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Produção leiteira eficiente: retrospectiva e perspectiva de dados

A análise dos dados retrospectivos encerra o ciclo anterior e orienta as expectativas lançadas sobre o novo ciclo de produção leiteira eficiente e consciente.

Produção leiteira eficiente: retrospectiva e perspectiva de dados

A análise dos dados retrospectivos encerra o ciclo anterior e orienta as expectativas lançadas sobre o novo ciclo de produção leiteira eficiente e consciente.

DE ACORDO COM O IBGE, A PRODUÇÃO DE LEITE BRASILEIRA FOI INFERIOR AO ESPERADO PARA 2022

O ciclo que passou

O ano que passou foi novamente desafiador para os produtores de leite brasileiros, pois além das incertezas que orbitaram a pandemia da Covid-19 – principalmente em função do recorde de casos no início do ano, da variante Omicron e da dúvida sobre a capacidade das vacinas amenizarem os efeitos do vírus –, os pecuaristas também foram impactados pela imprevisibilidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, especialmente a oferta de milho por parte da Ucrânia no mercado internacional, visto que o país era o terceiro maior exportador do mundo. Além disso, os produtores de leite transitavam de um 2021 marcado por margens apertadas, dado o aumento do custo de produção, principalmente do concentrado. Finalmente, a seca prolongada no primeiro semestre também agregou dificuldades ao cenário do ano. 

Diante do ambiente de indeterminações, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a produção de leite em 2022 seguiu abaixo do esperado. Os dados da Pesquisa Trimestral do Leite apontaram que a quantidade de leite industrializada até o terceiro trimestre de 2022 atingiu 17,5 bilhões de litros, valor 6,2% menor que os 18,6 bilhões de litros adquiridos pela indústria até o terceiro trimestre de 2021. Ressalta-se que o volume adquirido pela indústria até o terceiro trimestre de 2022 é o menor desde 2016 (16,9 bilhões de litros). Apesar disso, observando os dados anuais da Pesquisa Pecuária Municipal, a oferta brasileira total de leite é crescente desde 2017, passando de 33,3 bilhões de litros para 35,3 bilhões de litros em 2021, o que representa aumento de 6,0% no período. 

A Figura 1 ilustra a quantidade de leite industrializado até o terceiro trimestre de 2017 a 2022 e a quantidade de leite total produzida entre 2017 e 2021, bem como a projeção da produção total de leite em 2022, considerado o cenário de queda mantido até o final do ano. As quantidades foram expressadas em bilhões de litros de leite.

 

Com base na expectativa de recuo na produção de leite em 2022, o que dizer do outro componente de receita dos pecuaristas, o preço? Em termos reais, o preço médio do litro de leite pago ao produtor brasileiro em 2022 foi cotado 12,5% acima do preço médio observado em 2021, chegando a atingir R$ 3,50 por litro, em média, no final do período da seca, em agosto – maior valor já registrado na história. O preço real médio do litro de leite Spot em Minas Gerais, que representa a comercialização de leite entre os laticínios do estado e pode ser bom indicador da oferta de leite por parte do produtor, chegou a atingir R$ 4,41 por litro, em julho de 2022. 

A Figura 2 representa a evolução do preço real pago ao produtor por litro do leite no Brasil e da média anual entre janeiro de 2020 e novembro de 2022, deflacionada pelo IGP-DI de novembro de 2022. Vale ressaltar que, em novembro de 2022, o preço pago ao produtor atingiu a média de R$ 2,70 por litro e, apesar da queda de 29,7% em relação a agosto de 2022, ainda se encontra acima do maior valor observado no ano anterior, em setembro de 2021, quando atingiu a média de R$ 2,56 por litro. Em termos de receita, apesar da queda na oferta de leite industrializado até o primeiro trimestre de 2022, em comparação ao mesmo período de 2021, o preço médio pago ao produtor ainda se encontrou acima da média do ano anterior, o que proporcionou alívio aos pecuaristas que conseguiram manter sua produção.

Com relação aos custos de produção, desde o último trimestre de 2020, os produtores de leite vêm sofrendo com as altas dos preços do milho e da soja. Mas, como o poder de compra desses insumos se comportou em 2022? A média de preços reais das sacas de 60 kg de milho e soja entre janeiro e novembro de 2022 variaram -13,2% e 0,2%, respectivamente, em relação às médias observadas no mesmo período de 2021.


Com isso, houve melhora considerável na relação de troca dos pecuaristas em 2022. A Figura 3 mostra a relação de troca entre litros de leite e saca de 60 kg de milho, soja e mistura (70% milho e 30% soja), entre janeiro de 2020 e novembro de 2022. Em vermelho, destacam-se as maiores relações de troca do período. Como é possível perceber, as relações de troca para milho, soja e mistura atingiram 31,5, 69,0 e 42,1 litros de leite por saca, respectivamente, em novembro de 2022 – as quais representaram as diferenças de -26,2%, -12,9% e -20,7%, em comparação à média de 2021.

O ciclo que começou 

Em termos de perspectivas de oferta de leite para 2023, uma vez que a partir de 2015 houve redução de 30,8% vacas ordenhadas, o crescimento da oferta de leite foi baseado nos ganhos em produtividade, a qual aumentou 45,2%, em média, no mesmo período. Esse ganhos são, também, resultado de investimentos em tecnologia e assistência técnica. As previsões do Banco Central brasileiro mostram que a taxa Selic, indexador para investimentos no país, deve permanecer elevada, sendo cotada à 11,50% ao ano – apenas 2,25 pontos percentuais abaixo dos valores atuais, o que dificulta muito a tomada de crédito por parte dos pecuaristas. Pelo lado da captação, os dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostraram retomada da oferta de leite desde julho de 2022, atingindo, em outubro, patamar próximo ao observado no final de 2020. Pelo lado dos custos de produção, a expectativa é que tanto a produção de milho quanto a de soja prosperem no próximo ano e atinjam novos recordes históricos. Com isso, há tendência à maior oferta dos produtos no mercado e, por consequência, redução nos preços das sacas, o que configura potencial de melhora na relação de troca para o pecuarista. Apesar disso, também há expectativa de que o dólar se mantenha em patamar elevado em 2023, de forma a aumentar a competitividade das commodities brasileiras no mercado internacional.

 COM A REDUÇÃO DO NÚMERO DE VACAS ORDENHADAS, O AUMENTO DA OFERTA DE LEITE FOI BASEADO NO GANHO EM PRODUTIVIDADE 

Ainda que as apostas para 2023 sejam repletas de incertezas, espera-se um ano menos volátil em preços de produtos e insumos. Apesar disso, o produtor de leite brasileiro deve ficar atento às possibilidades de ganhos em: produtividade (favorecida pela melhora na relação de troca para milho e soja, por exemplo), descartes estratégicos de matrizes (condicionados ao preço do boi gordo no cenário nacional) e, por fim, compras estratégicas (conforme preços dos principais componentes do custo de produção, o milho e a soja). Com os dados retrospectivos analisados e as expectativas lançadas, a atividade leiteira brasileira está renovada para avançar rumo à produção eficiente e consciente. Seja bem-vindo, novo ciclo!

 



GUILHERME FONSECA TRAVASSOS- Consultor Externo Labor Rural

LILIAM FONTES GROSSI LINO - Supervisora de projetos Labor Rural

CHRISTIANO NASCIF - Diretor Labor Rural e Superintendente SENAR Minas


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