EQUILÍBRIO É O CAMINHO

Com a evolução da tecnologia, a pecuária leiteira tem experimentado mudanças significativas em suas práticas. A adoção de técnicas e equipamentos de ponta é cada vez mais frequente nas propriedades rurais, o que permite a melhoria do manejo dos animais e o aumento da produtividade. Entre as inovações, destaca-se a ordenha robotizada, que vem ganhando espaço nas fazendas leiteiras. Além disso, há a implementação de galpões climatizados para o confinamento dos animais, sensores de ruminação, câmeras infravermelho, drones e outras tecnologias que proporcionam melhor controle e monitoramento da atividade.
Entretanto, é importante ressaltar que essas tecnologias demandam altos investimentos por parte dos produtores, e muitas vezes esses recursos são provenientes de instituições bancárias ou modelos de parceria. Como resultado, a empresa especialista em análise de dados técnicos, econômicos e financeiros de propriedades rurais, Labor Rural, tem observado aumento significativo no número de produtores de leite com alto nível de endividamento. Esse fato deve servir como um alerta para a forma com que os produtores vêm administrando os investimentos nessas tecnologias, já que o sucesso da atividade leiteira depende de gestão financeira responsável e equilibrada.

Tecnologia a serviço do produtor 

A tecnologia, sem dúvida, será sempre uma aliada do produtor na busca por melhorias nos processos, maximização de resultados, redução de perdas e diminuição da dependência de mão de obra. Entretanto, em alguns casos, o produtor pode adquirir a tecnologia de forma equivocada, seja buscando solucionar problemas primários ou seguindo tendências de mercado, o que pode gerar resultados insatisfatórios ou até mesmo não solucionar o real entrave da fazenda.
Para exemplificar, a Labor Rural analisou os resultados de fazendas monitoradas com acompanhamento econômico e constatou que uma parcela dos produtores que aderiram ao sistema de confinamento Compost Barn, em constante ascensão no setor, obteve retorno rápido com a nova tecnologia, enquanto outra parcela teve resultados econômicos aquém do esperado. Isso reforça a teoria de que a pecuária leiteira não possui caminho único para o sucesso e que a tecnologia, por si só, não é a solução absoluta.

EM ALGUNS CASOS, O PRODUTOR PODE ADQUIRIR A TECNOLOGIA DE FORMA EQUIVOCADA, SEJA BUSCANDO SOLUCIONAR PROBLEMAS PRIMÁRIOS OU SEGUINDO TENDÊNCIAS DE MERCADO 

 
A decisão de investir em tecnologia deve estar ligada às análises técnica, econômica e financeira da atividade leiteira.

O Gráfico 1 apresenta a árvore de decisão elaborada pelo Departamento de Inteligência da Labor Rural. Os quadrados azuis representam os indicadores que foram decisivos para a segregação de grupos distintos de fazendas, enquanto os quadrados verdes representam a média dos resultados das fazendas em relação ao indicador de margem líquida por vaca em lactação (R$/ano/vaca). Para interpretar o Gráfico 1, deve-se seguir o caminho à esquerda sempre que se desejar verificar se a fazenda apresenta resultados inferiores ao valor indicado pelo quadrado azul. 

 

Com base na análise realizada, verificou-se que o principal fator que diferenciou os resultados das fazendas foi o gasto com alimentos volumosos em relação à renda bruta da atividade. Ou seja, quanto maior o comprometimento da renda bruta da fazenda com despesas de alimentos volumosos, pior foi a margem líquida por vaca em lactação. De acordo com a análise de regressão, gerada em paralelo com a árvore de decisão, o comprometimento da renda bruta da atividade com os gastos com alimentos volumosos influenciou em 20,8% a margem líquida por vaca em lactação. Portanto, para obter melhores resultados com o sistema de Compost Barn, o produtor não deve comprometer mais do que 10,9% do faturamento com produção ou compra de volumoso.
Além disso, verificou-se que as fazendas que comprometeram mais de 14,5% da renda com alimentos volumosos tiveram um resultado médio de margem líquida por vaca em lactação de R$ 2.575.

Já as fazendas que gastaram mais de 36% da renda bruta com alimentos concentrados e minerais tiveram resultados muito baixos, com margem líquida média de apenas R$ 3.923 por vaca em lactação. É importante destacar que o controle dos custos é fundamental para o sucesso da atividade leiteira e que a utilização da tecnologia, como o sistema de Compost Barn, deve ser feita de forma planejada e estratégica, levando em consideração todos os fatores que podem impactar nos resultados da fazenda. A interpretação dos ramos da árvore que levam aos melhores resultados permite identificar que as fazendas com as maiores margens líquidas por vaca em lactação (R$ 11.310/vaca em lactação) são aquelas que comprometem menos de 10,9% da renda bruta com alimentos volumosos, menos de 33,8% com concentrado e minerais, e que obtêm uma média anual de produção superior a 28 litros por vaca em lactação. Da comparação entre essas fazendas com aquelas com médias produtivas menores que 28 litros/ vaca em lactação, verifica-se que a diferença na margem líquida por vaca em lactação foi de R$ 3.431.

Por outro lado, as fazendas que gastaram menos de 10,9% com alimentos volumosos e mais de 33,8% com concentrado e minerais tiveram o gasto com sanidade e reprodução como o fator diferenciador. As fazendas que comprometeram mais de 4,2% com sanidade e reprodução, mesmo com equilíbrio no gasto com alimentos volumosos e concentrados, tiveram uma margem líquida por vaca em lactação de apenas R$ 4.167.

O SISTEMA DE PRODUÇÃO OU TECNOLOGIA UTILIZADA NÃO DEFINE O RESULTADO DA FAZENDA POR SI SÓ. O QUE DETERMINA O RESULTADO É O EQUILÍBRIO ENTRE DIVERSOS FATORES

Na busca do equilíbrio 

Existem diversas maneiras de os produtores alcançarem resultados positivos de margem líquida por vaca em lactação, mesmo em escalas muito diferentes. Além disso, o sistema de produção ou tecnologia utilizada não define o resultado da fazenda por si só. O que determina o resultado é o equilíbrio entre diversos fatores.

RENATO SHINYASHIKI - Head de Projetos Pecuários da Labor Rural