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Geral, Gestão, Manejo

Eficiência econômica x Custo de produção dos alimentos

Cercados por incertezas e oscilações dos preços dos insumos, “olhar pelo retrovisor” e identificar os elementos que verdadeiramente impactam o custo de produção dos alimentos é a maneira mais segura para seguir viagem rumo à eficiência econômica na atividade.

Eficiência econômica x Custo de produção dos alimentos

Cada vez mais, fica evidente que para ser eficiente em qualquer atividade, é preciso adotar ações estratégicas relacionadas ao custo de produção. Isso porque, em situações de instabilidades globais, nas quais nos vemos reféns dos preços praticados pelo mercado, o que garante boas margens na atividade é conhecer o que já foi executado, para tomar decisões com embasamento e, assim, conquistar retorno econômico satisfatório na atividade. Ou seja, devemos “olhar pelo retrovisor” para conseguirmos seguir viagem com segurança e confiança. 

No último ano, as oscilações dos preços de mercado tiveram impacto direto no custo de produção dos volumosos. De acordo com os dados do Departamento de Inteligência da Labor Rural, o gasto com volumoso por litro de leite produzido entre set/21 e ago/22 foi 28% maior que no período de set/20 e ago/21, na mesma amostra de propriedades, o que reforça a necessidade de atenção quanto aos custos desses alimentos (Gráfico 1). 

Gráfico 1. Progressão do gasto com volumoso por litro de leite produzido no mesmo período de anos consecutivos.

 

 
                                           Fonte: Departamento de Inteligência da Labor Rural. Dados de setembro/2020 a agosto/2022, deflacionados pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de setembro/2022.

Nesse cenário, é crucial que o empresário rural conheça as variáveis que apresentam maior impacto em seu custo de produção, a fim de atuar com eficácia, isto é, alocar esforços naquelas atividades que, de fato, vão expor resultados favoráveis à atividade. Para exemplificar, realizamos a análise de distribuição de custos, que indica os pontos que podem causar maior impacto nos resultados econômicos da empresa rural, já que representam maiores percentuais do custo de produção.

Tabela 1. Distribuição dos custos operacionais efetivos para a produção de silagem de milho na safra 2021/2022

                                            Fonte: Departamento de Inteligência da Labor Rural. Dados da safra 2021/2022  

Veja que fertilizante mineral foi o item que mais impactou o custo da tonelada da silagem de milho, representando 26% do custo operacional efetivo, seguido de tração mecânica para corte e sementes, os quais representaram 9%, cada. De modo geral, a maior parte dos desembolsos diretos para a produção de silagem está direcionada para a compra de insumos, ou seja, o custo final da tonelada da silagem está diretamente relacionado ao comportamento do preço desses insumos no mercado

Além da composição dos custos, é fundamental compreender que o impacto econômico também está atrelado à produtividade das forrageiras, sendo necessário “gastar melhor”, e não necessariamente “gastar menos” quando se trata dessas relações. Para exemplificar, considere duas áreas de 1 hectare de silagem de milho, com custo operacional efetivo de R$ 9.000,00 por hectare, sendo que em uma a produtividade foi de 40 toneladas e na outra a produtividade foi de 45 toneladas, com a mesma composição percentual dos custos. Logicamente, onde houve maior produtividade, houve maior eficiência, resultando no custo unitário de R$ 200,00 por toneladas – versus R$ 225,00 por tonelada, na área menos produtiva.

Os pontos anteriores deixam claro que compreender a composição do custo de produção e os itens de maior representatividade é tão fundamental quanto atuar nos fatores que favorecem o aumento da produtividade, como o manejo de adubação conforme as necessidades da relação solo-planta; a época de plantio que contribui com o desenvolvimento da planta; a viabilidade do solo, entre outros. Em outras palavras, tão importante quanto saber a contribuição de cada elemento no somatório de custos, é saber que maiores produtividades tendem a diluir o valor investido e, consequentemente, reduzir o impacto no custo de produção. Voltando à composição do custo de produção, para aprofundarmos no impacto do preço dos insumos, vamos verificar o comportamento dos fertilizantes minerais, elemento de maior representatividade na composição dos custos (Gráfico 2).  

Gráfico 2. Preços de comercialização das principais bases de fertilizantes minerais.


                                               Fonte: CONAB e IEA, série histórica de 2011 a 2021, adaptado por Departamento de Inteligência da Labor Rural, deflacionado pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de setembro/2022.

Historicamente, fevereiro e março são os meses que se apresentam como a época ideal para adquirir fertilizantes no mercado brasileiro, considerando o preço médio de vendas dos últimos dez anos. Porém, a relação de troca para a aquisição desses insumos, que demonstra quantos litros de leite são necessários para adquirir uma tonelada de fertilizantes, é favorecida nos meses de agosto e setembro.

Isso ocorre porque o produtor se encontra melhor capitalizado, com maior capacidade de gerar fluxo de caixa e, portanto, tendo que dispor de menor volume de leite para adquirir o fertilizante. Entendendo o comportamento histórico dos preços médios e as relações de troca, é possível traçar estratégias de compra que favoreçam economicamente a atividade.

Além dos custos com os volumosos, é válido compreender o impacto dos custos com a alimentação como um todo, sendo que, atualmente, o gasto com a alimentação do rebanho leiteiro impacta cerca de 49% da renda da propriedade, ou seja, a cada R$ 100,00 recebidos com a atividade leiteira, R$ 49,00 são direcionados à alimentação dos animais. Desses, 12% são direcionados aos gastos com volumosos. A grande parte dos produtores “sente na pele” o impacto desses números, porém, fi ca o questionamento: se conhecemos o grande impacto e normalmente atuamos com imediatismo para corrigir a nutrição do rebanho, por que os custos com volumosos são, muitas vezes, negligenciados?

Além disso, será que há grande diferença entre as fazendas mais e menos rentáveis quanto a esses custos? Para respondermos, realizamos a análise comparativa das propriedades mais rentáveis e menos rentáveis do banco de dados do Departamento de Inteligência da Labor Rural (Tabela 2).


Tabela 2. Comparativo de fazendas estratificadas pela taxa de remuneração do capital com terra (%) 

                              Fonte: Departamento de Inteligência da Labor Rural. Dados de setembro/2021 a agosto/2022, deflacionados pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de setembro/2022.

AO ENTENDER O COMPORTAMENTO HISTÓRICO DOS PREÇOS MÉDIOS E AS RELAÇÕES DE TROCA, É POSSÍVEL TRAÇAR ESTRATÉGIAS DE COMPRA QUE FAVORECEM ECONOMICAMENTE A ATIVIDADE  

As propriedades mais rentáveis no período analisado tiveram menor desembolso com volumosos e concentrados (R$ 1,23 por litro versus R$ 1,44 por litro), de forma que as menos rentáveis tiveram desequilíbrio nos custos de produção. Além disso, as fazendas mais rentáveis comprometeram 35,1% da renda bruta com concentrados e 9,4% da renda bruta com volumosos, enquanto as menos rentáveis comprometeram 41,1% e 14,1%, respectivamente. Veja que a diferença percentual nesse comparativo é maior para os alimentos volumosos, embora os gastos com concentrados sejam os principais da atividade

Isso significa que, embora as despesas com concentrado sejam sempre apontadas como as vilãs, nem sempre o problema da fazenda estará no principal componente do custo. Por fi m, o comparativo nos permite avaliar que possíveis falhas no manejo da alimentação, bem como a produção em quantidade e qualidade dos volumosos, ou, até mesmo a aquisição de insumos mais caros nesse período, foram problemas maiores nas fazendas menos rentáveis. Já parou para pensar que uma das estratégias para equilibrar os custos com concentrados é justamente elaborar dietas que contam com o alto valor nutricional agregado aos alimentos volumosos? Pecuaristas precisam, antes de tudo, ser excelentes agricultores, o que signifi ca que é necessário otimizar o fornecimento de volumoso, buscando alimentos com valores nutricionais que, ao longo do período de utilização, nos permitem alcançar equilíbrio nos custos com os alimentos concentrados. Para aumentar a segurança no trajeto, certifique-se de sempre olhar pelo retrovisor e checar, com a sabedoria do bom condutor, os entraves que podem atrasar e as oportunidades que podem acelerar a chegada ao destino da eficiência econômica na atividade. Boa viagem! 


EMBORA AS DESPESAS COM CONCENTRADO SEJAM SEMPRE APONTADAS COMO VILÃS, NEM SEMPRE O PROBLEMA DA FAZENDA ESTARÁ NO PRINCIPAL COMPONENTE DO CUSTO DE PRODUÇÃO 

REFERÊNCIAS

BÁRBARA PACHECO
Engenheira Agrônoma e Consultora da Labor Rural

WILLIAM HELENO MARIANO
Zootecnista e Consultor da Labor Rural

CHRISTIANO NASCIF
Diretor da Labor Rural, Diretor Técnico do Sistema FAEMG e Superintendente do SENAR MINAS


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