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Clínica do Leite, Qualidade do Leite

MITOS E VERDADES SOBRE A MASTITE

Desvendar alguns conceitos sobre a mastite é crucial para prevenir, diagnosticar e tratar essa doença.

MITOS E VERDADES SOBRE A MASTITE

A mastite pode ser definida como a inflamação da glândula mamária, que na maioria das vezes é causada por bactérias presentes na pele do úbere ou no ambiente de descanso dos animais. O processo inflamatório faz parte do mecanismo de defesa do organismo, que tenta eliminar o microrganismo responsável pela doença. No entanto, se a reação inflamatória for exagerada, a mastite se manifestará de forma clínica, podendo ser acompanhada de edema, dor, febre e até mesmo levar o animal à morte. Por outro lado, a infecção pode ser silenciosa e imperceptível aos olhos do produtor, sendo denominada mastite subclínica.
Desse modo, a condição subclínica acaba sendo o tipo mais predominante nas propriedades, causando prejuízos pela diminuição da produção e qualidade do leite enviado para indústria. Essa realidade é alarmante: a mastite é responsável por impacto financeiro significativo, representando cerca de 10% do faturamento das fazendas produtoras de leite no Brasil.

 Classificação da mastite 

A doença pode ser classificada como contagiosa ou ambiental, dependendo do agente causador. A mastite contagiosa é principalmente causada por bactérias que vivem na pele do animal e está mais associada a casos subclínicos que podem se tornar crônicos se não forem tratados adequadamente. Na forma contagiosa, as bactérias Staphylococcus agalactie e S. aureus são encontradas com maior frequência.
Por outro lado, a mastite ambiental está associada a casos clínicos e é causada por microrganismos como Streptococcus uberis, S. dysgalactiae, e Escherichia coli, o que faz com que o organismo responda de forma mais agressiva no combate à infecção. Nesse sentido, compreender conceitos práticos sobre o manejo dos animais saudáveis e infectados, bem como os mitos e verdades, é muito importante para minimizar os prejuízos causados pela mastite dentro do sistema de produção.

 COMPREENDER CONCEITOS PRÁTICOS SOBRE O MANEJO DOS ANIMAIS SAUDÁVEIS E INFECTADOS, BEM COMO OS MITOS E VERDADES, É MUITO IMPORTANTE PARA MINIMIZAR OS PREJUÍZOS CAUSADOS PELA MASTITE DENTRO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO

Mitos e verdades 

1. Os animais possuem mais defesas além do sistema imunológico.

 VERDADE. 

Na região interior do teto, logo após o canal, as vacas possuem uma estrutura chamada esfíncter do teto. Esse esfíncter é formado por músculos que normalmente atuam como barreira física, mantendo-o fechado na maior parte do tempo. Isso evita que sujeiras e agentes causadores de mastite cheguem ao interior da glândula mamária. Durante a ordenha, o esfíncter se abre para permitir a saída do leite, e o fechamento completo requer um tempo adequado pelo organismo. Levando isso em consideração, é importante manter os animais em pé após a ordenha, de modo a evitar o contato dos tetos com o chão. Uma excelente alternativa é fornecer alimento imediatamente após saírem da sala de ordenha.

 2. O equipamento de ordenha pode contribuir para o aumento dos casos de mastite. 

VERDADE. 

O equipamento de ordenha com manutenção atrasada ou desregulada pode contribuir para o aumento dos casos de mastite, principalmente devido ao acúmulo de matéria orgânica ou a algum tipo de trauma ocasionado nos tetos. Equipamentos com manutenção atrasada podem apresentar borrachas ressecadas que formam fissuras, onde as bactérias podem se alojar e permanecer íntegras mesmo após a limpeza. Dessa forma, durante a ordenha, essas bactérias podem circular e aproveitar a abertura do esfíncter do teto para entrar e colonizar a glândula mamária. Além disso, equipamentos desregulados podem aplicar sobrecarga de vácuo nos tetos, causando danos físicos graves e até irreversíveis no esfíncter, o qual perde sua função principal de proteção (Foto 1).  

 Foto 1. Esfíncter mamário danificado Fonte: Arquivo Unileite-UFMG


3. Lavar os tetos com água corrente antes da ordenha é benéfico. 

MITO. 

Conforme mencionado anteriormente, algumas bactérias podem residir na pele do animal sem causar prejuízos. No entanto, durante a lavagem com água corrente, é comum que a região de inserção dos tetos no úbere seja atingida pela água. Com a ajuda da gravidade e da umidade, as sujidades que antes não entravam em contato com o canal do teto são deslocadas e podem atingir áreas que serão ocupadas pela teteira, aumentando, assim, o risco de contaminação bacteriana. Uma alternativa para animais com alta sujidade na região dos tetos é que o ordenhador realize uma primeira etapa de pré-dipping, seguida do uso de papel toalha individual e, em seguida, mais uma aplicação da solução de pré-dipping. Isso contribui para uma limpeza mais efetiva e reduz o risco de contaminação durante o processo de ordenha.

 4. A transmissão de agentes bacterianos pode ocorrer durante o manejo de ordenha. 

VERDADE

Existem precauções que o ordenhador deve adotar durante o manejo da ordenha, levando em consideração que as mãos podem ser um vetor de disseminação de bactérias entre as vacas. Portanto, é crucial manter as mãos sempre higienizadas e protegê-las com luvas sempre que possível. Além disso, é recomendado que cada folha de papel toalha seja utilizada somente em um teto antes de ser descartada. Reutilizar o mesmo papel toalha em mais de um teto, ou mesmo em mais de uma vaca, pode contribuir significativamente para a disseminação de agentes causadores de mastite. 

5. O tempo de ação e a composição dos produtos podem interferir na quantidade de casos. 

VERDADE

Existem diversas opções de produtos disponíveis no mercado, porém é fundamental compreender alguns aspectos importantes. Por exemplo, o pré-dipping deve agir no teto por, no mínimo, 30 segundos antes da secagem. Por outro lado, o pós-dipping não deve ser deixado secar e precisa ter boa capacidade de aderência ao teto. Ao considerar a composição dos produtos, é relevante destacar que aqueles à base de cloro são sensíveis à matéria orgânica. Portanto, devem ser utilizados frascos de imersão que impeçam o retorno da solução que entrou em contato com o teto para o recipiente da solução limpa. Outro detalhe importante é o armazenamento dos produtos à base de iodo.

O iodo perde sua eficácia quando exposto à luz solar. Portanto, recomenda-se armazenar esses produtos em um local coberto ou em recipientes que impeçam a entrada de luz.


 

6. A mastite subclínica deve ser tratada assim que for diagnosticada.

 MITO. 

O tratamento da mastite subclínica geralmente não é recomendado durante a lactação do animal, uma vez que as chances de sucesso são reduzidas devido ao curto tempo de ação dos antimicrobianos dentro da glândula mamária. Nesse sentido, é aconselhável que as vacas sejam submetidas à terapia de vaca seca. A terapia de vaca seca envolve a aplicação de antimicrobianos específicos nos quatro quartos da glândula mamária. Esses antimicrobianos possuem concentrações mais elevadas, liberação lenta e permanecem ativos na glândula por um tempo significativamente maior do que os produtos utilizados durante a lactação. Além disso, a terapia de vaca seca tem como objetivo prevenir a ocorrência de casos de mastite durante o período seco do animal, que geralmente dura entre 45 e 60 dias.

 

7. Toda vaca com mastite clínica deve ser tratada com bisnagas de antimicrobiano. 

MITO. 

Nem todos os animais necessitam de tratamento com antimicrobianos, uma vez que aproximadamente 20% das vacas com mastite podem apresentar recuperação espontânea. Atualmente, existe a opção de realizar a cultura microbiológica diretamente na fazenda, o que auxilia na identificação do agente causador da infecção e na recomendação do tratamento adequado. Em alguns casos, é sufi ciente administrar apenas terapia anti-inflamatória para auxiliar na redução do processo inflamatório e eliminação da infecção. No entanto, é essencial estabelecer um protocolo confiável de identificação, o qual deve ser combinado com a observação clínica do animal. Para isso, é recomendado consultar um Médico Veterinário de confiança.

8. O leite proveniente de quartos mamários não tratados pode ser adicionado ao tanque de armazenamento. 

MITO. 

Apesar de o tratamento ser aplicado apenas em um quarto mamário, existe o risco de o antimicrobiano se espalhar para o restante da glândula e afetar toda a produção diária de leite, contaminando o tanque de armazenamento. Portanto, é fundamental descartar todo o leite do animal durante o período de tratamento e seguir o tempo de carência indicado pelo fabricante do medicamento e pelo Médico Veterinário responsável.

9. O leite de vacas com mastite, mesmo sem a aplicação de antimicrobianos, deve ser adicionado ao tanque de armazenamento. 

MITO.

Mesmo na ausência de antimicrobianos, não é recomendado que o leite de animais com mastite seja adicionado ao tanque de armazenamento. Isso ocorre devido à presença de bactérias, que pode afetar negativamente a qualidade do produto, reduzindo sua durabilidade e comprometendo a qualidade dos derivados lácteos. Além disso, o leite de vacas com mastite apresenta Contagem de Células Somáticas (CCS) muito elevadas, o que pode resultar em penalidades financeiras e até mesmo na exclusão do produtor do grupo de cooperados do laticínio responsável. 

10. A transmissão de mastite pode ocorrer de uma vaca para outra durante as ordenhas. 

VERDADE. 

Com a troca de teteiras entre animais doentes e saudáveis, pode ocorrer o refluxo e a contaminação de tetos saudáveis, resultando no desenvolvimento da mastite em animais previamente saudáveis. Para evitar essa situação, é fundamental adotar a prática de segregar os animais doentes dos saudáveis e realizar a ordenha desses animais somente após a ordenha de todo o rebanho saudável. Após essa etapa, é essencial realizar higienização completa do equipamento antes de iniciar uma nova ordenha. 

11. Existe mastite em novilhas.

VERDADE. 

As novilhas podem contrair infecções de mastite de maneira semelhante às vacas adultas. No entanto, alguns animais podem ser infectados antes mesmo de apresentarem sinais de desenvolvimento da glândula mamária, indicando que a infecção pode ocorrer por meio do ambiente, bem como por moscas ou até mesmo por práticas de mamada cruzada. 

12. Podem existir grumos no leite produzido por vacas saudáveis. 

MITO. 

Independentemente da quantidade de grumos presente no leite, se houver qualquer sinal, a vaca é considerada positiva para mastite e o leite não deve ser direcionado ao tanque.

13. Colocar pesos no conjunto de ordenha acelera o processo de ordenha. 

MITO. 

Ao invés de acelerar o processo de ordenha, colocar pesos sobre o conjunto de ordenha (Foto 2) é extremamente prejudicial para a integridade do esfíncter mamário e para os ligamentos que sustentam o úbere. Portanto, é altamente recomendado realizar a manutenção regular do equipamento para garantir seu bom funcionamento. 

Considerações finais 

Fica claro que a mastite representa grande desafio na pecuária leiteira, já que causa prejuízos financeiros aos produtores e afeta a saúde dos animais. Nesse sentido, é fundamental adotar uma abordagem multidisciplinar, abrangendo aspectos como a rotina de ordenha, a saúde geral dos animais e a gestão dos colaboradores, de forma organizada e integrada. Isso é importante para a redução dos fatores de risco e dos casos de mastite no rebanho. No que diz respeito à mastite, quanto menos casos, melhor.






Foto 2. Peso sobre o conjunto de ordenha Fonte: Arquivo Unileite-UFMG





GIAN CARLOS DE OLIVEIRA - Mestrando em Ciência Animal, EV-UFMG
ANA CLARA VIEIRA ALVARENGA - Graduanda em Medicina Veterinária, EV-UFMG
GABRIELA LUIZA SOARES CLARINDO - Graduanda em Medicina Veterinária, EV-UFMG
JOÃO VICTOR ALVES SANTOS DE MENDONÇA - Graduando em Medicina Veterinária, EV-UFMG
RODRIGO MELO MENESES - Professor de Clínica de Ruminantes, EV-UFMG

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