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Fazendas, Geral

GUARACI AGROPASTORIL - Luis Fernando Laranja da Fonseca - Itirapina/SP

A Guaraci Agropastoril, situada em Itirapina/SP, tem como base a sustentabilidade, fundamentada na produção orgânica, no bem-estar animal e na redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.

GUARACI AGROPASTORIL - Luis Fernando Laranja da Fonseca - Itirapina/SP

Quem foi aluno de Luis Fernando Laranja da Fonseca, na Faculdade de Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), ouviu, na primeira aula da disciplina de Bioquímica, que toda a vida nasce do sol, pois começa com a fotossíntese. Embora distantes das salas de aula convencionais, as comunidades indígenas já sabiam disso. Os Tupi-Guarani deram à divindade do sol o nome Guaraci, o guardião da vida. É por esse motivo que a Guaraci Agropastoril, localizada em Itirapina/SP, recebeu esse nome: pretende ser luz no caminho da produção sustentável e dar vida a uma nova forma de pensar a atividade leiteira. 

 

Caminho do sol 

Não se pode escutar as histórias contadas por Luis Fernando Laranja da Fonseca - Sócio-Proprietário da Guaraci Agropastoril e Sócio-Fundador da NoCarbon (marca de leite orgânico carbono zero), de forma distraída. Corre-se o risco de se perder nos caminhos trilhados por esse Médico Veterinário gaúcho, os quais propiciaram uma nova forma de enxergar a vida, refletida na condução de seus inúmeros negócios.
A começar pela mudança de carreira, deixando a consolidada posição como professor e pesquisador na USP, como consultor de grandes fazendas e indústrias de laticínios, para imergir em tribos indígenas na Amazônia. Lá, empreendeu em negócios sustentáveis, focando em iniciativas alinhadas à preservação florestal e à sustentabilidade. Toda essa experiência moldou (ou corroborou) sua forma de pensar e, ao retornar para São Paulo, voltou às raízes na produção leiteira, impulsionado pelo desejo de estabelecer um modelo de produção sustentável. Nas palavras dele: “Fiquei profundamente envolvido com a agenda de conservação ambiental, especialmente com as questões relacionadas às mudanças climáticas. Comecei, então, a participar das Conferências do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) e aprofundei meus estudos sobre o tema”.
Com base em sua reflexão sobre os desafios enfrentados pela indústria de proteínas de origem animal, especialmente em relação às mudanças climáticas, ao uso de insumos e ao bem-estar animal, Luis Fernando decidiu abranger esses desafios na produção de leite em vez de negálos. Buscou certificações de terceira parte, como orgânico, carbono neutro, bem-estar animal e Go Planet, para responder às demandas do mercado e à sua própria convicção. “Após concluirmos as certifi cações necessárias, sentimos que estávamos prontos para criar uma marca que traduzisse todo esse conceito. Há aproximadamente dois anos, surgiu a NoCarbon, nome escolhido com o intuito de destacar a nossa preocupação com as questões das mudanças climáticas”.
Atualmente, a NoCarbon está presente nas grandes cadeias de varejo. “Acreditamos que é possível expandir e produzir em larga escala, mantendo todos esses atributos de responsabilidade ambiental”, explica.

Pequenas diferenças, grandes resultados


Para um visitante desavisado, a Guaraci Agropastoril poderia ser estruturalmente confundida com qualquer outra fazenda leiteira, uma vez que todos os setores são organizados de forma convencional. No entanto, os detalhes revelam o resultado de anos de estudo e treinamento dos colaboradores para conduzir a propriedade de maneira sustentável. E isso faz toda a diferença.

Começando pela produção agrícola: "Além de não utilizarmos herbicidas, inseticidas, fungicidas ou adubos químicos, adotamos práticas orgânicas e insumos biológicos. Um aspecto estrutural que se destaca é o uso de esterco de galinha como adubo para os pastos. Enquanto os fazendeiros convencionais veem nossa prática como algo quase impossível, nós mostramos que é viável ", explica Luis Fernando. A produção orgânica inseriu no dia a dia da fazenda a necessidade de aprender a conviver com a diversidade. Na impossibilidade de usar herbicidas, mesmo com o adequado manejo, eventualmente surgem plantas invasoras. Nesse sentido, Luis Fernando explica: “No final das contas essas plantas invasoras prejudicam o rebanho? Se a resposta for que não causam danos, podemos utilizá-las na silagem.”. Como resultado, o teor de proteína da silagem oferecida aos animais é mais elevado, pois outras culturas foram incorporadas. "Plantamos o sorgo juntamente com duas ou três leguminosas, por exemplo, e no final temos uma silagem com teor de proteína mais alto. É uma forma diferente de enxergar a agricultura".
Dentro dessa ótica, entende-se que a agricultura convencional é baseada na estratégia de exclusão. "Tradicionalmente, eliminamos toda a vida ao redor da única planta que queremos produzir. Se queremos produzir milho, temos que eliminar tudo ao redor do milho. Matamos todos os insetos com inseticidas, todos os fungos com fungicidas e todas as ervas daninhas com herbicidas, em prol de uma única espécie: o milho. Isso resulta em uma produção quase esterilizante. É um pacote tecnológico que acaba com a biodiversidade. No entanto, com os conceitos da agricultura regenerativa, estamos começando a perceber que esses fungos, insetos e outras plantas podem ser benéficos para o sistema. Agora, precisamos aprender a lidar com eles de maneira diferente", explica Luis Fernando.
Por ter suas bases na agricultura orgânica, a agricultura regenerativa prioriza as estratégias que promovem a saúde do solo e a gestão sustentável da terra, práticas adotadas com sucesso na Guaraci Agropastoril. Todo o alimento volumoso (silagem de capim e culturas anuais) consumido pelos animais é de origem orgânica e produzido na fazenda. “A partir do próximo ano, a meta é abandonar as culturas anuais em prol da redução de carbono, evitando o revolvimento do solo. Dessa forma, os alimentos volumosos serão provenientes de culturas perenes, como capim mombaça e braquiária, combinadas com leguminosas, como estilosantes e feijões Lab Lab”.

  

CONSIDERANDO QUE APROXIMADAMENTE 60% DE NOSSAS EMISSÕES TOTAIS SÃO COMPOSTAS POR METANO, AO REDUZIR DE 30% A 40% ESSAS EMISSÕES, CONTRIBUÍMOS PARA A DIMINUIÇÃO DE CERCA DE 20% NO TOTAL DAS EMISSÕES, RESULTADO MUITO IMPORTANTE E SIGNIFICATIVO, GRAÇAS AO USO DO BOVAER ® INSERIDO NA DIETA DIÁRIA DOS ANIMAIS           

Pegadas reduzidas 

Do ponto de vista da neutralidade de carbono, a certificação Carbon Free, concedida à Guaraci Agropastoril pela ONG Iniciativa Verde, simboliza o compromisso de resolver duas equações essenciais: a equação das emissões e a equação do sequestro de carbono.
No que diz respeito às emissões, foram devidamente mensuradas todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE), abrangendo não apenas aquelas relacionadas aos animais, como o metano gerado durante o processo digestivo, mas também as provenientes do uso de óleo diesel em tratores e caminhões, bem como o consumo de energia elétrica para resfriar o leite. Além disso, as embalagens finais dos produtos, desde a produção até a chegada no varejo, foram minuciosamente consideradas no cálculo. "Empenhamos todos os esforços para reduzir significativamente as emissões de GEE, porém, apesar de termos obtido resultados expressivos, ainda não atingimos a pegada de carbono zero".
Entre as práticas adotadas para a redução das emissões, destaca-se o uso do Bovaer ®, produto da DSM capaz de reduzir entre 30% e 40% as emissões de metano. "Considerando que aproximadamente 60% de nossas emissões totais são compostas por metano, ao reduzir de 30% a 40% essas emissões, contribuímos para a diminuição de cerca de 20% no total das emissões, resultado muito importante e significativo, graças ao uso do Bovaer ® inserido na dieta diária dos animais", comenta Luis Fernando.
Quando se alcança esse patamar de redução da pegada de carbono, a segunda equação, que se refere ao sequestro de carbono, passa a ser perseguida. As práticas incluem a já estabelecida agricultura regenerativa, além do plantio de árvores e a utilização de sistemas agroflorestais, que contribuem para a captura de dióxido de carbono da atmosfera.

 
A adoção de sistemas agroflorestais é uma estratégia eficaz para capturar dióxido de carbono da atmosfera, fortalecendo ainda mais a sustentabilidade agrícola

Luis Fernando esclarece: "Para neutralizar as emissões, plantamos árvores nativas dentro da fazenda. Utilizamos uma metodologia internacional para calcular a quantidade de carbono que essas árvores são capazes de sequestrar, e, com base nisso, determinamos quantas árvores precisamos plantar". O objetivo é fazer com que a diferença entre as equações seja zero, para neutralizar as emissões de carbono.

Bem-estar desde o começo 

A adoção de práticas que promovam o bem-estar animal é constante na fazenda. Exemplo disso é a criação das bezerras em baias coletivas, onde são agrupadas em lotes de quatro ou cinco desde bem pequenas, para estimular a interação social.
Logo após o nascimento, as bezerras recebem colostro e, até os 10 dias de idade, são mantidas em baias próximas ao centro de manejo, onde aprendem a mamar corretamente. A partir dessa idade, as bezerras continuam recebendo leite duas vezes ao dia, sendo três litros pela manhã e três litros à tarde. Além do leite, passam a ter acesso à ração à vontade e um pouco de feno. O manejo segue o padrão tradicional e o desaleitamento ocorre por volta dos 75 dias de idade.
O investimento em bem-estar animal, que começa com as bezerras, se estende até os 200 animais em lactação. O rebanho é resultado do cruzamento das raças Holandês, Simental e Jersey e é mantido em um Compost Barn.

  

 

Diferentemente do sistema convencional, a porteira do Compost Barn é mantida aberta, permitindo que as vacas tenham acesso à área externa a qualquer hora do dia. Essa prática garante que as vacas tenham a liberdade de se movimentar e desfrutar do ambiente externo.
Essas mudanças de paradigma na forma de lidar com os animais exigem treinamento e dedicação dos colaboradores. Nesse sentido, Luis Fernando destaca que "Ao oferecer alternativas e estratégias aos colaboradores, as novas práticas se encaixam de forma mais coerente. Com o tempo, aprendemos que é possível conduzir as vacas com tranquilidade. Tudo se torna mais harmonioso. No entanto, é um processo trabalhoso que demanda uma mudança cultural."

Leite e derivados certificados 

Com a capacidade de produção de alimentos atual, a fazenda comportaria o dobro da produção, uma das metas a serem alcançadas. No momento, a média de produção de cerca de 17 L/vaca/dia gera 3.500 L de leite, ordenhados duas vezes por dia, em uma ordenha mecânica convencional, espinha de peixe, com 12 conjuntos. Como exigência da certificação orgânica, a desinfecção dos tetos após a ordenha é realizada exclusivamente com produtos aprovados. Todo o leite produzido na fazenda é processado em parceria com um laticínio certificado. O procedimento é realizado de forma simples e eficiente: em um dia específico da semana, o leite orgânico, proveniente de animais criados com condições de bem-estar animal e com baixa pegada de carbono, é processado separadamente e embalado com a marca própria, NoCarbon. O leite é vendido para um parceiro especializado na produção de derivados, tais como queijo, iogurte e kefir, com essas características especiais.


Os produtos NoCarbon têm como diferencial a contabilização de todas as emissões de GEE geradas em sua produção, que são compensadas por meio do plantio de árvores nativas

O LEITE ORGÂNICO, PROVENIENTE DE ANIMAIS CRIADOS COM CONDIÇÕES DE BEM-ESTAR ANIMAL E COM BAIXA PEGADA DE CARBONO, É PROCESSADO SEPARADAMENTE E EMBALADO COM A MARCA PRÓPRIA, NOCARBON

      

Entre aspas
"Não importa o que consumiremos em 2050, porque não há tempo sufi ciente para planejar esse ponto específico no tempo. O que realmente importa é o futuro mais próximo. Se você me perguntar sobre essa previsão, posso responder: em 2030, consumiremos mais carne e mais leite."
A previsão de Luis Fernando tem como referência as projeções das principais organizações do mundo, que indicam um aumento de 20% no consumo de proteína de carne e leite até 2030. A partir dessa previsão, várias questões relacionadas à sustentabilidade passam a ganhar relevância.
"Em relação a 2050, não podemos afirmar com certeza o que ocorrerá, pois já teremos atingido um ponto crítico. Portanto, até 2030, precisamos repensar a forma como produzimos carne e leite, caso contrário, a crise climática se intensificará mais cedo do que o esperado. É simples assim: precisamos reinventar a produção de proteínas animais."

  
Na Guaraci Agropastoril, foram mensuradas todas as emissões de GEE, incluindo aquelas relacionadas aos animais, geradas no processo digestivo

Movido por essa convicção, o grupo Guaraci Agropastoril tem um projeto em andamento na Bahia. "Trata-se de uma fazenda de grande porte, com 3 mil hectares, e acaba de receber a certificação orgânica. Atualmente, ainda não possuímos animais, estamos no processo de plantio de capim e em breve começaremos a colher para a produção de silagem. Nosso projeto de expansão é ambicioso e está planejado para ser concluído em 2024. Contamos com o apoio e investimento do Fundo Vale, nosso parceiro estratégico nessa jornada." Toda a forma de pensar a produção é resultado de muito estudo, de parcerias estratégicas e das vivências de Luis Fernando. Sobre isso, ele afirma: "Quando decidi sair da USP, meu objetivo era empreender em um negócio alinhado com a conservação e a questão da mudança climática, mesmo que na época se falasse pouco sobre isso. A experiência que tive na Amazônia me permitiu compreender melhor a questão indígena e a cultura desses povos."

 
A nova forma de pensar a atividade leiteira na Guaraci Agropastoril é resultado de extensos estudos, das parcerias estratégicas e das experiências vividas por Luis Fernando

EM RELAÇÃO A 2050, NÃO PODEMOS AFIRMAR COM CERTEZA O QUE OCORRERÁ, POIS JÁ TEREMOS ATINGIDO UM PONTO CRÍTICO. PORTANTO, ATÉ 2030, PRECISAMOS REPENSAR A FORMA COMO PRODUZIMOS CARNE E LEITE, CASO CONTRÁRIO, A CRISE CLIMÁTICA SE INTENSIFICARÁ MAIS CEDO DO QUE O ESPERADO. É SIMPLES ASSIM: PRECISAMOS REINVENTAR A PRODUÇÃO DE PROTEÍNAS ANIMAIS

Moldado pelas experiências da vida, Luis Fernando não se desconecta de suas raízes, o que torna toda a sua jornada ainda mais particular e interessante: "Como sou gaúcho dos Pampas, minha família é da região de fronteira entre o Rio Grande do Sul e a Argentina, saí de um ambiente de pastagens e fui morar em uma região de floresta. Essa experiência foi determinante para a forma como conduzo meus negócios atuais"

 

Confira o vídeo que revela os detalhes do trabalho na Guaraci Agropastoril:


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