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Clínica do Leite

Uma pergunta simples: A qualidade do leite tem melhorado nos últimos anos?

Uma pergunta simples: A qualidade do leite tem melhorado nos últimos anos?

Texto: Laerte Dagher Cassoli

Estamos chegando ao quarto artigo sobre qualidade do leite publicado aqui na Revista Leite Integral. Até agora já abordamos sobre a IN-51/62, sobre a coleta de amostras de tanque e também sobre o monitoramento de fraudes. Até então, temos recebido comentários positivos sobre os artigos vindo de produtores, consultores e técnicos das indústrias de laticínios. Nessa edição, iremos tentar responder a uma pergunta que frequentemente é feita à nossa equipe da Clínica do Leite: “Mas e aí? A qualidade melhorou ou não nos últimos anos?”. Aparentemente, trata-se de uma pergunta simples que poderia ser respondida sem mais delongas. No entanto, a sua resposta necessita de uma análise intensa e cuidadosa sobre o banco de dados de resultados de análise. Ao longo deste últimos 2 meses, fizemos um estudo, o qual iremos apresentar nesse artigo para que possamos responder, de forma técnica e científica, se a qualidade melhorou ou não ao longo dos últimos anos. Desejamos a todos uma boa leitura.

O banco de dados da Clínica do Leite – ESALQ/USP

Como apresentamos no primeiro artigo publicado aqui na Revista Leite Integral (Qualidade do Leite: da 51 a 62 - onde estamos e para onde vamos?), a Clínica do Leite monitora leite de cerca de 366 indústrias localizadas principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, mas também em Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul e Bahia.  O programa de monitoramento iniciou-se em 2002/03 e intensificou-se após 2005 com a IN-51. No início, eram menos de 15 indústrias com cerca de 2.000 produtores monitorados. Esse número foi aumentando a cada ano e hoje (junho de 2012), atingimos cerca de 40.000 fazendas com pelo menos uma análise mensal.

 

Variáveis de avaliação da qualidade do leite e seleção de produtores

Para este estudo, utilizamos duas variáveis de avaliação da qualidade do leite - a contagem bacteriana total (CBT) e a contagem de células somáticas (CCS). Foi considerado o periodo de 2007 a 2012 (até junho 2012), e para cada produtor selecionado, foi calculada a média geométrica anual para CCS e CBT.

Em relação aos produtores selecionados, temos que destacar aqui qual foi o critério utilizado, tendo como objetivo responder à pergunta inicial: “A qualidade do leite melhorou nos últimos anos ?”. Para responder a essa pergunta temos que analisar sempre a mesma população de produtores durante os anos de 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012. Portanto, selecionamos somente produtores que tiveram análise durante os 5 anos consecutivos. Assim, poderemos analisar se de fato houve alteração na qualidade do leite.

Além disso, incluimos nesta avaliação o fator “Programa de valorização por qualidade (PVQ)”, ou seja, dividimos os produtores em dois grupos: Grupo A (produtores cujas indústrias compradoras remuneram por qualidade - PVQ) e Grupo B (produtores cujas indústrias compradoras não remuneram por qualidade - SPVQ). Com essa análise poderemos verificar se os produtores com PVQ apresentaram uma melhoria da qualidade mais intensa que os demais.

 

Resultados observados

Na tabela 1, são apresentados o número de produtores que tiveram resultados de análise durante os 5 anos (2008, 2009, 2010, 2011 e 2012), tanto para CCS quanto para CBT. Como podem observar, trata-se de um número significativo de produtores, quase 10 mil,  acompanhados durante os 5 anos. Como o ano de 2012 ainda não se encerrou, iremos considerar apenas até o ano de 2011 para fazermos as nossas considerações.

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Para cada ano e grupo, distribuimos os produtores de acordo com determinadas faixas (classes) de CCS e CBT. Do ponto de vista analítico, a distribuição dos produtores por faixas é a melhor maneira de se caraterizar a população estudada.

No Gráfico 1, apresentamos a distribuição para CBT de produtores não submetidos a programa de valorização da qualidade (SPVQ).  Podemos notar que a porcentagem de produtores com CBT acima de 600 mil UFC/mL diminui significativamente de 49% em 2008 para 33% em 2011 (redução de 32%). Se considerarmos o limite de 100 mil, tinhamos 15% de produtores “conformes” em 2008, sendo que em 2011 esta proporção subiu para 23% (aumento de 50%). Fica evidente, portanto, a melhoria na CBT ao longo dos 5 anos, mesmo para produtores que não estavam submetidos a um PVQ.

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Já no Gráfico 2, temos a mesma distribuição para produtores que estavam submetidos a um PVQ.

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Considerando o limite de 600 mil UFC/mL, tinhamos uma porcetagem de 17% dos produtores em 2008, contra apenas 8% em 2011 (redução de 52%). Por outro lado, considerando o limite de 100 mil UFC/mL, em 2008 tínhamos 53% dos produtores “conformes”, contra 65% em 2011 (aumento de 30%). Assim como os produtores sem PVQ (SPVQ), produtores submetidos a PVQ apresentaram uma melhora significativa na qualidade do leite quanto a CBT.

A velocidade na qual ocorreu esta melhoria pode ser questionável, visto que estamos falando de 5 anos e de uma variável (CBT) que tecnicamente é uma das mais fáceis de serem trabalhadas.

Vale ainda ressaltar aqui a diferença que existe entre produtores submetidos ou não a programas de valorização da qualidade. Observem que abaixo de 100 mil UFC/mL (limite que será adotado em 2016), quase 70% dos produtores que recebem por qualidade, já estariam conforme,  contra apenas 23% dos que não recebem por qualidade.

E quanto a CCS? Será que também estamos observando uma melhoria significativa? No Gráfico 3 é apresentada a distribuição de CCS dos produtores não submetidos a um PVQ (SPVQ).

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Diferentemente da CBT, a porcentagem de produtores acima do limite de 600 mil cels/mL não se alterou e, inclusive, sofreu aumento, passando de 21% em 2008 para 26% em 2011. Se considerarmos o limite de 400 mil cels/mL (que passará a valer em 2016), tinhamos 55% dos produtores “conformes”  em 2008 e 50% em 2011. Por meio desses resultados, podemos concluir que a qualidade do leite não melhorou quanto a CCS, no grupo de produtores que não recebem por qualidade (SPVQ). Mas, e os que recebem por qualidade? Será que melhoraram a CCS visto que foram incentivados financeiramente para isso?

Como podemos observar no Gráfico 4, também não houve qualquer tipo de melhora na qualidade do leite quanto a CCS, mesmo no grupo de produtores que foi “incentivado”.

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Da mesma forma, diferentemente da CBT, para CCS não existe diferença na distribuição dos produtores com ou sem PVQ. 

Tal comportamento sugere que existam outros fatores que influenciam na redução da CCS, que não o PVQ.  Somado a isso, sabemos que o controle da mastite é um tema complexo e que exige um esforço muito grande por parte do produtor.

 

Conclusões

Como pudemos observar por meio dos resultados aqui apresentados, nota-se uma melhoria da qualidade quanto a contagem bacteriana total nos últimos anos, talvez numa velocidade não tão grande como poderíamos imaginar. Além disso, produtores com PVQ possuem um leite com menor CBT. Já para CCS, nota-se que não houve qualquer tipo de melhoria nos últimos anos, o que comprova que o controle da mastite ainda é um dos grandes desafios dos produtores e técnicos. 

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