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Sanidade

Pelvimetria como forma de prevenção de distocias em vacas leiteiras

Pelvimetria como forma de  prevenção de distocias em vacas leiteiras

Texto: Valentim Gheller, Luciana Faria de Oliveira, Kilder Alves Arantes

O uso de touros de elevado valor genético para características produtivas e de conformação, sem que se observem atentamente as características das fêmeas nas quais o sêmen será utilizado, pode gerar problemas futuros no parto das mesmas. Esses touros, quando acasalados com fêmeas de pelve pequena (idade ou condição genética), podem imprimir, com muita ênfase, a característica de peso ao nascer ao bezerro, levando a complicações no parto ou distocias. Muito tem-se estudado em relação ao controle genético das distocias, visando a uma seleção de animais para características como peso, área pélvica e peso do bezerro ao nascer. Este artigo tem por objetivo a descrição da pelvimetria como ferramenta disponível para identificação de propensões de fêmeas bovinas à distocias, e os benefícios de sua utilização junto às técnicas e controles reprodutivos.

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Introdução

A necessidade do aumento na produtividade das fêmeas bovinas teve reflexos diretos na atividade leiteira, que vem sendo exigida continuamente. Como consequência, podemos observar o crescente uso de “novas” tecnologias pelos produtores, objetivando aumento de qualidade e desempenho do rebanho como um todo. Dentre essas, podemos citar as técnicas de melhoramento genético e reprodutivo, como a escolha de um touro com melhores índices produtivos, de conformação e tipo, para uso na inseminação artificial (IA) e realização de cruzamentos programados. Depois, o uso da transferência de embriões (TE), e da fecundação e produção de embriões in vitro (FIV).

O uso de touros de elevado valor genético para características produtivas e de conformação na IA, TE ou FIV, sem que se observem atentamente as características das fêmeas nas quais o sêmen será utilizado, pode gerar problemas futuros no parto das mesmas. Esses touros, quando acasalados com fêmeas de pelve pequena (idade ou condição genética), podem imprimir, com muita ênfase, a característica de peso ao nascer ao bezerro, levando a complicações no parto ou distocias.

Muito tem-se estudado em relação ao controle genético das distocias, visando a uma seleção de animais para características como peso, área pélvica e peso do bezerro ao nascer. Já se sabe que vacas maiores apresentam maiores áreas pélvicas, porém também produzem bezerros proporcionalmente mais pesados ao nascimento do que vacas menores, o que neutraliza essa vantagem. Portanto, a seleção para essa característica, por meio do tamanho corporal, ainda é ineficaz. Outro ponto a ser considerado é a existência de uma correlação positiva entre área pélvica e peso do bezerro ao nascer. Assim, a seleção de animais para maior área pélvica, e não somente para peso corporal, pode ser mais vantajosa.

Com a evolução das gerações, a relação entre área pélvica materna e peso ao nascimento do bezerro tenderão a aumentar e, teoricamente, as distocias diminuirão. A grande frequência das distocias, suas implicações obstétricas e consequências econômicas representam motivo suficiente para o desenvolvimento de trabalhos para determinação de valores pelvimétricos, como o uso da pelvimetria direta e do Escore de Predição de Dificuldade de Parto, esses como ferramentas úteis na verificação da predisposição individual ou prevenção de possíveis distocias no rebanho.

Este artigo tem por objetivo a descrição da pelvimetria como ferramenta disponível para identificação de propensões de fêmeas bovinas à distocias, e os benefícios de sua utilização junto às técnicas e controles reprodutivos. Sugerimos para uma leitura complementar aos artigos o link http://hdl.handle.net/1843/SSLA-7USJ2J .

 

Pelve

Características Gerais

A cavidade pélvica, na espécie bovina, é formada pelos ossos da pelve, constituindo um canal osteoligamentoso por onde o feto necessariamente deve passar durante o parto. O conhecimento profundo de suas estruturas e conformação é de grande importância, não só para o clínico e obstetra, como para o produtor.

A parte óssea da pelve é composta pelo sacro e pelos dois ossos coxais, esquerdo e direito, formados pelo ílio, ísquio e púbis. A união dos ossos coxais é conhecida como sínfise pubiana. O menor dos três ossos que compõem a pelve é o púbis, que forma a porção cranial do assoalho pélvico. Em vacas mais jovens, ocasionalmente, pode-se encontrar no assoalho pélvico a projeção de uma tuberosidade pontiaguda para o canal pélvico, na porção cranial da sínfise púbica. Essa projeção pode causar contusões ou mesmo lacerações em quadros de distocias, constituindo-se assim, um obstáculo ao parto.

No momento do parto, sob influência das modificações hormonais característica do fim da gestação, as fibras ligamentosas têm sua constituição alterada. Essa alteração permite um deslocamento mais amplo das superfícies articulares que, só se tornam completamente ossificadas na vaca, quando essa atinge quatro a cinco anos de idade.

A entrada da pelve na espécie bovina é, normalmente, de formato oval, tendo como maior diâmetro o sacropubiano. O tamanho da mesma varia, enormemente, de acordo com a raça, a idade e o tamanho do animal. Seu diâmetro, normalmente, supera, em 5 a 6 cm, os diâmetros biilíacos superior e inferior, em geral de mesmo valor. A porção caudal da pelve é mais regular, possuindo diâmetros praticamente iguais, e sendo mais estreita. No entanto, no momento do parto ela apresenta grande capacidade de dilatação, em consequência do relaxamento dos ligamentos pélvicos, especialmente o sacro-isquiático. O relaxamento desses ligamentos é um indicador da aproximação do momento do parto.

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Crescimento e desenvolvimento

O tamanho efetivo da cavidade pélvica pode ser obtido por meio do conhecimento da altura da pelve, ou medida sacropubiana e largura da pelve, ou biilíaca média que, multiplicadas, fornecem a medida da área pélvica.

A área pélvica da espécie bovina cresce em uma taxa quase constante nos animais de 9 a 24 meses de idade, sendo esse crescimento um pouco mais acelerado entre 10 a 15 meses, e reduzido dos 16 aos 24 meses de idade. Nas raças européias, o crescimento diário chega a 0,25 cm²/dia.

É importante ressaltar a importância do manejo e do regime alimentar a que os animais são submetidos durante a fase de crescimento pélvico, pois acredita-se que esses possam afetar a taxa de crescimento e dimensões pélvicas.

 

Pelvimetria

A pelvimetria é realizada, direta ou indiretamente, para determinação das dimensões pélvicas, permitindo que, com o conhecimento das mesmas, possa-se prever ou evitar dificuldades no momento do parto. No estudo da pelvimetria, duas medidas são de fundamental importância: o Diâmetro Conjugado Verdadeiro, ou a medida sacropubiana; e o Diâmetro Biilíaco Médio.

Na pelvimetria direta, utiliza-se a palpação retal para mensuração da pelve bovina, da medida sacropubiana (distância entre o relevo ventral do corpo das últimas vértebras sacrais e a protuberância localizada na sínfise púbica) e da medida biilíaca superior (distância entre as faces internas dos corpos dos ílios imediatamente abaixo ao sacro); média (maior distância interna entre os braços dos ílios); e/ou inferior (distância entre os corpos dos ílios próximos ao acetábulo). A mensuração é realizada por meio de um pelvímetro, atualmente disponível em quatro versões: manuais, o de Menissier-Vissac e o de Rice (figura 2); ou pneumáticos/hidráulicos, o Krautmann- Litton (produzido por Jorgensen Labs.) e o Equibov-Litton (produzido por Equibov). Todos são utilizados por meio da inserção do aparelho no reto do animal e da leitura das medidas de interesse realizadas externamente. O cuidado necessário durante a realização da mensuração deve ser o mesmo tomado durante qualquer outro tipo de exame retal, sendo fundamental que o examinador conheça profundamente a anatomia bovina. Depois de algum tempo de prática e experiência consegue-se obter a acurácia necessária para a realização das mensurações com a precisão necessária.

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A pelvimetria indireta se baseia no princípio da correlação entre área pélvica e outras estruturas corporais, como altura de cernelha, comprimento, circunferência torácica (peso) do animal, e conformação externa da pelve, como distância entre os ílios, dentre outras (Figuras 3 e 4). No entanto, trabalhos em diversos países, e mesmo no Brasil, demonstram que a correlação entre medidas externas corpóreas gerais e internas pélvicas dos bovinos é, na maioria das vezes, não muito significativa ou muito variada para diferentes raças, e entre nulíparas, primíparas e pluríparas.

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Funções da Pelvimetria

A área pélvica pode ser considerada como a variável de maior influência na dificuldade de parto. Assim, a maioria dos casos de distocias resulta da incompatibilidade entre o tamanho do bezerro e a abertura pélvica da mãe, por peso excessivo do feto ou área pélvica materna insuficiente. Essa incompatibilidade pode acarretar obstrução no momento de expulsão do feto, especialmente nas primíparas, e talvez em maior proporção nas fêmeas de raça de corte que naquelas de raças leiteiras. Nesse contexto, a pelvimetria se apresenta como uma ferramenta de grande utilidade, podendo ser utilizada na redução da incidência das distocias nos rebanhos bovinos.

Baseando-se no fato de que o crescimento da pelve bovina pode ser estimado em 0,27 cm²/dia entre 10 e 14 meses de idade, e que a heritabilidade da área pélvica é alta, recomenda-se que as novilhas sejam avaliadas para o tamanho de pelve, por meio da pelvimetria direta, antes da estação de monta ou da época de reprodução da propriedade. Os animais com pelve pequena podem ser descartados do rebanho ou separados para serem acasalados com touros que apresentem alta facilidade de parto comprovada.

Outra indicação, seria a avaliação da pelve e suas medidas para estimativa do peso do bezerro que uma novilha pode conseguir parir sem apresentar grande dificuldade. As medidas da pelve das novilhas podem ser realizadas por pelvimetria direta, antes da época de cobertura, ou mesmo durante o exame para confirmação da gestação. Deverão ser levados em consideração a idade e o peso da novilha para a estimativa do peso do bezerro que esta será capaz de parir sem dificuldade.

A pelvimetria também pode ser utilizada para predição da dificuldade de um parto, comparando-se o tamanho da pelve materna (altura e largura) com a circunferência do casco do feto no momento do parto (método desenvolvido por M. V. Ruble, 1990), levando-se em conta a correlação significativa entre a circunferência do casco e peso dos bezerros, tanto filhos de novilhas, quanto de vacas. A predição é obtida por uma fórmula matemática, para cálculo da dificuldade de parto (EPDP), envolvendo as medidas da pelve da mãe (obtidas dentro das três semanas que antecedem o parto) por meio de um pelvímetro, e a medida da circunferência do casco do feto, durante o segundo estágio do parto (quando um dos cascos dos membros anteriores encontra-se acessível). O casco é medido com uma fita métrica, colocada ao redor da banda coronária do casco anterior, obtendo-se a medida em centímetros.

O EPDP entra em uma de quatro categorias indicativas  - sem necessidade de assistência, com assistência manual, assistência mecânica, ou cesariana (Quadro 1). Geralmente, nos casos em que a circunferência do casco anterior do feto excede, em três centímetros, a média entre a largura e a altura da pelve materna, a cesariana é a indicação. No caso de novilhas, as medidas da pelve podem ser realizadas antes da cobertura ou no momento do exame para confirmação da gestação.

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Considerações finais

A grande frequência das distocias, suas implicações obstétricas e consequências econômicas representam motivo suficiente para a aplicação de diferentes técnicas e atuação em vertentes distintas na tentativa de evitá-las. Assim, o conhecimento de valores pelvimétricos, com utilização da pelvimetria direta, e a aplicação do EPDP demonstram-se como ferramentas úteis na verificação da predisposição individual ou prevenção de possíveis distocias. Além disso, é uma opção de baixo custo e facilmente incorporável à rotina do manejo reprodutivo/obstétrico de um rebanho. 

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