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Clínica do Leite, Qualidade do Leite

FAQ MAIS LEITE: MASTITE CLÍNICA

A consultoria Mais Leite atualiza o que se sabe sobre a mastite clínica e responde as dúvidas mais frequentes sobre o assunto.

FAQ MAIS LEITE: MASTITE CLÍNICA

1 - Qual é o principal desafio na identificação da mastite clínica? 

O principal desafio na identificação da mastite clínica é padronizar o que ela realmente é e suas variações. Diariamente, produtores e ordenhadores devem estar atentos a qualquer alteração que ocorra no leite, pois, normalmente, é causada pela mastite clínica. O teste da caneca de fundo escuro é a principal ferramenta para o diagnóstico, e deve ser realizado em todas as ordenhas. O processo consiste na retirada dos 3 primeiros jatos de leite de cada teto, de forma contínua. A presença de grumos somente no primeiro jato de leite, mesmo que o fluxo siga sem alterações, é considerada sinal de mastite clínica. O mesmo se aplica se houver coágulos apenas no segundo ou terceiro jato de leite. Em muitas fazendas, a presença de grumos no início da ordenha ainda é considerada um “tampão”, o que é mito, já que nem todas as vacas apresentam esse sintoma. Além disso, o tampão de queratina se forma no período seco da vaca – de forma mais precisa, em cerca de 15 dias após a secagem. Outro desafio é a escolha da caneca para o teste, uma vez que alguns modelos disponíveis no mercado têm a tela muito grossa, o que dificulta a retenção e visualização de pequenos grumos, leite amarelado ou aguado, por exemplo. 

A caneca de fundo escuro é ideal para identificar qualquer alteração no leite, como a presença de pequenos grumos

2 - Qual é o percentual médio mensal de casos de mastite nas fazendas leiteiras? 

De acordo com o sistema produtivo da fazenda, haverá maior ou menor risco de ocorrência de mastite, de acordo com a ambiência oferecida. Fazendas que operam em sistemas confinados (Compost Barn ou FreeStall) apresentam menos de 3% de casos de mastite clínica ao mês (3 tetos a cada 100 animais são acometidos por mês) e mantêm constante esse indicador (Gráfico 1). Nos sistemas semi-intensivos e extensivos, os desafios relacionados ao conforto e bem-estar são maiores, de forma que as fazendas com bons resultados apresentam entre 5% e 8% de casos ao mês. Esse indicador deve ser monitorado mensalmente, mas é necessário analisar o grupo de agentes envolvidos e a prevalência de cada um, para direcionar o trabalho e atuar na raiz do problema.

 

3 - Quais são os principais agentes causadores da mastite clínica? 

Os principais agentes causadores da mastite clínica são separados, para fins didáticos, em dois grupos: ambiental e contagioso. O grupo de bactérias gramnegativas, como Escherichia coli e Enterobacter spp., é transmitido, principalmente, via ambiente. Já a Klebsiella spp. e Pseudomonas são agentes ambientais, mas com o potencial de ser contagiosos também. Os Streptococcus uberis e Streptococcus dysgalactiae são bactérias com maior prevalência no ambiente, assim como o Enterococcus e Prototheca spp. No entanto, os Streptococcus ambientais podem ter comportamento contagioso subclínico, principalmente quando não é atingida a cura microbiológica no tratamento. Já Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus, Corynebacterium bovis e Mycoplasma bovis são bactérias contagiosas, que se instalam nas vacas predominantemente no ambiente da ordenha.
O grupo dos Staphylococcus não aureus e Lactococcus, formado por agentes oportunistas, está se tornando cada vez mais prevalente como causador da mastite, pois acomete animais com sistema imune debilitado.


4 - Quais critérios devem ser considerados antes de tratar o animal portador de mastite clínica?

Antes de realizar o tratamento contra a mastite clínica, é importante avaliar o potencial de resposta do animal, pois existem fatores que podem reduzir a eficácia terapêutica e gerar altos custos com antibióticos e descarte desnecessário de leite. Vacas com mais de três casos no mesmo quarto ou cinco casos na lactação são consideradas cronicamente infectadas, e o tratamento pode não ser economicamente viável, sendo necessário um programa de descarte de animais.

Outros critérios a serem avaliados:

a) O animal ser portador de Staphylococcus aureus, Mycoplasma bovis ou Prototheca – também é critério para descarte;

b) A Contagem de Células Somáticas (CCS) anterior ao caso de mastite, pois pesquisadores mostraram que a alta CCS nos dois controles que antecederam o caso de mastite estava associada à redução da taxa de cura microbiológica e maior recorrência de mastite clínica; 

c) O escore de esfíncter do teto acometido; 

d) Se possível, o agente envolvido no quadro.

Realizar cultura na fazenda antes do tratamento pode reduzir drasticamente o uso de antibióticos e o descarte de leite, o que contribui com o sucesso nos resultados financeiros. Com a consultoria Mais Leite, casos de redução de até 60% dos custos foram verificados após a adoção dos critérios recomendados.  

5 - Por que se deve avaliar o grau da mastite antes de iniciar o protocolo de tratamento?  


Quando se trata de protocolo às cegas, é importante determinar o grau da mastite antes de iniciar o tratamento:

a) Grau 1: envolve apenas alterações visuais no leite, sendo recomendado o uso de antibiótico intramamário de amplo espectro;
b) Grau 2: apresenta alterações no leite e sinais de inflamação no úbere, sendo recomendado o uso de antibiótico intramamário e anti-inflamatório sistêmico;
c) Grau 3: requer terapia de suporte, como hidratação associada ao uso de antibiótico sistêmico, intramamário e anti-infl amatório. A duração do tratamento varia de acordo com a persistência dos sintomas, mas recomenda-se o mínimo de três dias, seguido por, pelo menos mais dois dias após o fim dos sintomas.

É importante ter mais de duas opções de medicamentos para serem utilizados como tratamento caso não ocorra a cura bacteriológica, além de seguir a orientação de aplicação do medicamento intramamário. Embora pareça simples, sempre há pontos a serem ajustados e, para que os protocolos sejam executados corretamente, é crucial deixar as informações muito claras na fazenda.

 A correta aplicação do antibiótico intramamário é fundamental para a efi ciência do protocolo de tratamento contra a mastite

6 - Qual é a importância da cultura na fazenda para o tratamento contra mastite?

Quando se realiza a cultura na fazenda, o tratamento é determinado de acordo com o agente envolvido no caso. Primeiramente, é preciso entender qual é o grau de acometimento e, se houver necessidade de terapia sistêmica, ela pode ser iniciada imediatamente. De toda forma, é realizada a coleta, de forma asséptica, da amostra de leite do quarto afetado, seguida da inoculação na placa e da leitura após 24 horas.
A frequência de cada agente varia de acordo com o sistema, mas é comum ter 30% a 50% de resultados sem crescimento microbiológico, o que, na maioria das vezes, indica que o organismos da vaca já eliminou o agente e, portanto, não é necessário realizar o tratamento intramamário. Tratamentos contra agentes como Escherichia coli, Pseudomonas e Prototheca têm baixa eficiência, logo, quando isolados, a recomendação é não tratar. Já a terapia com antibióticos contra Streptococcus ambientais apresenta boa resposta, mas a duração do tratamento depende da espécie. 

 Assim, a cultura na fazenda é ferramenta valiosa ao controle da mastite, já que orienta o uso ou não do antibiótico – e, quando recomendado, determina a duração e a base farmacológica capaz de combater o microrganismo isolado. Ao utilizar antibióticos específicos, a taxa de cura é ampliada. Além disso, a identificação do agente causador permite a adoção de medidas de prevenção mais efetivas e específicas contra determinada causa.

  7 - Qual é a frequência de casos de mastite clínica que não demandam tratamento com antibióticos?

 De acordo com os dados apresentados pela Profª. Pamela Ruegg no evento Novos Enfoques 2023 (provenientes do estudo realizado por Juliana Leite de Campos et al., em revisão para o Journal of Dairy Science 2023), dos 20.625 casos de mastite clínica avaliados em 37 fazendas localizadas em Wisconsin (EUA), 30% não receberam tratamento com antibióticos.
No Brasil, a OnFarm oferece um sistema de diagnóstico de mastite a campo que auxilia no uso racional de antibióticos, reduzindo o uso em cerca de 50% nos casos clínicos. Em 5 anos de atuação no mercado, estima-se que a OnFarm tenha contribuído para evitar o descarte de 13 milhões de litros de leite.

 

 

8 - Qual é o critério utilizado para determinar se o tratamento da mastite é viável?

Para determinar o tratamento contra a mastite mais adequado é importante avaliar o patógeno presente e o histórico do animal. Caso a mastite seja causada por agente associado à alta chance de cura espontânea ou por antibioticoterapia e caso o animal apresente escore de esfíncter adequado e menos de três tratamentos prévios contra a mastite clínica, além de contagem de células somáticas menor que 200.000 células/mL, o tratamento é viável e a chance de permanência do animal no rebanho é alta. Em contrapartida, em casos de mastites causadas por agentes associados à baixa chance de cura por antibioticoterapia, como Staphylococcus aureus, Mycoplasma, Prototheca e outros, em animais com histórico com mais de três tratamentos prévios contra a mastite clínica, cronicidade de mastite subclínica ou mastite clínica ou subclínica em lactações anteriores, o tratamento não é viável. 

9 - Qual a importância da saúde do teto no controle da mastite?

As alterações teciduais decorrentes da hiperqueratose ao redor do canal do teto facilitam a entrada e permanência de bactérias na glândula mamária, o que pode levar à ocorrência de mastite. É correto afirmar que, mesmo após a recuperação de uma infecção intramamária, novos casos podem ocorrer devido à lesão da barreira física de proteção do teto. Além disso, foram observadas associações moderadas a fortes entre a hiperqueratose grave e a incidência ou prevalência de Staphylococcus aureus, destacando a importância da saúde da extremidade do teto no controle da mastite contagiosa, já que o sucesso do tratamento com antibioticoterapia, nesse caso, é moderado a baixo. 

 
A saúde da extremidade do teto é fator crucial para o sucesso do tratamento contra mastites contagiosas.

10 - Os produtores entendem os critérios de descarte? 

O descarte de animais é sempre um desafio nas fazendas. Para reduzir a complexidade do tema, é importante entender que diversas causas, além da mastite, justificam o descarte de animais, como problemas na reprodução, produção, sanidade e nos casco. Por isso, é essencial trabalhar em conjunto com o produtor, para direcionar estratégias amplas que envolvam toda a fazenda. O produtor deve saber calcular o prejuízo que animais crônicos causam à atividade, tanto diretamente quanto indiretamente.
Em geral, ainda há espaço para melhorias que consideram o planejamento do rebanho e o descarte, para que a estrutura financeira não seja comprometida e o sistema seja sustentável. Mais do que simplesmente descartar animais, é fundamental entender a causa e agir preventivamente.





MARIANA BRANT DRUMOND MAGALHÃES DORNAS - Médica Veterinária, Consultora e Sócia-Fundadora da Mais Leite 

PÂMELA MICHELI FURINI - Médica Veterinária, Consultora e Sócia-Fundadora da Mais Leite 

MARINA FERREIRA BORGES - Médica Veterinária e Consultora Júnior da Mais Leite 

ISADORA MARUGEIRO DE PAULA TEODORO - Médica Veterinária e Trainee da Mais Leite 

LUIZA DELMONDES - Graduanda em Medicina Veterinária e Estagiária da Mais Leite  

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