. Animais mais velhos têm maior probabilidade de serem disseminadores.

O diagnóstico é feito com a coleta de material nas vacas e, principalmente, nos touros. O tratamento ou prevenção deve seguir ao isolamento dos agentes. Em casos positivos, atenção especial deve ser dada aos reprodutores (touros). A vacinação contra Campilobacteriose é indicada em rebanhos que utilizam monta natural.

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Neosporose

A Neosporose é causada por um protozoário, cujo hospedeiro definitivo é o cão, que funciona como principal transmissor da doença aos bovinos. Em algumas regiões do mundo, onde a brucelose e outras doenças estão controladas, é a principal causa de aborto, principalmente em vacas leiteiras. No Brasil, a incidência em bovinos não é bem determinada, principalmente em regimes extensivos. Tanto os relatos de isolamento, como de sorologia, apresentam grande variação de ocorrência.

Por se tratar de uma doença relativamente recente (descrita inicialmente em 1988), o comportamento do agente ao causar a infecção, os tratamentos e as medidas de controle e/ou prevenção ainda estão sendo avaliadas.

O aborto pode ocorrer em qualquer fase da gestação, porém é mais freqüente entre o 4º e 6º mês. Além disso, são relatados casos de reabsorção, morte fetal com mumificação ou maceração, e nascimento de bezerros normais, porém cronicamente infectados. O que fazer com os animais com sorologia positiva, ainda não é consenso na literatura especializada. Existe a possibilidade de vacinação, porém este procedimento é eficaz na redução do aborto, mas nem tanto na redução da transmissão vertical (mãe-feto).

A única forma indicada de controle é a redução do contato com os transmissores, no caso os cães, além de evitar o fornecimento de restos de carcaças de bovinos e placenta a esses animais. Os bovinos se contaminam via transplacentária (transmissão vertical mãe-feto) ou pela ingestão de alimentos ou água contaminada com fezes de cão.

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Considerações finais

As causas de morte embrionária em bovinos são variadas, incluindo as de etiologia infecciosa específica. Para evitar os prejuízos causados por esse problema, a imunização dos animais é sempre uma ótima alternativa. Vale ressaltar, porém, que as vacinas atuam induzindo imunidade específica contra determinados agentes, evitando sua disseminação dentro dos rebanhos, mas não representam a cura de nenhuma doença. A relação custo benefício de um programa de imunização vai muito além da possível melhoria imediata de indicadores e redução de problemas reprodutivos. Os ganhos referentes à redução de riscos de entrada e disseminação dos agentes infecciosos em rebanho imunizados devem ser contabilizados.

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Comentários

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    18/08/2022 20:17:49 - João Baptista Paulo Filinga:

    Boa Matéria.

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