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Manejo, Sanidade

Ectoparasitas: principais agentes e estratégias de controle

A ameaça que o ectoparasito representa para a saúde do animal e a integridade da atividade é desproporcional ao seu tamanho.

Ectoparasitas: principais agentes e estratégias de controle

Os ectoparasitos compõem um grupo de organismos de tamanho reduzido, que fixam-se ou pousam na superfície externa do corpo dos hospedeiros, para alimentarem-se de sangue. No contexto dos bovinos leiteiros, os ectoparasitos mais prevalentes no Brasil são o carrapato bovino, Rhipicephalus (Boophilus) microplus; a moscados-chifres, Haematobia irritans; a mosca-do-estábulo, Stomoxys calcitrans; a mosca-do-berne, Dermatobia hominis e a mosca-da-bicheira, Cochliomyia hominivorax. Esses indivíduos podem atuar como vetores de patógenos, parasitar concomitantemente os animais, alimentar-se de sangue ao ponto de causar anemia e causar danos teciduais que prejudicam o bem-estar do animal. Os pequenos parasitos afetam o potencial produtivo dos bovinos leiteiros e resultam em prejuízos econômicos que variam entre milhões e bilhões de dólares ao ano.


PEQUENOS TERRESTRES

Rhipicephalus (Boophilus) microplus é uma espécie de origem asiática introduzida no Brasil após a importação de animais parasitados da Ásia. Aqui, se estabeleceu devido às condições favoráveis ao seu desenvolvimento. No entanto, no Brasil há variação de condições climáticas entre as regiões e isso faz com que o carrapato apresente ciclos biológicos distintos, podendo apresentar três a cinco gerações ao longo do ano, dependendo da localização.  

Conhecer a biologia e a sazonalidade do carrapato é fundamental para a elaboração de estratégias de controle eficientes, já que seu ciclo biológico apresenta a fase parasitária, com duração média de 21 dias, e a fase não-parasitária. A fase parasitária é menos sensível às condições climáticas, visto que, uma vez no hospedeiro, o carrapato fica menos exposto às alterações ambientais. Essa fase tem início após as larvas, que apresentam apenas três pares de pernas e agrupam-se nas extremidades das pastagens, fixarem-se no hospedeiro. Após alimentação via corpo do hospedeiro, a alteração do estágio larval ao estágio ninfal ocorre 7 dias após a fixação, quando a ninfa passa a apresentar quatro pares de pernas. A fase de ninfa dura mais 7 dias, até a muda para o estágio adulto, durante o qual a alimentação ocorre por, aproximadamente, mais 7 dias, e é importante para a reprodução dos carrapatos.

Após a cópula, os machos podem permanecer no hospedeiro à procura de mais fêmeas, enquanto as outras fêmeas se enchem de sangue (ingurgitam), entre 18 e 35 dias, e dão início à fase não-parasitária. Nesse momento, elas deixam o hospedeiro, para voltar ao solo em busca de abrigo e condições adequadas para liberarem os ovos antes de morrerem. Após a oviposição, os ovos ficam incubados e, ao eclodirem as larvas, inicia-se outro ciclo.  


PEQUENOS VOADORES

As quatro espécies de moscas que afetam bovinos apresentam particularidades tanto sobre sua relação com o hospedeiro quanto sobre seu ciclo biológico. A mosca-dos-estábulos é assim conhecida por se desenvolver em restos de matéria orgânica vegetal em decomposição, nas fezes dos animais e em restos de alimentos. Muitas vezes, por serem mal manejados, esses materiais tornam-se o ambiente propício à deposição dos ovos, seguida do desenvolvimento do ciclo de vida das moscas. Os ovos podem eclodir, após 1 a 4 dias, em larvas que se alimentarão desses materiais por 6 a 30 dias e darão sequência à fase de pupa, com duração de 5 a 10 dias. Após tornarem-se adultas, as moscas passarão a alimentar-se  do sangue dos hospedeiros – cada alimentação pode durar cerca de três minutos, sendo constantemente interrompida pelo animal, devido à dor causada pela picada. Recentemente, surtos com infestações maciças tem sido observados em propriedades leiteiras localizadas nos arredores de usinas de produção de açúcar e álcool, em virtude do manejo inadequado do vinhoto, que, associado à palha da cana, atua como substrato para o desenvolvimento e a multiplicação das moscas nas usinas. 

A mosca-dos-chifres recebeu esse nome por ser encontrada com frequência ao redor dos chifres do animal. No entanto, pode estar presente em qualquer parte do corpo. Ela se alimenta do sangue do hospedeiro por meio da sucção, que pode durar até cinco minutos e ocorrer até quarenta vezes no dia. O ciclo de vida dessa mosca tem início com a postura dos ovos nas fezes frescas do animal. Em condições adequadas, o ovos eclodem rapidamente e transformam-se em larvas, que, após 3 a 5 dias, transformam-se em pupas, que alimentam-se das fezes do animal por 4 a 8 dias, até tornarem-se adultas e alimentarem-se exclusivamente de sangue.

A mosca-do-berne é oportunista e ovipõe no abdômen de outros insetos voadores, para que esses, involuntariamente, contribuam na dispersão de seus ovos. Quando a mosca ou esses insetos pousam sobre a pele do hospedeiro, a temperatura da pele e a liberação de gás carbônico estimulam a eclosão dos ovos em larvas. As larvas penetram na pele do hospedeiro e podem se desenvolver por 29 a 45 dias. Após esse período, caem no solo e a fase de pupa, com duração de 39 a 120 dias, é iniciada, dependendo das condições ambientais.  

A mosca-da-bicheira, causadora da miíase bovina, apresenta ciclo biológico semelhante ao da mosca-do-berne, no entanto, aproveita-se de ferimentos presentes na pele do hospedeiro (inclusive os causados por infestações por carrapatos) para depositar seus ovos. Após 12 a 24 horas da deposição, as larvas saem dos ovos, crescem e pioram a ferida pré-existente, durante aproximadamente 3 dias, até que caem no solo para a pupação, com duração de 6 a 8 dias, seguidos de mais 20 dias para a fase adulta.


GRANDES PREJUÍZOS

As consequências do ectoparasitismo estão relacionadas ao número de espécimes aos quais o hospedeiro está exposto, além do coparasitismo e da ação conjunta das diferentes espécies de ectoparasitos. Esses, além de poderem causar anemia devido à alimentação com sangue do hospedeiro, causam danos teciduais e perda do bem-estar, os quais resultam em prejuízos econômicos.  

O carrapato bovino se destaca por causar grandes perdas na pecuária mundial, além de ser vetor dos agentes etiológicos da Tristeza Parasitária Bovina, doença que provoca debilidade nos animais e é causada por bactérias do gênero Anaplasma e protozoários do gênero Babesia. Os prejuízos econômicos decorrentes do parasitismo pelo carrapato ocorrem diretamente e indiretamente. 

A ação direta pode ser exemplificada pelo fato de cada fêmea ingurgitada ser responsável pela perda de 2 a 3 mL de sangue, o que é bastante preocupante quando consideramos que, normalmente, o parasitismo por carrapatos ocorre em grandes infestações. Como reflexo, há estresse, que pode acarretar redução no consumo de alimentos e outros impactos negativos, como perda de peso corporal e queda na produção de leite. Para se ter ideia, a infestação pelo carrapato bovino pode levar à perda superior a 90 litros de leite por lactação, sendo que apenas uma fêmea ingurgitada é capaz de provocar queda de 8,9 mL de leite. 

As infestações por carrapatos também causam lesões na pele do animal, que depreciam o valor do couro e possibilitam que bactérias e outros ectoparasitas oportunistas causem infecções secundárias. A morte de animais, como consequência das altas infestações, também é realidade nos sistemas de produção de bovinos. 

Indiretamente, produtores podem ter mais prejuízos econômicos devido aos gastos associados à aplicação dos carrapaticidas, ao descarte do leite (devido à presença de resíduos) e à contaminação ambiental, por mau uso dos produtos químicos empregados no combate aos carrapatos. 

Como se não bastassem tantos prejuízos, ainda há o agravante do aparecimento das populações de carrapatos resistentes, desencadeado, principalmente, pelo uso incorreto ou desordenado dos carrapaticidas.  As populações resistentes são grandes entraves à criação de bovinos, pois abrangem ampla gama dos acaricidas utilizados comercialmente. 

As moscas, embora menos representativas entre os ectoparasitos responsáveis por prejuízos econômicos, também são motivo de preocupação. Elas não fixam-se em seus hospedeiros, como o carrapato, porém, a mosca-dos-estábulos e a mosca-dos-chifres alimentam-se do sangue e prejudicam o bem-estar dos animais. Somente a atuação da mosca-dos-estábulos já é capaz de levar à perda de 27 litros de leite por ano. Além disso, esse parasitismo tem ocorrido com mais frequência e maior gravidade devido à rápida expansão da produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, que as atrai. É possível considerar a perda econômica causada por essa mosca como subestimada, uma vez que o impacto e o tamanho da população afetada, principalmente durante surtos graves, são desconhecidos e pouco estudados, e as perdas produtivas durante os surtos são muito maiores do que nas infestações regulares. Já a mosca-da-bicheira e a mosca-do-berne passam sua fase parasitária inseridas na pele do animal, de forma a danificar o couro e prejudicar o bem-estar do animal.


IDENTIDADE REVELADA 

A identificação dos ectoparasitos é feita a partir da coleta e do encaminhamento das espécimes ao laboratório. A coleta pode ocorrer manualmente ou pelo uso cuidadoso de pinças, e o acondicionamento deve ser em frascos contendo álcool 70%. No laboratório, é utilizado microscópio estereoscópico para visualizar as características e compará-las às descrições das espécies.  


CONTROLE EM TAMANHO REAL 

Carrapato bovino 

Os animais apresentam diferentes mecanismos de defesa – autolimpeza, características e coloração da pele e pelagem e respostas imunológicas específicas – envolvidos na redução do número de carrapatos que os parasitam. No entanto, esses mecanismos não são sufi cientes para conter as infestações. 

Por mais de um século, o controle químico por carrapaticidas vem sendo a principal forma de conter os carrapatos. No entanto, seu uso indiscriminado tem determinado graves quadros de resistência, de ordem genética, dos carrapatos às drogas, a qual tem se desenvolvido rapidamente, de forma que a vida útil dos produtos foi reduzida para quatro a cinco anos, em média. Em paralelo, a sociedade e os órgãos governamentais demonstram grande preocupação com os resíduos químicos nos produtos de origem animal, o que desperta crescente interesse nos produtores por estratégias alternativas para o controle dos ectoparasitos.

O ideal é que tanto o controle químico quanto o controle alternativo sejam feitos de forma estratégica, com base nos conhecimentos da biologia e ecologia do carrapato, bem como das condições ambientais da região e dos fatores do sistema – pastagem, lotação, grau de sangue dos animais, dinâmica populacional e sazonalidade, pois isso resulta na redução dos acaricidas utilizados e, por consequência, no controle mais eficiente, no menor custo empregado, na desaceleração da seleção para resistência e no menor impacto ambiental. 

Apesar de existirem carrapatos em diferentes estágios de vida sobre o corpo do animal, os tratamentos consistem na aplicação de carrapaticida no final da época desfavorável ao carrapato, quando existem baixas populações de larvas tanto no corpo do animal quanto na pastagem. O produto pode ser reaplicado em curto período, a fim de impedir o desenvolvimento das fêmeas com potencial para oviposição e reinfestação da pastagem, de modo que, no decorrer do ano, a população de carrapatos se mantém em carga infestante economicamente aceitável. 

De forma ideal, a escolha do carrapaticida deve ser guiada pelos resultados do biocarrapaticidograma, que corresponde ao teste de sensibilidade dos carrapatos aos carrapaticidas, ou seja, a análise de resistência das fêmeas ingurgitadas coletadas do corpo do animal aos principais grupos químicos de carrapaticidas disponíveis no Brasil. Por meio do resultado, é indicado o carrapaticida mais eficaz ao controle dos carrapatos que infestam aquele grupo de animais, o que evitará despesas desnecessárias e aumento da resistência dos carrapatos existentes na propriedade. Uma vez escolhido o produto carrapaticida, as recomendações descritas na bula devem ser seguidas.  

Os três grupos químicos que compõem os principais carrapaticidas disponíveis no mercado são as formamidinas (amitraz), os piretróides (cipermetrina) e as avermectinas (ivermectina). Entretanto, alguns produtos compostos pelo grupo mais antigo, os organofosforados (clorpirifós), ainda estão à venda e podem apresentar bons resultados. Além disso, carrapaticidas mais modernos (endectocidas, fipronil e fluazuron), em substituição aos convencionais, devem ser considerados, pois apresentam intervalo de aplicação maior, logo, menos mão-de-obra envolvida. Entretanto, nenhum pode ser usado em vacas em lactação, sendo necessário aguardar o período de carência recomendado pelo fabricante.

As vias mais frequentes de administração dos produtos que combatem os ectoparasitas são: banhos de aspersão, pour on e oral. Desses, os banhos são os mais utilizados, à considerar o tamanho do rebanho, uma vez que, para quinze a vinte animais, a bomba costal se mostra sufi ciente, no entanto, para rebanhos maiores, bombas motorizadas ou bretes de aspersão são recomendados.

Além de portar equipamento de proteção individual, o operador não deve proceder com a aplicação em horários de sol forte e dias de chuva (caso o faça, deve assegurar que os animais permaneçam protegidos da chuva, pelo mínimo de duas horas após a aplicação). No caso do banho, a aplicação deve acontecer após contenção do animal com cordas ou em troncos; o produto deve ser diluído em água limpa; devem ser aplicados, no mínimo, quatro a cinco litros da calda carrapaticida em cada animal; a aspersão deve ser feita a favor do vento, de baixo para cima e no sentido contrário dos pelos; os bicos das bombas devem estar ajustados, para a saída não ser na forma de nebulização ou jato, a qual não penetra eficientemente entre os pelos e causa grandes desperdícios. Após o banho, o animal deve estar completamente molhado, pois os carrapatos pequenos, localizados abaixo dos pelos, não são vistos com facilidade, mas representam parcela importante da população e só morrerão se forem atingidos pela quantidade necessária de acaricida.

Entre as estratégias alternativas para controle dos ectoparasitos, merecem destaque as seguintes técnicas modernas e promissoras: 

- Seleção de raças resistentes aos carrapatos, visto que a espécie Bos indicus é mais resistente que a Bos taurus, o que pode ser observado por meio da quantidade de carrapatos fixados nas diferentes raças compostas pelas espécies e pelo ciclo biológico prejudicado do carrapato que se alimenta em animais resistentes; 

- Controle biológico por pássaros, formigas, nematódeos e fungos, que devem atuar como predadores, patógenos ou parasitos dos carrapatos, desde que conduzido de acordo com o equilíbrio ecológico;  

- Fitoterapia, com extratos de plantas com ação carrapaticida; 

- Manejo de pastagens que segue o sistema de rotação, no qual os piquetes permanecem desocupados durante determinado período, a fim de eliminar as larvas presentes (eficaz, principalmente, nos meses quentes do ano); 

Na busca por eficiência no controle dos carrapatos, a utilização do carrapaticida pode ser associada às estratégias alternativas.


MOSCAS

O combate pode ser iniciado por meio do princípio básico da higienização das instalações, uma vez que algumas fases de vida das moscas acontecem nos resíduos de matéria orgânica. Remover as sobras de alimentos dos cochos, trocar as camas dos animais e destinar corretamente os dejetos são medidas que contribuem para evitar a disseminação desses insetos no sistema produtivo, visto que o emprego de inseticidas químicos representa risco ao surgimento de populações resistentes, além de ter potencial para contaminar o ambiente e deixar resíduos nos produtos de origem animal. Nesse contexto, o uso de armadilhas com iscas atrativas pode constituir importante estratégia alternativa ao controle químico.  

Visto que os pequenos ectoparasitos determinam prejuízos maiores do que o animal e o produtor poderiam suportar, a identificação e o controle dos agentes são o caminho mais eficiente para eliminar a grande ameaça que eles representam à atividade leiteira.


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